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Balaio do Kotscho

Dr. Mandetta volta ao baixo clero e vira mais um Bolsonaro

Colunista do UOL

24/03/2020 17h22

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Catapultado a novo herói nacional de um dia para outro, em lugar de Sérgio Moro, que sumiu, o ortopedista Luiz Henrique Mandetta, ex-deputado do DEM do Mato Grosso do Sul, já está caindo na vala comum do governo.

Do médico sério, que assumiu com competência o comando do combate ao coronavírus, nos últimos dias ele voltou a ser apenas mais um político do baixo clero.

Enquadrado por Bolsonaro, ele passou a se preocupar mais com o desastre causado pela pandemia na economia, como o seu chefe, do que com o avanço célere do coronavírus no Brasil.

Dr. Mandetta deu um cavalo de pau no seu discurso, depois que ficou mais popular do que o presidente, e causou uma ciumeira danada, como comentou aqui no UOL a minha colega Thaís Oyama, em sua coluna de hoje. Agora, ele já acha que até os templos podem continuar abertos.

De repente, ele passou a atacar os governadores, como o seu chefe, pelas restrições adotadas nos Estados, que seriam "péssimas" para o setor de saúde.

Após conferência com governadores do Centro-Oeste e do Sudeste, na manhã desta terça-feira, ele saiu falando que o fechamento de rodovias e aeroportos podem atrapalhar o funcionamento de fábricas de equipamentos médicos.

"As ações precisam ser sincronizadas e não devem ter motivações políticas", reclamou, como se os governadores só estivessem pensando nas próximas eleições, o mesmo discurso de Bolsonaro.

Ao voltar a vestir o figurino de político de varejo, em lugar do jaleco do SUS, Dr. Mandetta criticou os políticos, como o seu chefe vem fazendo.

"Tenho visto prefeitos com eleições na frente. Teve um que me ligou e falou que já tinha fechado mercearia, borracharia e açougue. Eu perguntei o porquê e ele me disse que o cara da oposição tinha dito na rádio que, se ele não fechasse, estava errado".

E daí? O que isso tem a ver com o isolamento social que o ministro mesmo defendeu com veemência nas últimas semanas, para evitar a propagação do vírus?

"Tem médicos fechando consultórios", constatou Mandetta, recomendando que ninguém deve deixar de ir às consultas marcadas. Mas, nós idosos, não estamos proibidos de sair de casa para não espalhar o vírus ou ser contaminado por ele?

O que mudou? "Daqui a pouco estou lá cuidando de um vírus, mas cadê o pré-natal? Cadê o cara que está fazendo a quimioterapia? Não dá para dizer o que é essencial", tentou argumentar..

Desconhecido da maioria da população até o início do ano, com suas falas técnicas e ponderadas na televisão, ao contrário do seu chefe, em que mostrava a gravidade da pandemia que se alastrava pelo país, chamada por Bolsonaro de "gripezinha", Mandetta chegou a dar esperanças de que, enfim, havia um adulto em meio ao furdunço juvenil miliciano instalado no Planalto.

Em sua nova fase de pura demagogia, o doutor prometeu hoje mandar 2,3 milhões de testes moleculares aos Estados para detecção do coronavírus, com produção própria da Fundação Oswaldo Cruz.

Até agora, porém, a fundação ligada ao Ministério da Saúde produziu apenas 30 mil testes e deve chegar a 50 mil no final do mês, podendo triplicar a quantidade em abril, segundo informações da própria instituição.

Dizer uma coisa hoje e outra ao contrário amanhã, chutar números como quem está jogando na mega-sena e vender ilusão é uma característica deste governo, à qual o Dr. Mandetta sucumbiu e incorporou rapidamente.

É uma pena. Vista de novo o jaleco do SUS, doutor. Nós precisamos confiar em alguém.

Vida que segue.