Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Brasil engata ponto morto e fica esperando por um milagre
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Mais um dia de notícia enguiçada (criação imortal de Alfredo Ribeiro, o Tutty Vasquez): vacinação quase parando, mortes na pandemia passam de 250 mil, lockdown aqui e ali, nenhuma luz piscando no horizonte escuro.
Parece que o país engatou o ponto morto na beira da estrada e está em modo espera, esperando não se sabe o quê, talvez um milagre, uma aparição divina, alguma esperança, quem sabe.
Mas que milagre a essa altura poderia acordar a nação bestificada, diante das tenebrosas transações, para deixar tudo como está e ver como é que fica?
Vou e volto da janela, ligo e desligo a televisão, navego no noticiário da internet em busca de uma notícia boa, mas nada encontro de bom nem de novo.
O que há de novo não é bom e o que é bom não é novo. Até essa frase é velha...
Só se fala naquela moça eliminada do Big Brother, nos desfalques do Flamengo, nos estragos das chuvas, mas nada disso dá manchete, nem título para a coluna.
Como meus colegas vão conseguir fazer o jornal de amanhã?
Jornal só deveria sair quando houver uma novidade capaz de despertar a atenção do leitor por algo que ele não sabia.
Há quanto tempo não somos surpreendidos por uma manchete no café da manhã?
Seis da tarde, só se ouve o zumbido de carros e motos passando na rua. Para onde vão todos com essa pressa?
Não se ouve um grito, uma criança chorando, alguém cantando ou brigando, som alto da TV do vizinho, o vendedor de pamonha, nada.
De repente, é como se tudo tivesse parado à minha volta, nem me lembro que dia é hoje, mas isso também não faz diferença.
Até já parei de acompanhar a previsão do tempo. Chova ou faça sol, amanhã estarei aqui escrevendo de novo. Os dias têm sido todos modorrentamente iguais.
À noite, na TV, tem o placar das mortes e dos novos casos da pandemia, mais números, números, números, mais desgraças, tudo sempre igual.
Hoje já paguei as contas, participei de uma reunião de trabalho, comprei comida e remédio pelo telefone, só falta escrever esta coluna diária, mas está difícil.
Aí me lembro que estou numa sinuca de bico.
Depois de fazer uma interminável bateria de exames, o médico me comunicou que um rim parou, tenho uma obstrução na bexiga e preciso fazer uma cirurgia na semana que vem, sem falta, mas ainda não tomei a vacina.
E agora? O que é mais perigoso: não fazer a cirurgia ou o risco de pegar covid no auge da pandemia?
No primeiro cronograma de vacinação, divulgado pelo governo de São Paulo, no final do ano passado, antes do general trapalhão assumir o comando das operações, minha faixa etária estava prevista para o dia 15 de fevereiro.
Estamos já no dia 24, e agora nem sei mais quando será. Ninguém sabe.
Quantas outras pessoas não estarão neste momento na mesma situação, esperando a vacina para programar suas vidas, com um mínimo de segurança, sem saber quando será sua vez, e se um dia ele chegará?
Pensei que quarentena fosse um período de 40 dias, como a Quaresma, mas a minha já esta durando quase um ano, trancado em casa, sem previsão de alta para poder voltar à rua. Velho, gordo e fumante, sou um cidadão de alto risco, um perigo ambulante, para mim e para os outros.
Tudo se tornou imprevisível, imponderável, nebuloso, sem sabermos se o pior já passou ou ainda vai chegar, qual o susto que levaremos amanhã.
Navegamos sem bússola para o desconhecido, ao sabor dos ventos e das marés, não temos mais o controle sobre nossas vidas. Pode acontecer de tudo _ ou simplesmente nada.
Chegar em terra firme virou uma miragem. Só mesmo por um milagre.
E assim vamos vivendo, um dia após o outro, com uma noite no meio.
Aconteceu alguma coisa de bom hoje?
Vida que segue.
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