Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Projeto Bolsonaro: plantar confusão para colher o caos social

Daniel Silveira a bordo com Bolsonaro: o objetivo é minar a confiança nas instituições para instalar o poder absoluto do capitão  - Reprodução/Facebook Daniel Silveira
Daniel Silveira a bordo com Bolsonaro: o objetivo é minar a confiança nas instituições para instalar o poder absoluto do capitão Imagem: Reprodução/Facebook Daniel Silveira

Colunista do UOL

23/02/2021 13h37

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Engana-se quem diz que Bolsonaro não tem até agora um projeto de governo.

Tem, sim, e é muito claro, desde que repudiou o atual regime, no discurso para os cadetes do Exército, no sábado, em Campinas.

Sem os chamados freios e contrapesos da democracia, embalado pelos centrões, generais de pijama, milícias e valentões em geral, Bolsonaro resolveu partir para o vale-tudo institucional e colocou em marcha seu projeto.

É quebrar tudo para privatizar as estatais na bacia das almas.

É sabotar a vacinação em massa da população para o povo não sair de casa.

É tirar dinheiro da educação básica e da saúde (leia-se SUS) para pagar o auxílio emergencial.

É detonar os órgãos de fiscalização e controle para passar a boiada na Amazônia.

É promover a balbúrdia nas relações internacionais, colecionando inimigos.

É acabar com a cultura nacional, as entidades de defesa dos direitos humanos, a Justiça do Trabalho, as conquistas das minorias, os programas de políticas públicas e de distribuição de renda, esses antros de comunistas.

É o dá ou desce, a nova versão do "Ame-o ou Deixei-o" do golpe militar.

Para isso, é necessário acabar também com a independência entre os poderes e subjugar a imprensa com ameaças ou oferecendo gordas verbas da Secom para os amigos.

Se possível, é fulminar qualquer oposição partidária ou movimento da sociedade civil, armando a população civil e as milícias amigas, para qualquer eventualidade.

A retaguarda militar já está garantida com mordomias, aposentadorias e benesses mil, e a licença para matar que será concedida aos policiais militares com o "excludente de ilicitude".

O objetivo final do projeto é instalar o caos social e econômico para governar com plenos poderes, recorrendo, quando necessário, à GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ou ao Estado de Defesa.

"Os bolsonaristas atuam para normalizar a ruptura institucional", constata a microempresária e pesquisadora baiana Michele Prado, militante antipetista e integrante da "direita democrática e liberal", autora do livro "Tempestade Ideológica _ Bolsonarismo: a Alt-right e o populismo i-liberal no Brasil, que será lançado no próximo dia 23 de março.

Em entrevista ao Estadão, ela diz que Daniel Silveira e outros parlamentares bolsonaristas agem ostensivamente para minar a confiança nas instituições que formam a base do Estado democrático.

"Foi um ato gravíssimo, mais um ataque dos bolsonaristas para incentivar uma ruptura institucional no país (...) Nas grandes democracias do mundo, um ato dessa natureza seria caracterizado como fomento ao terrorismo".

Eleitora de Bolsonaro no segundo turno e integrante dos grupos da "nova direita" nas redes sociais, Michele Prado acompanhou de perto o processo de radicalização do bolsonarismo, que ela relata no livro. Trump é o modelo a ser seguido, mas não deu muito certo na invasão do Capitólio.

"O que Bolsonaro quer?", pergunta Miriam Leitão, em sua coluna de hoje no Globo, ao analisar as motivações do presidente para fazer a intervenção na Petrobras, que fez a empresa perder mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado.

Crítica dos governos do PT, a colunista também já perdeu a paciência com o que ela chama de "populismo econômico" do presidente de turno para fazer demagogia com os caminhoneiros e usá-los politicamente.

"Enquanto isso, para acalmar os investidores locais e internacionais, a equipe econômica tenta usar uma arma de destruição em massa de princípios da Constituição. A proposta é aprovar uma PEC como condição para dar auxílio emergencial. Pela versão apresentada ontem, ela elimina todas as vinculações constitucionais de saúde e educação".

Ou seja, com a popularidade em queda nas pesquisas _ e agora também no Posto Ipiranga da Faria Lima do sumido "superministro" Paulo Guedes _, o capitão faz qualquer coisa para arrumar um auxílio de R$ 300 às famílias mais carentes, por quatro meses, tirando dinheiro da educação e da saúde, em plena pandemia.

Pensa que assim vai garantir a reeleição, seu principal plano de governo, para salvar a própria família e evitar problemas com a Justiça.

Corre de um lado para outro para tapar buracos, e só aumenta o tamanho do abismo, para surgir mais adiante como salvador da pátria, em meio ao caos econômico e social que está plantando com cálculo e método.

Engana-se também quem pensa que Bolsonaro sabota o combate à pandemia, a cargo do general Pezadello, só por conta do seu negacionismo, ignorância da ciência ou amor à cloroquina.

É desta forma, boicotando as vacinas, que ele mantém a população mais consciente em suas casas, evitando aglomerações e impedindo que vá às ruas para pedir o fim deste circo de horrores encenado há dois anos.

Só se enganou quem quis. Durante a campanha, Bolsonaro prometeu acabar com a "velha política" e a corrupção, a bordo da Lava Jato, destruir tudo para depois começar de novo, anunciando um governo "conservador nos costumes e liberal na economia". Não é uma coisa nem outra, nem nada. Foi um grande estelionato eleitoral.

Estamos vendo no que deu.

Em tempo: alguém viu o Paulo Guedes por aí?

Vida que segue.

https://www.youtube.com/watch?v=p3KUPopz_RQ&t=4s