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OPINIÃO

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Na contramão do mundo, Bolsonaro ameaça mais uma vez chamar o Exército

Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é visto durante passeio de moto na manhã deste sábado em Brasília - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é visto durante passeio de moto na manhã deste sábado em Brasília Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

24/04/2021 15h16

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Bolsonaro parece aquele recruta zero que não acerta o passo, e acha que todos os outros soldados estão marchando errado.

Na contramão do mundo civilizado, no mesmo dia em que o presidente russo Vladimir Putin decretou "lockdown" total no país por 10 dias para combater a escalada da pandemia, aqui no Brasil o capitão ameaçou novamente chamar o Exército contra as medidas de restrição adotadas pelos governadores.

O velho truque de botar as tropas na rua já não funciona mais. Nem os militares parecem dispostos a servir ao projeto genocida do presidente, que apregoa o caos para justificar seus atos insanos.

Como seria a intervenção militar planejada por Bolsonaro?

As tropas iriam de casa em casa para "acabar com a covardia do toque de recolher" e "libertar o povo" para trabalhar e ir às baladas?

Ou invadiriam os palácios dos governadores para cortar o mal pela raiz e levar todos presos?

Seria cômico, se não fosse trágico, o capitão querer provocar uma guerra federativa a essa altura do campeonato, com o país se aproximando dos 400 mil mortos e viés de alta.

O primeiro a reagir foi o governador paulista, João Doria, que acusou Bolsonaro de "selar um pacto com a morte, que só não é maior no Brasil por conta da ação de governadores e prefeitos. Essa postura demonstra mais uma vez o quanto Bolsonaro tem devoção pelo autoritarismo e alergia à democracia".

A toda hora ele fala em ameaça de saques porque o povo está passando fome, como se estivesse incentivando baderneiros a promover o caos.

Em mais uma investida pela periferia de Brasília neste sábado, montado em sua moto, Bolsonaro entrou sem máscara em casas de moradores e num mercado coberto, desafiando as normas em vigor na cidade para evitar aglomerações.

Encurralado pela CPI do Senado, onde ficou em minoria, depois de tentar melar a instalação da comissão, o presidente quer demonstrar força para esconder o medo que o move a cada nova ameaça de usar as tropas para combater a pandemia.

Circula pelo país, levando a tiracolo o general Pazuello, que virou um zumbi à espera de ir para o matadouro das investigações sobre os crimes praticados pelo governo, como se o principal responsável não fosse o próprio presidente, que adiou a compra de vacinas até onde pode.

O caos que já está instalado é o do programa nacional de imunizações do Ministério da Saúde, incapaz de estabelecer um cronograma e regras claras para os grupos prioritários na vacinação.

Não adiantou nada trocar Pazuello por um certo Queiroga, que também já está seguindo as receitas do presidente para promover o uso de cloroquina no serviço público de saúde.

Enquanto o resto do mundo já está começando a voltar à vida normal, com a queda no número de mortes e de casos, depois de seguidos períodos de restrição à circulação de pessoas, aqui afundamos cada vez mais no negacionismo e no embate cretino do presidente contra os governadores.

Não há nenhuma chance de melhorar. Bolsonaro irá até o fim com as suas certezas e dobra a aposta em seu projeto genocida, que agora ameaça não só o Brasil, mas o mundo, com sua total irresponsabilidade.

Ele não vai sossegar enquanto não chamar o general Braga Netto para deflagrar o seu plano sinistro, que vê uma conspiração em cada esquina, como se todos estivessem contra o pobre presidente marchando na contramão.

Vida que segue.