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"Eu me sinto enjaulado, com o mundo caindo na minha frente", diz David Uip

Colunista do UOL

28/03/2020 14h11

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Em mensagem de áudio que enviou a amigos do Ministério Público para agradecer a solidariedade, o médico infectologista David Uip, coordenador do combate à pandemia de coronavírus em São Paulo, contou como está se sentindo no quinto dia de quarentena.

Ainda com falta de fôlego, falando devagar, Uip não esconde que no começo sentiu medo, como qualquer pessoa.

"É uma doença chata, mas estou bem, sem febre. Eu brinco que me sinto enjaulado com o mundo caindo na minha frente... Controlei o medo com fé e paz na alma. Minha mensagem para vocês é que quero voltar logo a trabalhar. Ainda tenho uma missão a cumprir".

Atento ao noticiário, o médico diz que está havendo confusão na mídia na contagem dos casos de coronavírus.

"Uma coisa é a infecção, que pode ser tratada com facilidade, e não entra nas estatísticas. Outra coisa são os casos de infecções graves com internação em hospital. Hoje o Brasil só divulga esses casos graves, mas ainda não atingimos o pico da doença, que deve acontecer nos meses de abril e maio, trazendo grandes dificuldades para os sistemas públicos e privados de saúde".

Com sua experiência pessoal, Uip hoje diz que a falta de ar deve preocupar as pessoas, mais do que a febre ou qualquer outro sintoma.

"Quem sente desconforto respiratório deve logo procurar os serviços de saúde. Se conseguirmos manter o distanciamento social, teremos menos infectados. Caso contrário, teremos uma subida rápida que nenhum sistema de saúde do mundo tem condições de enfrentar".

David Uip não falou sobre a campanha do governo federal que defende exatamente o contrário, com a reabertura do comércio e das escolas.

Como médico e, agora, também no papel de paciente, falou que descobriu sintomas novos em relação a outras gripes, como a falta de olfato e de paladar.

"É uma espécie de gripe seca. É sofrido, é doido, mas vamos em frente", disse no final do áudio.

Para quem sempre gostou muito de falar, e já foi comentarista de saúde na equipe de Heródoto Barbeiro, na Record News, o silêncio compulsório deve ser para ele o maior sofrimento.

Vida que segue.