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OPINIÃO

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General Pazuello e seus coronéis: eis a "banda podre" das Forças Armadas

Colunista do UOL

16/07/2021 17h25

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Questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros, por qual motivo se recusou durante meses a receber os dirigentes da Pfizer, o general da ativa Eduardo Pazuelo cantou de galo, do alto das suas três estrelas:

"Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo. Se o ministro... Jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso"..

Pazuello mentiu à CPI, como a Folha denunciou hoje em reportagem de Constança Rezende e Mateus Vargas (ver matéria aqui no UOL), que publica um vídeo em que o general, fora da agenda, anuncia, com toda pompa, ao final de uma reunião, as negociações com uma intermediária para a compra da vacina Coronavac:

"Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população".

Coronavac é a vacina produzida pelo Instituto Butantã, no Brasil, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, cuja compra o presidente Bolsonaro proibiu no ano passado, por ser a "vachina comunista do Doria" (o governador paulista que é seu adversário político), cancelando um acordo firmado pelo então ministro da Saúde para a compra de 30 milhões de doses.

Nas imagens, Pazuello aparece cumprimentando um misterioso "mister John", representante de uma certa World Brands, que ofereceu 30 milhões de doses em 11 de março deste ano, pelo preço unitário de US$ 28 a dose _ quase o triplo do cobrado pelo Butantan (US$ 10).

A indecorosa proposta foi apresentada com um requinte de crueldade: metade do valor total da compra (R$,4,65 bilhões, segundo a cotação do dólar à época) deveria ser depositado até dois dias após a assinatura do contrato, antes da entrega das doses, que nunca chegariam ao Brasil, assim como aconteceu com a indiana Covaxin.

Pouco tempo depois, Pazuello e o secretário-executivo Élcio Franco seriam demitidos. Antes, porém, os dois foram encarregados pelo presidente Bolsonaro de investigar as denúncias apresentadas pelos irmãos Miranda sobre a compra da Covaxin. E, é claro, nada encontraram de errado.

Se e quando voltar à CPI para depor, o general Pazuello deveria ser preso, não só por ter mentido, com sua arrogância de "dirigente máximo", mas pelo conjunto da obra, junto com os seus coronéis, que fizeram a ocupação militar do Ministério da Saúde, após a demissão do médico Luiz Mandetta. .

O novo escândalo surge após a violenta nota do ministro da Defesa, Braga Netto, e dos comandantes militares, contra o presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz, por supostamente ter ofendido as Forças Armadas como instituição, ao afirmar que lá havia uma "banda podre" envolvida em negociatas.

Caso ainda tenha alguma dúvida, o general Braga Netto, que era o chefe da Casa Civil e coordenador do combate à pandemia quando esses fatos todos aconteceram, poderá requisitar os documentos da CPI que mostram a atuação dos coronéis Élcio Franco (o número 2 de Pazzuello, em cujo gabinete foi feita a reunião com a World Brands, o principal responsável pela compra de vacinas), Blanco, Pires, Guerra, Odilon, Hélcio e Henderson, entre outros integrantes da tropa de choque do MS.

O que se espera agora é que o Exército também investigue esses militares, antes de soltar a próxima nota com ameaças aos integrantes da CPI, que já está de posse da gravação obtida pela Folha.

Fica cada vez mais provado que a demora na compra de vacinas não se deveu só ao negacionismo presidencial e à incompetência da sua equipe de governo, mas a outros interesses, que não eram os de vacinar a população brasileira, com os menores preços oferecidos pelos fabricantes e no menor prazo possível.

As famílias dos 539,1 mil mortos na pandemia até ontem, e as instituições que ainda estão funcionando, um dia haverão de cobrar dos responsáveis por esta tragédia todo o sofrimento e a dor pelas perdas, por ação ou omissão do governo brasileiro.

Vida que segue.

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