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OPINIÃO

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Pazuello foge da CPI e Bolsonaro ataca China e STF para mudar de assunto

Colunista do UOL

05/05/2021 18h08

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Assim como seu chefe, o capitão Bolsonaro, aquele que manda e desmanda, arrumou atestados médicos para fugir dos debates na campanha eleitoral de 2018, o obediente general Pazuello apresentou uma desculpa esfarrapada para não depor na CPI do Genocídio e entrou em quarentena no Ministério do Exército, alegando que dois assessores dele podem ter contraído a covid-19.

Acuados, Bolsonaro e Pazuello estão apenas conseguindo arrastar as Forças Armadas para o centro do debate sobre a atuação desastrada e irresponsável do governo no combate à pandemia, que já provocou a morte de mais de 410 mil brasileiros

Para mudar de assunto, como costuma fazer, no mesmo dia em que a CPI fechava o cerco, o presidente surtou mais uma vez e atacou de uma só vez a China e o STF, como se fossem os responsáveis pela grande tragédia brasileira.

Do nada, Bolsonaro insinuou que a China pode ter provocado uma "guerra biológica" para obter ganhos econômicos e ameaçou baixar um decreto para garantir "o direito de ir e vir" que estaria ameaçado pelas restrições adotadas por governos estaduais, avalizadas pelo STF, para impedir a propagação do vírus.

Só quem está completamente fora de juízo pode, a esta altura do campeonato, ainda defender a cloroquina, criticar o uso de máscaras, desafiar o maior parceiro comercial do país, do qual dependemos para a fabricação de vacinas, e decidir por decreto tirar o povo de casa para voltar ao trabalho, no país onde estão morrendo mais de 3 mil pessoas por dia vítimas de covid-19.

Além de incompetentes, os dois militares, um capitão reformado e um general da ativa, são covardes, ao colocarem em risco a vida dos outros, e fugirem dos questionamentos da CPI que investiga os desmandos do governo na gestão da saúde durante a pandemia.

Depois de seis horas de "mídia training" no fim de semana, ao custo de R$ 23 mil, o general entrou em pânico com a possibilidade de sair algemado e preso da CPI se mentir aos senadores na condição de testemunha.

Ao fugir da convocação de forma vergonhosa, Pazuello acabou de transformando num réu confesso, que não tem mais como se defender, sem dizer quem lhe deu ordens para mandar estoques de cloroquina e médicos amestrados em lugar de oxigênio e respiradores para Manaus no auge da segunda onda.

Quem mandou o general ir para Manaus, sem prazo para voltar, até encontrar uma solução para a mortandade no Amazonas?

Quem mandou Pazuello cancelar a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac do Instituto Butantan?

Quem proibiu o Ministério da Saúde de acertar a compra de 70 milhões de doses da Pfizer no ano passado?

Estará o general disposto a servir de boi de piranha para salvar a pele do chefe que mandava e desmandava no Ministério da Saúde?

Se levarem sua missão até o fim, os senadores da CPI do Genocídio terão que convocar Jair Bolsonaro em pessoa para encontrar as respostas a essas questões centrais, que ajudam a explicar a terrível catástrofe sanitária que assola o país.

O resto torna-se secundário. Não haverá cortina de fumaça produzida pelo presidente capaz de esconder sua responsabilidade intransferível no comando de um governo negacionista e inepto, que desde o início tentou esconder a gravidade da pandemia e boicotou até onde pode a compra de vacinas.

Está tudo registrado nas declarações e lives produzidas por Bolsonaro durante todo o período. Há provas em abundância da prática de crimes de responsabilidade em série. Não faltarão motivos para a convocação do presidente para prestar contas à CPI.

O general pançudo é apenas um cúmplice abestalhado do capitão, incapaz de agir por conta própria. Mais dia, menos dia, ele terá que comparecer à CPI para dizer a verdade, ou pagar sozinho por todas as atrocidades praticadas pelo governo da morte.

A hora da verdade está chegando para os dois.

Vida que segue.