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Balaio do Kotscho

Notícia boa: após 63 dias confinado, volta o futebol, mas só o alemão

Colunista do UOL

16/05/2020 16h07

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"Bom dia, pessoal. Aqui Luiz Ruffato em sua ronda diária".

Ruffato não falha. Entre cinco e seis horas da manhã, o festejado amigo escritor envia sua mensagem para os confrades da Academia Perdiziana de Letras e Litros, um dos meus muitos grupos no celular, que me mantém ligado ao mundo nestes dias de confinamento.

Um a um, vão entrando os outros integrantes da turma para dar bom dia, o jeito de mostrar que ainda estão vivos.

Neste sábado, o prolífico Frei Betto mandou um cartum com o diálogo de dois amigos numa ilha deserta:

_ O que vai fazer hoje?...

_ Nada.

_ E já não fez isso ontem?

_ Sim!... Mas não terminei.

Esta semana completei dois meses sem por os pés nem no elevador, sem saber quando vou sair daqui. É como uma prisão domiciliar em que a pena está em aberto. Não basta a gente ter bom comportamento. Dependemos dos outros, e a humanidade não está se comportando bem.

Meio idoso, gordo e fumante, faço parte do grupo de alto risco. Não posso me arriscar a sair à rua, ainda mais agora que as pandemias do coronavírus e do bolsovírus estão chegando ao ponto de ebulição, matando cada vez mais gente.

Nem dá para saber qual dos dois é pior e mais contagioso.

Estou cumprindo a promessa que fiz à minha filha caçula, a cineasta Carolina, que me deu uma intimada no longínquo dia 13 de março:

"Pai, você tem que me garantir que não vai sair daí nem receber ninguém. Esse negócio não é brincadeira".

Em troca, ela não deixa faltar nada em casa. Meu kit de sobrevivência é pequeno: além de comestíveis e bebíveis, não podem faltar capsulas de café expresso e cigarros.

Para falar bem a verdade, a quarentena nem fez muita diferença na minha rotina, pois antes da pandemia eu já saia pouco de casa. Com artrose progressiva nos dois joelhos, estou cada vez com mais dificuldade para andar.

Mal saia do meu quarteirão para ir ao bar da esquina, à farmácia, ao mercadinho ou ao ponto de táxi.

Eu já estava trabalhando em casa faz tempo, apenas vez ou outra me arriscava a fazer alguma "reportagem externa" para a Folha. Há tempos não tenho mais carro, o que limita meu raio de ação.

Ficar velho é uma merda, como dizia Tonia Carrero, mas a opção é pior... Então, é melhor acordar sempre mais um dia, outro dia, e assim a gente vai enganado o destino.

Como todo mundo, sinto falta da minha liberdade e de conviver com a família e os amigos, de ouvir e contar histórias, que é o que fica depois de passar a vida inteira viajando pelo Brasil e e por meio mundo de todos os continentes. Pior de tudo é não ter nem futebol ao vivo para ver na televisão.

Sem correr riscos, enquanto a pandemia se espalhava por toda parte, só tinha medo de ficar sem o computador e o celular, minhas ferramentas de trabalho.

Pois foi o que aconteceu esta semana: os dois pifaram ao mesmo tempo.

Entrei em panico. Foi como se tivessem me tirado da tomada. Sem eles, não poderia nem avisar que continuava vivo e pedir comida no delivery.

Sem ter a menor ideia do que fazer, e como não entendo nada destas tecnologias modernas, fui dormir.

Minhas filhas não podiam me ajudar porque elas também estão confinadas em suas casas e o técnico que me atendia se aposentou.

Só me restava ligar para a portaria e perguntar se alguém poderia me ajudar.

Em poucos minutos, meus fiéis guardiões, Marcelo e Cicero, não sei como, ressuscitaram os dois aparelhos e, graças a eles, estou aqui escrevendo esta crônica sem compromisso, para mudar um pouco de assunto, depois do massacre do noticiário nos últimos dias.

Acho que os caros internautas também não aguentam mais ler sempre sobre as mesmas desgraças, os mesmos personagens deletérios e salafrários, sem ter um minuto de refresco.

Por isso, peço que vocês também escrevam aqui na área de comentários sobre como estão cumprindo a quarentena ou não, pra gente falar de outras coisas.

Não só eu, mas vocês também andam muito repetitivos nos comentários deste Fla-Flu político sem fim. Vamos tentar, pelo menos neste neste fim de semana, conversar sobre a vida real.

Se vocês me ajudarem, amanhã poderei eu comentar o que os outros estão sentindo e pensando sobre esses dias tenebrosos, que não estavam previstos na agenda de ninguém.

Quando a gente menos espera, aparece uma notícia boa: hoje, por exemplo, o futebol ao vivo voltou na televisão, muito antes do que se esperava.

Ainda não é o nosso Brasileirão, mas o campeonato alemão, que está sendo transmitido ao vivo pela Fox e pela ESPN (na Folha, tem uma boa matéria sobre como está o campeonato e a tabela de todos os jogos)..

Eu ainda não vi, mas o amigo e colega Juca Kfouri, fanático como é, deve estar assistindo a todos os jogos, ainda sem torcida, os jogadores comemorando gol com os cotovelos. Pelo menos, é engraçado...

Depois, ele conta pra gente aqui no UOL.

Bom final de semana pra todos.

Vida que segue.