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OPINIÃO

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Bolsonaro xinga repórter da Globo de canalha e manda calar a boca

Bolsonaro durante coletiva de imprensa em Guaratinguetá: "Cala a boca. Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada".  - Reprodução/TV Band Vale
Bolsonaro durante coletiva de imprensa em Guaratinguetá: "Cala a boca. Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada". Imagem: Reprodução/TV Band Vale

Colunista do UOL

21/06/2021 19h37

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"Cala a boca! Vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada! Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira! Vocês não prestam!".

Ainda que mal me pergunte, o que tem o jornalismo a ver com família e religião? Jornalistas não têm que ajudar governos, mas informar a sociedade' sobre o que está acontecendo.

O ataque histérico do presidente Jair Bolsonaro, ao ser perguntado pela repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, sobre a multa que levou por não usar máscara na motoceata em São Paulo, fez lembrar os melhores momentos do genocida alemão Adolfo Hitler ao falar sobre judeus ou quando ficava irritado com seus generais.

Em mais uma cerimônia de formatura de militares, desta vez em Guaratinguetá (SP), completamente fora de controle, o capitão arrancou a máscara, soltou perdigotos no ar e só não avançou sobre a jornalista porque tinha muita gente ao redor. Outra pergunta que não quer calar: a que horas esse presidente governa?

Covarde, mais uma vez o seu alvo foi uma mulher jornalista que estava só fazendo seu trabalho.

O motivo da ira presidencial ficou claro logo no começo da entrevista coletiva, após a formatura de sargentos da Aeronáutica, quando viu o microfone da CNN:

"CNN? Vocês elogiam a passeata agora de domingo, né (a passeata foi no sábado). Jogaram fogos de artifício em vocês e vocês elogiaram ainda".

Desde cedo, no cercadinho do Alvorada, Bolsonaro passou recibo da sua revolta com os protestos do fim de semana, que reuniram mais de 750 mil pessoas em todo o país e no exterior, segundo os organizadores, pedindo a sua saída do governo.

Falou frases desconexas sobre o gosto dos "petralhas" por mortadela: "Comam mortadela, pessoal, faz bem à saúde. Vai acabar com as manifestações. Entendeu a jogada? Por que tudo o que eu apoio é o contrário. Então, estou apoiando agora o consumo de mortadela no Brasil". Entenderam a jogada?

Em Guaratinguetá, acabou sobrando para a pobre repórter que empunhava o microfone da TV Vanguarda/Globo (e até para a equipe do presidente, que tentou intervir para evitar a baixaria).

"A Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa. Você quer fazer uma pergunta decente? Eu respondo. Você é da Globo? Não quero conversa com a Globo, não".

Se Bolsonaro continuar caindo e Lula subindo nas pesquisas, e as manifestações da oposição reunirem cada vez mais gente nas ruas, os repórteres brasileiros correm sérios riscos.

É a velha história de atacar o mensageiro quando a notícia não agrada à autoridade. Ainda mais quando o mensageiro da pergunta é uma mulher.

A seguir nesta toada, cada vez mais violenta, repórteres deverão fazer seguro de vida e andar com escolta de seguranças para fazer a cobertura do presidente.

Não me recordo, nem na época dos generais da ditadura, de outro governo que tenha tratado desta forma vil a imprensa.

É assim que Bolsonaro ganha as manchetes e alimenta os robôs da sua tropa de choque nas redes sociais, que passam o dia repetindo o que o presidente diz em discursos e entrevistas.

A um ano e meio das eleições, o clima está ficando cada vez mais pesado. Desconfio que isso não vai acabar bem.

Vida que segue.