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OPINIÃO

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A semana em que Jair Bolsonaro murchou e virou um presidente decorativo

Michel Temer, que vive dias de glória, ri de imitação do presidente Jair Bolsonaro no jantar de Naji Nahas em sua homenagem - Reprodução
Michel Temer, que vive dias de glória, ri de imitação do presidente Jair Bolsonaro no jantar de Naji Nahas em sua homenagem Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/09/2021 17h34

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Vice-presidentes decorativos já tivemos muitos no Brasil. Um deles, Michel Temer, até reclamou disso para a então presidente Dilma Rousseff, quando já planejava tomar seu lugar.

Itamar Franco também foi vice decorativo de Fernando Collor, antes de ser chamado para ocupar sua cadeira, após o impeachment.

O atual, general Hamilton Mourão, também não orna muito o cargo, prefere agir mais nas sombras.

Mas acho que temos, pela primeira vez, um presidente decorativo, depois do fracasso do autogolpe de 7 de Setembro.

Nem promove mais os roles de motos, não sobe mais em caminhões de som para ameaçar ministros do STF, parece que desistiu da cloroquina e do voto secreto, ficou sem assunto.

Orientado e obscurecido por Temer, que vive seus dias de glória em saraus e lives, virou um ex-presidente em atividade, ao substituir o capitão raivoso por um outro Bolsonaro, que ficou irreconhecível, ninguém mais sabe quem é.

O presidente murchou, encolheu-se aos seus aposentos, não recebe mais ninguém de fora do governo e, para preencher a agenda, limita-se a cumprir despachos burocráticos com seus ministros.

Em nova versão light, Bolsonaro só não deixou de ser notícia, por ter mandado aquele novo Pazzuelo de jaleco suspender a vacinação de adolescentes.

Depois de ouvir alguns comentários na Jovem Pan, ele ligou para o ministro e falou dos perigos que os jovens estavam correndo ao serem vacinados, segundo a especialista Ana Paula do Vôlei.

Mais do que depressa, o encarregado da Saúde convocou uma confusa entrevista coletiva para repetir o que havia ouvido do chefe, sem entender, e sem maiores explicações deu a ordem para parar tudo.

Ainda bem que não foi obedecido pela maioria dos secretários estaduais.

Por mais calmantes e livros de autoajuda que tenham-lhe recomendado, Bolsonaro nunca deixará de ser aquele Bolsonaro que não perde uma chance para exercer sua ignorância, irresponsabilidade e arbítrio em relação às vacinas.

Provou-se depois que a causa da morte de uma adolescente vacinada em São Paulo nada tinha a ver com a imunização, mas o estrago já estava feito.

Não sei o que Temer falou para Bolsonaro e qual foi o acordo que teriam feito com Alexandre de Moraes, mas o fato é que o presidente ficou com mais medo sobre o seu futuro, olhando para os lados, pensando antes de falar, virou outra pessoa.

Fiquei até preocupado esta semana quando saiu o novo Datafolha. Com números tão negativos sobre a sua popularidade e menores chances de ser reeleito (perderia para todos os concorrentes no segundo turno), o capitão poderia ter uma recaída, mas ele se limitou a xingar o instituto e o ex-presidente Lula, líder nas pesquisas, o novo inimigo número um, que substituiu o ministro Moraes, por óbvio, como diria o senador Randolfe Rodrigues.

Sem nada de positivo para apresentar em seu governo, Bolsonaro volta a acenar com o perigo do comunismo, se a esquerda voltar ao poder, a única bandeira que lhe restou empunhar, esquecendo-se que Lula já governou o país por oito anos e não mete mais medo em ninguém.

Semana que vem, o novo presidente vai fazer discurso na Assembleia da ONU, em Nova York, onde já prometeu dizer umas "verdades", para quem o acusa de destruir a Amazônia e dizimar as áreas de proteção das populações indígenas.

Para preparar o discurso, ele recebeu nada menos que quatro vezes em audiência o chanceler Carlos França. Menos mal que não falará de improviso, e o delirante Ernesto Araújo já tenha sido defenestrado do Itamaraty. Basta aprender a ler no teleprompter para não passarmos um novo vexame.

E assim termina esta semana atípica no governo, sem maiores crises até o momento, fora a tentativa de aumentar o imposto sobre operações financeiras (IOF), que deixou o mercado chateado, para financiar um Bolsa Família com outro nome.

Paulo Guedes, quem diria, virou um novo Robin Hood... Está ficando tudo muito esquisito.

Vida que segue.