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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estão todos só fazendo contas para 2022. E como nós chegaremos até lá?

Na macabra dança das cadeiras, o que mais tem é partido sem candidato e candidato sem partido, como Bolsonaro, todos só de olho em 2022 - Smartboy10/Getty Images
Na macabra dança das cadeiras, o que mais tem é partido sem candidato e candidato sem partido, como Bolsonaro, todos só de olho em 2022 Imagem: Smartboy10/Getty Images

Colunista do UOL

10/02/2021 19h47

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Na realidade paralela em que o país vive, parece até que 2021 já acabou.

As instituições estão funcionando normalmente, o ambiente é favorável, o Carnaval vem aí, ziriguidum, depois virá o Natal, e logo chegarão as eleições presidenciais de 2022.

Ao terminar de ler o noticiário do dia, fico-me perguntando em que mundo vivem nossos lideres políticos de todas as latitudes.

Estão todos só fazendo contas de chegar para dar a largada na campanha eleitoral, como se não tivéssemos mais nenhum outro assunto a nos preocupar, em meio a uma pandemia devastadora, com a vacinação ainda engatinhando e sem sinais de recuperação econômica para criar empregos.

Troca-troca de partidos, alianças para cá e para lá, acusações de traição e trança pés, uma esbórnia generalizada, em que só não se fala no que fazer para tirar o país do buraco.

Com o comando político do país entregue pelo capitão e seus generais às tropas do Centrão, a nação assiste bestificada a essa macabra dança de cadeiras, com vaca estranhando bezerro e a plateia batendo palmas para ver louco dançar.

Candidatos são lançados a granel e, logo em seguida, queimados, pelo fogo amigo.

A única certeza, até o momento, é que Bolsonaro está em plena campanha pela reeleição, e não pensa em outra coisa. O resto pode esperar.

A eleição no Congresso não só representou uma vitória acachapante do presidente, mas serviu também para rachar seus adversários da fracassada "frente de oposição" de Rodrigo Maia, que não tinha fundos.

Tentaram misturar Jesus com Genésio e, no fim, boa parte do DEM, PSDB e MDB votou no candidato do governo, Arthur Lira, assim como dissidentes dos partidos de esquerda abandonaram Baleia Rossi.

Como na dispersão de uma escola de samba derrotada, no meio da confusão ficaram órfãos pré-candidatos do "centro" lançados pela mídia, o nome de fantasia da velha direita.

Moro, Mandetta, Huck, Doria, quem mais?, ficaram todos pelo caminho, procurando apoio em algum camarote amigo para não acabar fora do jogo, mas ficou difícil.

ACM Neto, seguindo as pegadas do avô, logo levou o DEM para os braços do governo e colocou um aliado no Ministério da Cidadania, agora entregue ao Republicanos, o braço político da Igreja Universal, que vai cuidar do Bolsa Família (benza Deus!).

Doria correu para juntar os cacos do PSDB e o MDB ficou onde sempre esteve: meio lá, meio cá.

Lula botou na roda de novo o nome de Fernando Haddad, sem comover nem o PT, mas outras lideranças da esquerda chiaram, pedindo um projeto antes de discutir candidatos.

No final da noite, enquanto os bolsonaristas comemoravam na balada sertaneja de Arthur Lira, vendo a avenida do poder se abrir à sua frente, a oposição não se entendia nem sobre o melhor caminho para voltar para casa.

Ciro Gomes ficou só olhando o desfile, sem saber se voltava para o Ceará ou para Paris, em busca de um discurso para se apresentar novamente ao eleitorado. Vai pedir música no Fantástico, junto com Marina Silva.

É o que temos para o momento, a caminho dos 10 milhões de contaminados pela covid-19, que já deixaram 233 mil mortos pelo caminho.

Não corremos o risco de nada melhorar até 2022, dizem os otimistas, mas sempre pode piorar.

Vida que segue.