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Balaio do Kotscho

A vida confinada no mundo virtual, com bom humor e sem futebol

Colunista do UOL

16/03/2020 14h10

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Velho, gordo, careca e fumante, 72 anos, fui confinado em casa pelas próprias filhas porque sou do chamado grupo de alto risco, principalmente para os outros.

"Você vai ficar pelo menos duas semanas sem sair de casa. A gente leva comida para você", foi a ordem que recebi, sem direito a resposta.

Só agora, quase uma hora da tarde de segunda-feira, consegui me livrar dos zap-zap do celular, que não parou de apitar desde cedo porque, justo hoje, é meu aniversário, confinado aqui em casa e sem poder receber visitas.

Ao abrir o computador, vi que os amigos e leitores do Balaio já tinham mandado mais de mil mensagens. Nunca tinha recebido tantos cumprimentos, nem quando ocupava cargos de chefia na grande imprensa.

Vai ver, devem achar que não vou durar muito mais, e por isso resolveram dar um amparo solidário ao velho, trancado em casa nestes dias insanos, tristes e sombrios que estamos vivendo.

Vou deixar para ler tudo com calma no final do dia, depois do serviço.

De um dia para outro, os hábitos da gente vão mudando e se adaptando à nova realidade. Não tem outro jeito.

Pela primeira vez em muito tempo, no domingo, assisti ao "Fantástico" do começo ao fim, uma verdadeira obra-prima do jornalismo de prestação de serviços sobre a pandemia.

Dizem que coincidências não existem, mas uma das primeiras mensagens que recebi hoje foi do Ernesto Paglia, o velho e bom repórter "Palha" dos tempos em que eu trabalhava na rua, um dos dinossauros da Globo, que participou desta brilhante cobertura do coronavírus.

Foi ele quem me deu a ideia de escrever este texto. "A vida online é muito curiosa, Kotscho. Rende pauta. Já vejo matéria vindo aí... Meus primos italianos, pouco ligados em zap, de repente, ficaram muito conectados! A vida nas quarentenas transborda para a rede".

É verdade, caro Paglia. Pois o repórter se animou tanto com o assunto que acabou quase escrevendo a matéria para mim.

"Cá entre nós, não substitui o contato direto. Mas, que tempos mágicos vivemos, hein? Filmes, livros, jornais do mundo todo, amigos e parentes dos quatro cantos [eu recebi mensagem até em alemão...], piadinhas, acesso livre a conteúdos incríveis (a Filarmônica de Berlim, os museus europeus, até veículos de comunicação baixando o fire-wall para dar acesso às informações sobre o vírus".

O único receio dele é o mesmo que eu tenho, como já escrevi aqui no Balaio semana passada.

"Só não pode dar pau na internet! Agora há pouco, minha filha e minha mulher vieram ao escritório com olhos injetados. Ernesto! Pai! Você mexeu na internet? ( e o pior é que eu tinha mexido mesmo, e derrubei a bendita conexão). Uma, tendo aula de inglês, a outra, aula da escola online... Quase apanhei! Pois é... o mundo todo numa janelinha... haja foco!"

Paglia descobriu na internet até um curso de meditação de graça por 14 dias, ao vivo, direto de um estúdio em Nova York.

E ele já pensa até no que virá depois do tsunami viral:

"Passada a pandemia, ninguém mais vai querer sair de casa. Nem pagar por serviços online..."

Importante é não perder o bom humor, algo que nunca faltou ao amigo gozador. Fazer cara feia não resolve problema algum, não melhora nada.

No mesmo grupo de zap, veio essa do publicitário Persio Pisani:

"Tenho tanta informação do coronavírus no meu celular, que ele nem vibra mais, ele tosse"!.

Logo em seguida, entrou Mario Vitor Santos, ex-ombudsman da Folha, hoje um dos chefes da Casa do Saber:

"Nossa empregada acabou de ligar, pra avisar que vai trabalhar de casa! Mandará instruções do que devo fazer".

Para não perder a viagem, Ernesto Paglia mandou essa:

"Vou dar a minha contribuição. Toque de recolher digital pela próxima meia hora".

Ninguém obedeceu.

Meu parceiro Ricardo Carvalho, com quem vou fazer um programa no Youtube em breve, quando for desconfinado, me mandou essa contribuição para a coluna:

"Agora que os velhos vão ficar em casa por causa do coronavírus alguém sabe se já pode estacionar na vaga deles?".

Boa ideia. Há males que vem pra bem. Dá pra faturar um dinheirinho...

Até este momento, só reclamei do cancelamento dos jogos de futebol. bem agora que o meu São Paulo engrenou e já pinta como campeão.

Era minha maior diversão no confinamento, mas também não se pode querer tudo.

Chegou a entrega do sanduíche do almoço.

E vida que segue.