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Semana decisiva: CPI ouve Pazuello e Araújo, mas o alvo é Bolsonaro

Bolsonaro chega de cavalo a protesto de apoiadores de Boslonaro contra  a CPI da Covid e o STF, em Brasília - Reprodução/Twitter
Bolsonaro chega de cavalo a protesto de apoiadores de Boslonaro contra a CPI da Covid e o STF, em Brasília Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

17/05/2021 17h24

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Na terceira e decisiva semana da CPI do Senado sobre a Covid-19, os senadores vão ouvir o ex-chanceler Ernesto Araújo e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, mas o principal alvo dos interrogatórios será Jair Bolsonaro, o chefe deles.

Afinal, na atual configuração do ministério, todos são apenas coadjuvantes, que obedecem às ordens do capitão, incluindo aí os generais palacianos.

Pazuello conseguiu um habeas corpus para ficar em silêncio nas questões em que possa se auto incriminar, mas essa é uma má notícia para o Palácio do Planalto.

"Interrogatório bom busca acusações sobre terceiros", já disse Renan Calheiros, o relator da CPI.

Terceiros, no caso, leia-se Bolsonaro, a quem o general obedecia.

Foi o presidente quem mandou Pazuello cancelar a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, a vacina do Instituto Butantã em parceria com o laboratório chinês Sinovac, após assinar um acordo em outubro do ano passado.

Foram o presidente e seus filhos que hostilizaram várias vezes o governo da China, o principal fornecedor de vacinas e insumos para o Brasil, insinuando que eles fabricaram o vírus em laboratório para obter vantagens econômicas, a mesma tese conspiratória abraçada pelo terraplanista chanceler Araújo.

Foi o presidente quem não autorizou Pazuello a aceitar as várias propostas feitas pelo laboratório Pfizer, que não mereceram nem resposta, como informou à CPI o ex-chefe da Secom, Fábio Wajngarten, mostrando provas.

Foi o presidente, antes de Pazuello assumir o Ministério da Saúde, quem defendeu o "tratamento precoce" à base de cloroquina e a "imunização de rebanho", depois que todos estivessem contaminados, seguindo as orientações do "gabinete paralelo", que apareceu nos depoimentos feitos à CPI até agora.

Os ministros podem ter sido cúmplices ou omissos, mas o principal responsável pela forma como o governo enfrentou _ ou não _ até agora a pandemia do coronavírus ocupa a principal cadeira do terceiro andar do Palácio do Planalto, não há como fugir disso.

A tentativa frustrada do general Pazuello para fugir da CPI, alegando que teve contato com pessoas contaminadas, acabou servindo apenas como uma confissão de culpa antecipada e, quanto mais ele permanecer em silêncio, mais complicará a sua situação.

Se abrir a boca, não terá como se recusar a dizer quem, quando e como lhe dava ordens para comprar ou não vacinas, equipamentos, insumos e remédios, que poderiam ter salvo milhares de vidas.

Ainda nesta segunda-feira, véspera do depoimento de Ernesto Araújo, Bolsonaro voltou a criticar o isolamento social defendido pela OMS, por médicos e cientistas, chamando de "idiotas quem até hoje fica em casa" (apenas três em cada dez brasileiros, graças à campanha negacionista do capitão).

"Já falei que sou imorrível, já falei que sou imbrochável e também sou incomível", proclamou o presidente no cercadinho do Alvorada a um grupo de apoiadores, sem ninguém lhe ter perguntado, neste clima de fim de feira respirado em Brasília.

Depois do festival agro-cristão antidemocrático abrilhantado por Bolsonaro e pelo ministro da Defesa, general Braga Netto, neste final de semana, as várias crises se confundem, e já não se sabe onde uma termina e a outra começa _ a sanitária, a política, a econômica e a militar, que se encaminham para alguma forma de desenlace.

Em entrevista à Globo News, no começo da tarde desta segunda-feira, o senador Tasso Jereissatti, um dos membros da CPI, disse que as investigações já avançaram bastante para identificar a responsabilidade de cada um nesta história.

Qualquer que seja o desfecho desta CPI, o governo sairá dela ainda mais enfraquecido, sem ter como se defender de fatos públicos e notórios, vídeos e declarações que provocaram a grande tragédia brasileira, ainda muito longe de ter um fim.

A cada novo depoimento, mais o cerco se fecha em torno do presidente, por mais que os depoentes fujam das perguntas, com ou sem habeas corpus.

Fortes emoções ainda nos aguardam. Preparem-se.

Vida que segue.