Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sonho do capitão pescador é um país sem jornais nem jornalistas
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O ódio do capitão à imprensa profissional não é gratuito.
É assim que ele alimenta os ataques sórdidos dos seus milicianos digitais, que ocupam cada vez mais espaço na internet, e faz um agrado aos bolsonaristas fiéis, em sua campanha anti-vacinação.
Faz parte do seu projeto deste napoleão de hospício para controlar todas as instituições, eliminar a oposição e governar por decreto, como vem fazendo, em parceria com os militares e o Centrão, sob as bençãos do mercado e dos bispos da sacolinha.
Do nada, entre uma pescaria e um passeio de jet-sky em São Francisco do Sul (SC), o capitão presidente resolveu dar uma entrevista exclusiva ao filho Eduardo, caminhando pela beira-mar.
"O certo é tirar de circulação _ não vou fazer isso porque sou um democrata (riso sarcástico) _ tirar de circulação Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, que são fábricas de fake news".
Além de fechar os três principais jornais do país, o presidente sonha também em assumir o controle das mídias sociais, depois de ter sido bloqueado no Facebook por ter disseminado notícias falsas sobre a pandemia, entre outras fake news e discursos em defesa das armas e da cloroquina.
Não satisfeito com a grande rede bolsonarista de rádio e televisão, movida a verbas de propaganda do governo, e liderada por Record, SBT e Jovem Pan, o führer caboclo avança sobre quem não se curva aos seus desmandos, em defesa da vida e da democracia ameaçadas pela pandemia e pelo governo.
Como Bolsonaro não bebe, fiquei ainda mais preocupado com o monólogo desconexo do vídeo gravado no mar e rapidamente divulgado por Eduardo Bolsonaro nas redes sociais.
Ao misturar o spray milagroso contra a covid do íntimo amigo Benjamim "Natanael", primeiro-ministro de Israel, com maior taxação e controle das plataformas sociais para se defender do aumento dos combustíveis, o capitão compôs um legítimo "samba do crioulo doido" em pleno carnaval sem carnaval.
Por coincidência, nesta Terça-feira Gorda, comemora-se o Dia do Repórter, um velho ofício que, se dependesse do presidente, seria extinto.
Ao ameaçar a circulação de jornais, o capitão também coloca em risco a nossa profissão, mas não vi até agora nenhuma reação das nossas entidades de classe nem da classe política contra mais essa agressão à imprensa, que começou antes de Bolsonaro tomar posse.
Às vésperas da eleição de 2018, o capitão já havia feito um delirante discurso, exibido ao vivo na avenida Paulista, para ameaçar seus inimigos _ entre eles, a Folha de S. Paulo, que esta semana completa 100 anos.
Depois de dizer que a Folha já tinha morrido, prometeu: "Vocês não terão mais verba publicitária do governo", como se a sobrevivência do jornal dependesse disso.
Em 1979, durante uma grave de jornalistas, um gaiato pichou nos muros: "Não leia jornais. Minta você mesmo".
É exatamente o que Bolsonaro vem fazendo, desde que assumiu a Presidência da República.
Vida que segue.
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