Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Kassio X Kalil: o que evangélicos querem é salvar a "sacolinha" da falência
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"Algum dia a alegria haverá de voltar" (jornalista Dorrit Harazim, na sua coluna sobre a Páscoa, no Globo).
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Por que esse furdunço todo entre o ministro bolsonarista do STF, Kassio Nunes Marques, e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, sobre a abertura ou o fechamento dos templos?
Kassio liberou, mas Kalil manteve a proibição a cultos e missas presenciais em Belo Horizonte no pior momento da pandemia, que já matou mais de 330 mil brasileiros.
Tudo isso está acontecendo para movimentar o noticiário do domingo de Páscoa porque, com as medidas de isolamento social, os impérios evangélicos da base do bolsonarismo estavam perdendo sua grande fonte de arrecadação: a santa "sacolinha" dos dízimos.
Logo cedo, o pau-mandado do presidente no STF intimou o prefeito de Belo Horizonte a cumprir sua liminar para manter os templos abertos e ameaçou Kalil com "pena de responsabilização, inclusive criminal".
Kassio convocou até a Polícia Federal a fazer cumprir sua ordem para agradar os bispos da grana que garantem ao chefe boa parte do seu eleitorado fiel.
Essa polêmica nada tem a ver com liberdade religiosa, mas com o faturamento cadente das igrejas neopentecostais, que estão em crise financeira depois que os templos foram esvaziados pela pandemia.
Sem o dízimo das "sacolinhas", como sustentar o império de suntuosos templos, redes de rádio e televisão, carrões, mansões, aviões e helicópteros dos empresários da fé?
A decisão de Kassio Nunes Marques atendeu a um pedido da Associação Nacional de Juristas Evangélicos, que eu nem sabia que existia, mas deve ser bem poderosa.
Botar Justiça, política e religião no mesmo balaio não costuma dar muito certo nas repúblicas laicas como a nossa, mas no Brasil de Bolsonaro está tudo junto e misturado, nas várias alas que formam consórcio bolsonarista.
Ala evangélica, ala ideológica, ala militar, ala do Centrão, ala policial, ala miliciana, ala dos filhos, ala dos amigos da Barra da Tijuca _ não é fácil administrar esse governo que já tem mais alas do que uma escola de samba.
Na Esplanada dos Ministérios, sabemos que só quem tem lugar garantido é Damares Alves, a grande líder da ala evangélica, que garante isenções e subvenções para as igrejas e entidades evangélicas em nome dos direitos humanos.
Alexandre Kalil foi o único governante que teve coragem de desafiar a ordem sabuja do ministro palaciano no STF, em mensagem curta e grossa:
"Em Belo Horizonte, acompanhamos o plenário do STF. O que vale é o decreto do prefeito. Estão proibidos os cultos e missas presenciais".
Kalil se baseou numa decisão do pleno do STF que autorizou governadores e prefeitos a estabelecer regras para o distanciamento social no combate à pandemia, argumento reiteradamente utilizado pelo presidente para cruzar os braços diante dessa tragédia, que bate recordes de mortos e contaminados pela doença.
Neste domingo, o cientista Miguel Nicolellis alertou que, em março, pode ter morrido mais gente do que nascido no Brasil, um fato inédito na nossa história.
Assim fica difícil se concretizar a profecia da minha ex-chefe e amiga Dorrit Harazim ao prever que algum dia a alegria haverá de voltar.
Só não se sabe quando. Faltam mais de 600 dias para esse governo acabar e não há reza capaz de fazer o Brasil voltar a uma vida normal.
Depois da crise militar que agitou a semana, só faltava uma crise religiosa entre o STF e um ente da federação.
Boa Páscoa!, se possível.
Vida que segue.
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