Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Empoderadas, milícias virtuais invadem as redes atacando com fake news

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

05/02/2021 16h18

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Pensei que era só comigo, mas ao dar uma olhada hoje nas áreas de comentários dos meus colegas, notei que se trata de um ataque sincronizado a todos os que não comungam com a cartilha do governo, qualquer que seja o tema tratado nas colunas.

Por isso, muitos jornalistas que escrevem na internet já fecharam o espaço para comentários, mas eu reluto em fazer o mesmo porque gosto de saber o que as pessoas estão pensando e debater com quem pensa diferente de mim.

Quem escreve todos os dias está sempre sujeito a críticas, claro. Nunca reclamei disso. Só que para tudo tem de existir um limite, a partir do qual fica inviável qualquer diálogo civilizado.

Depois de um breve refluxo no começo do ano, diante da catástrofe humanitária em Manaus e da lambança na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde, as milícias virtuais do bolsonarismo voltaram com tudo, invadindo as redes sociais com fake news, na tentativa de amedrontar e desmoralizar quem exerce um jornalismo crítico e independente.

Sentindo-se novamente empoderados, após a vitória de Bolsonaro nas eleições no Congresso, os robôs humanos se dedicam ao assassinato de reputações para defender seu líder.

Deram a isso o nome de "gabinete do ódio", que está sendo investigado pelo STF, mas o esquema é muito maior do que a gente pode imaginar, envolvendo centenas, talvez milhares de agentes, remunerados ou não, espalhados pelo país, para atacar os "inimigos" _ a imprensa livre, em todas as plataformas.

Inventam mentiras, chutam números sem citar fontes, ofendem pessoas que já morreram, repetem bordões, com diferentes codinomes e senhas, a maioria sem se identificar ou utilizando perfis desativados.

É uma luta desigual, porque o jornalista não pode responder no mesmo nível de baixaria às agressões que recebe diariamente em seu trabalho.

Como não sou eu quem faz a moderação, que alguns chamam de "censura", nem sei o que escrevem nos comentários não publicados, mas posso imaginar.

Não se trata de contestar alguma informação errada, que sempre é corrigida prontamente, mas simplesmente de agredir o autor do texto. Tenho a impressão que muitos nem se dão ao trabalho de ler o que está escrito, além do título.

Com 57 anos de estrada e mais de 12 escrevendo esse blog, um dos mais longevos de crônica política, nunca vi nada parecido.

O território da internet talvez seja o exemplo mais evidente da anomia social em que vivemos, num país onde cada um pode fazer as suas próprias leis e impor as suas vontades, por mais absurdas que sejam.

Há quase um ano sem poder sair de casa porque sou do grupo de risco, vejo-me obrigado a apenas comentar o fatos do dia a dia que estão no noticiário _ e, se eles não são bonitos nem agradáveis, nada posso fazer.

Bem que eu gostaria de escrever que já temos vacinas para todos, a pandemia está sob controle, a economia decolando e o desemprego diminuindo, não falta comida na mesa nem dinheiro para uma cervejinha, mas essa não é a nossa realidade e eu não sei escrever ficção.

Perdoem-me o desabafo. Não está fácil para ninguém.

Vida que segue.

Balaio agora também no Youtube. Para acessar:

https://www.youtube.com/watch?v=rcEADUzkXUU&list=PL0F_BEoxlY-JETQTu7SvywtbOGyMI3hx0