Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Psicopata ou genocida? Tanto faz: o fato é que o mundo se fechou para nós

No fim de setembro, o governo brasileiro, por sua vez, autorizou a entrada de estrangeiros, de qualquer nacionalidade, em todos os aeroportos do território nacional - Getty Images
No fim de setembro, o governo brasileiro, por sua vez, autorizou a entrada de estrangeiros, de qualquer nacionalidade, em todos os aeroportos do território nacional Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

20/03/2021 11h07

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Passamos a semana mais mortífera da pandemia discutindo se Jair Bolsonaro é psicopata ou genocida, ou as duas coisas juntas, enquanto o mundo fechava suas portas para nós.

O brasileiro que agora quiser viajar para o exterior poderá escolher como destino apenas o Afeganistão ou a Albânia e outros seis países do mesmo porte.

Depois de virar o epicentro mundial da Covid-19, o Brasil do capitão se tornou um país tóxico, que provoca temor e repulsa dos países civilizados.

Me chamaram de maluco quando propus na coluna de ontem que, sem ter como reagir ao massacre da pandemia e do pandemônio por seus próprios meios, o país lançasse um SOS aos organismos internacionais.

Pois ficamos sabendo neste sábado que um fiel aliado de Bolsonaro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, enviou o primeiro pedido oficial de socorro do Brasil a um outro país..

Em ofício encaminhado à vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, Pacheco solicita autorização para o governo brasileiro comprar vacinas excedentes que estão estocadas naquele país.

É preciso lembrar, no entanto, que Pacheco tem outra prioridade no momento: impedir a instalação da CPI da Covid-19 para investigar a gestão do governo Bolsonaro no combate à pandemia.

Folgo em saber que não sou o único a buscar uma solução externa para enfrentar a calamidade sanitária que deixou hospitais sem leitos, remédios nem oxigênio, e está superlotando também os cemitérios.

Indiferente a essa realidade, Bolsonaro já não pensa só na reeleição, mas no que pode fazer para salvar o mandato.

Para isso, mais de um ano após o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, o presidente só agora decidiu propor um pacto aos demais poderes e instituições, chamando até governadores e representantes da sociedade civil para procurar uma saída de salvação nacional, ao mesmo tempo em que acena com a decretação do Estado de Sítio.

Cresce em todas as pesquisas a rejeição ao governo Bolsonaro, diante do caos na saúde pública previsto há meses pelo cientista Miguel Nicolellis, que pode levar o país a registrar 500 mil mortes no meio do ano.

Incansável, Nicollelis é um cavaleiro solitário na sua luta para ser decretado um "lockdown" nacional por algumas semanas, única forma de evitar o pior.

Todos os dias, lá aparece ele, de televisão em televisão, mostrando com números e dados científicos, o que precisa ser feito para enfrentar o colapso na saúde pública, mas parece que ninguém o ouve em Brasília.

Prefeitos e governadores fazem o possível para fechar suas cidades, em oposição ao presidente negacionista, que recorreu ao STF contra as medidas restritivas de distanciamento social e quer ver todo mundo de volta à ruas.

Isolado dentro e fora do país, apoiado apenas por militares, policiais, setores do mercado e milicianos, além dos filhos e de uma tropa de seguidores fanáticos nas redes sociais, Bolsonaro reage cada vez com maior virulência contra a realidade dos fatos, sem encontrar resistência.

Além de remédios nos hospitais, nos faltam também palavras para descrever o que está se passando no Brasil neste início de outono de 2021.

Nem os napoleões de hospício poderiam criar um cenário mais assustador.

Vida que segue.