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OPINIÃO

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Tudo dominado: tropa bolsonarista avança na ocupação do Estado brasileiro

General Augusto Heleno (GSI), general Braga Netto (Defesa) e  general Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil): o triunvirato do "dispositivo militar" - General Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), General Braga Netto (Casa Civil) e  General Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de governo).
General Augusto Heleno (GSI), general Braga Netto (Defesa) e general Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil): o triunvirato do "dispositivo militar" Imagem: General Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), General Braga Netto (Casa Civil) e General Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de governo).

Colunista do UOL

10/06/2021 16h03

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Golpe? Para que golpe, se já está tudo dominado?

Devagar, devagarinho, degrau por degrau, a tropa bolsonarista foi ocupando o Estado brasileiro, sem enfrentar resistência nem colocar tanques nas ruas.

Primeiro, foi a Polícia Federal e a Abin; depois, vieram a Procuradoria-Geral da República, a AGU e a CGU, o Ministério da Saúde e as presidências da Câmara e do Senado, até chegar às Forças Armadas.

O dia D e a hora H, como diria o patético general Pazuello, para consumar esta ocupação, foi a demissão sumária do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, que até março resistia aos surtos golpistas do capitão.

Para o seu lugar foi o general bolsonarista Braga Netto, junto com o general bolsonarista Luís Eduardo Ramos, que ficou tomando conta da Casa Civil. Na retaguarda, permanece o general bolsonarista Augusto Heleno, o fiel Heleninho, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

Os três generais planaltinos convenceram o capitão a demitir Azevedo e Silva para montar um "dispositivo militar" genuinamente bolsonarista, colocado a serviço do governo.

Logo em seguida, Braga Netto trocou os três comandantes militares legalistas, que entregaram os cargos, e se tornou o homem forte do governo do capitão, aquele que manda prender ou soltar, segundo as suas próprias leis.

Só escapou até agora o Supremo Tribunal Federal, que logo ganhará a companhia de mais um ministro bolsonarista, desta vez "terrivelmente evangélico".

Exatamente por isso, o STF se tornou o principal alvo das manifestações antidemocráticas motorizadas e das milícias digitais bolsonaristas, que continuam atuando a todo vapor, fora de qualquer controle, já em campanha para 2022.

Recapitulo nesta linha do tempo os fatos que nos levaram até aqui, para tentar entender como se abriu aos poucos o caminho para esse poder quase absoluto de Bolsonaro.

A partir daí, o capitão agora pensa que pode tudo, e não dá a menor bola para a Constituição e o que os outros falam ou escrevem, pois ele criou suas próprias verdades, acreditando piamente nas mentiras que conta todos os dias.

Na coluna "Ciranda de Mentiras", na Folha, o colega Bruno Boghossian resume com maestria a ópera, e constata que Bolsonaro bateu mais um recorde pessoal.

"Em apenas 19 minutos de pregação num culto religioso, ele despejou informações falsas sobre a segurança nas eleições, os efeitos da cloroquina, a eficácia de vacinas e o número de vítimas da Covid-19. O presidente armou uma ciranda de mentiras para limpar a própria barra, escapar de punições e se reeleger".

Vivêssemos em tempos normais e as instituições estivessem funcionando, só uma dessas aberrações já justificaria a abertura de um processo por crime de responsabilidade, um atentado contra a saúde pública e a democracia.

Indiferente à pandemia que continua matando mais de 2 mil brasileiros por dia, já se aproximando dos 500 mil óbitos, Bolsonaro só está preocupado com a organização de mais uma "motosseata", ou sei lá que nome tem isso, com milhares de devotos seguidores, cruzando com suas possantes as ruas de São Paulo neste sábado, só para lembrar quem manda nesta terra esquecida por Deus. Pois é, um manda e os outros obedecem.

Morrem de tiros da polícia todos os dias mulheres e crianças negras, que vão para as estatísticas fúnebres, mas estas também podem ser modificadas por algum auditor bolsonarista infiltrado no TCU, filho de um coronel bolsonarista que estudou com o presidente e arrumou uma boquinha na Petrobras, que agora também tem na presidência um general bolsonarista. Aonde eles não estão infiltrados?

Por falar nisso, esqueci que no "dispositivo militar" do triunvirato Braga, Ramos e Heleninho, além dos 400 mil integrantes das Forças Armadas, devem ser incluídos os 800 mil homens das Polícias Militares e das empresas privadas de segurança, que também obedecem às ordens do capitão, sem falar nas milícias cada vez mais armadas.

Quem não estiver satisfeito que vá reclamar para os bispos, mas eles também são cegamente fiéis a Bolsonaro.

Está tudo dominado na República Bolsonarista.

Se, por acaso, alguém ler este texto daqui a 100 anos, com certeza não vai acreditar que o Brasil de 2021 vivia assim. Se ainda existir Brasil...

Isso ainda não é nada. Dias piores ainda virão, aguardem.

Vida que segue.

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