Mito X Moro, Viúva Porcina X guru Olavo e a pandemia que se alastra
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Cada vez fica mais difícil separar ficção de realidade, em meio à pandemia de coronavírus que se alastra pelo país, multiplicando o número de mortos e contaminados, enquanto o governo está mais preocupado com outros assuntos para distrair a plateia.
No mundo de fantasia do realismo mágico em Brasília, já começou a próxima disputa presidencial entre Mito e Moro, como revela matéria da Folha Online nesta quarta-feira.
"É candidatíssimo", constatou o presidente numa conversa reservada sobre o destino do ex-ministro, dias após a sua demissão.
Bolsonaro disse ter certeza de que Moro será seu adversário na eleição de 2022.
"Para o presidente, antes mesmo de decidir sair do governo, o ex-juiz já planejava uma candidatura presidencial", informa o jornal.
Dá para acreditar nisso? Sem saber como nem se vai chegar ao final do mandato, o presidente improvável só pensa na reeleição, até mais do que nas investigações sobre os filhos.
No mundo real, as pessoas têm outras preocupações. Saber, por exemplo, até quando vai o isolamento social, se ainda está valendo ou não, se é para cumprir as ordens do prefeito, do governador ou do presidente, porque o Ministério da Saúde virou uma esbórnia só desde a saída de Mandetta.
O novo ministro não tem a menor ideia do que está acontecendo. Deveria saber, por exemplo, que quase todos os estados brasileiros, com exceção do Amazonas, tiveram aumento no fluxo de pessoas e de carros nas últimas semanas. Algumas cidades já entraram em lock down, outras estão estudando o que vão fazer. .
No auge da pandemia, dados de localização divulgados pelo Google mostram que a maior aglomeração de pessoas coincide com o aumento exponencial da curva de óbitos e casos confirmados de Covid-19.
Ou seja, venceu a tese do presidente Bolsonaro e das caravanas da morte: o importante é todo mundo voltar a trabalhar logo para salvar a economia. É o melhor caminho para não salvar uma coisa nem outra, nem o emprego, nem a vida.
De volta à ilha da fantasia, como se não tivesse nada de mais importante para fazer, o presidente participou de um longo almoço com a ainda secretária da Cultura Regina Duarte, e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, o dos laranjais, a quem a atriz é subordinada.
Para animar a conversa, Bolsonaro teve a ideia de convocar também o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, um desafeto da secretária, que se apresenta como um "negro de direita", para quem não há racismo no Brasil e a escravidão foi benéfica aos descendentes dos escravos.
Na véspera, o presidente já tinha feito outra desfeita à secretária, ao renomear o maestro Dante Mantovani para a Funarte, demitido por Regina no dia da sua posse.
Mantovani se notabilizou em seu breve período à frente da Funarte, na gestão do göbbeliano Roberto Alvim, por um vídeo em que associou o rock ao satanismo e ao aborto a serviço do comunismo.
O general Braga Netto, chefe da Casa Civil, teve que assinar a renomeação e a nova demissão de Mantovani, no mesmo dia.
Regina até desconfiou que estava sendo demitida, mas se fingiu de morta na reunião e ouviu o chefe dizer que "ou você adere às minhas ideias, ao meu governo, que é conservador, ou a porta está aberta", segundo a CNN. Em outras palavras, ela vai ter que escolher de que lado fica na "guerra cultural" deflagrada pelo governo. Se puder, vai ficar em cima do muro.
Eternizada como a "Viúva Porcina", aquela que foi sem nunca ter sido, personagem da novela Roque Santeiro, de Dias Gomes, censurada em 1975 e levada ao ar só dez anos depois, Regina saiu do almoço sem dizer se sai ou se fica, deixando o suspense no ar para os próximos capítulos.
Como se fizesse alguma diferença, a essa altura do campeonato brasileiro, se a atriz vai voltar ao ostracismo ou continuará se humilhando num governo que entregou a Cultura ao comando da "ala ideológica" do guru Olavo de Carvalho e do filho Carlos Bolsonaro, que querem vê-la pelas costas.
Quando soube da nomeação de Regina, no começo do ano, o ator Lima Duarte, o "Sinhozinho Malta", um coronel sem escrúpulos de uma cidade fictícia do sertão nordestino, que contracenou com ela na novela de Dias Gomes, achou engraçado:
"Eu acho que para o Brasil de hoje ficou ideal: é Sinhozinho Malta na presidência e a Víúva Porcina no ministério".
Que triste papel dessa senhora, que já foi a "namoradinha do Brasil" e hoje é criadora de gado.
Vida que segue.
No mundo real,
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