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OPINIÃO

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500 dias de pandemia, 550 mil mortos: faltam 525 dias para pesadelo acabar

Manifestante carrega cartaz com pedido de impeachment em ato contra Bolsonaro, no Rio: Arthur Lira não quer saber disso  - ERBS Jr/FramePhoto/Estadão Conteúdo
Manifestante carrega cartaz com pedido de impeachment em ato contra Bolsonaro, no Rio: Arthur Lira não quer saber disso Imagem: ERBS Jr/FramePhoto/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

26/07/2021 15h08

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Com o impeachment congelado, depois do cavalo de pau do governo, que entregou os anéis, os dedos e o cofre ao Centrão, ainda faltam exatamente 525 dias sem chances de acabar esse pesadelo chamado Bolsonaro, nem sinais de que o Brasil possa voltar à normalidade.

Não tem milagre. Neste final de semana, o país ultrapassou a marca de 550 mil mortos em 500 dias de pandemia e a vacinação continua em conta-gotas com apenas 23,3% da população totalmente imunizada.

Por mais crimes de responsabilidade e corrupção que a CPI da Covid ainda descubra no enfrentamento da pandemia, o presidente se blindou contra qualquer tentativa de impeachment.

As novas manifestações do "Fora Bolsonaro" perderam tração neste sábado porque a população já se deu conta dessa impossibilidade. Ainda que as oposições consigam colocar milhões de pessoas nas ruas, não há força humana que faça Arthur Lira, o poderoso presidente da Câmara, agora com o apoio do seu correligionário Ciro Nogueira na Casa Civil, abrir qualquer processo contra o presidente.

Mais três capitais suspenderam hoje a vacinação da primeira dose contra a covid por falta de imunizantes: Vitória, Florianópolis e Maceió.

Agora já são oito capitais com vacinação paralisada: Belém, Rio de Janeiro, Salvador, Campo Grande e João Pessoa já estavam sem novas doses desde a semana passada.

O governador paulista João Doria escreveu agora nas suas redes sociais: "Ministério da Saúde tem 16 milhões de vacinas paradas em estoque e centenas de brasileiros morrendo diariamente por falta de vacinas. Vergonhosa essa falta de gestão e senso de urgência".

Há dois meses, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou um plano para testagem em massa contra a covid, que pretendia diagnosticar até 26,6 milhões de pessoas por mês, mas a Folha informa nesta segunda-feira que a iniciativa ainda nem saiu do papel.

Queiroga, que prometia iniciar a testagem "em poucos dias", ainda busca recursos extras no Ministério da Economia para "novas compras de testes nos próximos meses". Quantos, quando?

Bolsonaro não parece preocupado com nada disso, mas com o "fundão eleitoral" de R$ 5,7 bilhões, tema da sua conversa de hoje com os devotos no cercadinho do Alvorada. Depois de anunciar várias vezes que iria vetar a proposta incluída no orçamento para 2022, o presidente explicou aos seguidores que não será bem assim.

"Deixar claro uma coisa. Vai ser vetado o excesso do que a lei garante. A lei [...] quase R$ 4 bilhões o fundo, o extra de R$ 2 bilhões será vetado".

Deu para entender? "Se eu vetar o que está na lei, eu estou incurso em crime de responsabilidade". Seria apenas mais um, qual o problema?

Enquanto faltam recursos para a Saúde, a Defesa não pode reclamar. No mês passado, não faltou dinheiro para pagar soldos e salários acima de R$ 100 mil para três generais da reserva da cozinha do governo: Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, que fizeram passeios de motocicleta com o capitão presidente pelas ruas de Brasília no fim de semana, sem dar bola para a torcida dos protestos.

Para chegar ao final do mandato, Bolsonaro governa com um olho nos militares e outro no Centrão porque sabe que, qualquer desatenção, pode ser a gota d´água, como ensinam os versos de Chico Buarque.

Dizem que dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro, mas para garantir o "projeto reeleição", o único que anima o governo, Paulo Guedes vai ter que fazer mágica sem dar um chapéu no teto de gastos.

Ao pensar que ainda faltam 525 dias para esse pesadelo acabar, com a média de óbitos se mantendo acima de mil por dia e o número de desempregados batendo recordes todo mês, confesso que dá um certo desânimo.

Entra semana, sai semana, e o Brasil real está condenado a viver na mesma inhaca, sem saber se compra comida ou paga a conta de luz, que não para de subir.

Sem impeachment, só nos resta esperar as próximas eleições, no distante outubro do ano que vem.

Se é que vamos mesmo ter eleições sem voto impresso, a nova cloroquina da temporada.

Vida que segue.