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Terceira via de arrependidos empaca: bolsonaristas ainda preferem original

Ciro, Mandetta e Alessandro Vieira participam de debate da terceira via: a busca de um nome para enfrentar Lula e Bolsonaro - Reprodução/GloboNews
Ciro, Mandetta e Alessandro Vieira participam de debate da terceira via: a busca de um nome para enfrentar Lula e Bolsonaro Imagem: Reprodução/GloboNews

Colunista do UOL

30/09/2021 15h25

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O único fato novo na pesquisa PoderData divulgada nesta terça-feira foi revelar a fraqueza do grupo dos "arrependidos", o bloco de ex-bolsonaristas que estão empacados na disputa da vaga da chamada terceira via.

Os governadores tucanos João Doria e Eduardo Leite, que apoiaram Bolsonaro em 2018 e ainda disputarão as prévias do partido, estão entre os candidatos nanicos e, num possível segundo turno, ambos perderiam para Lula por uma diferença de 31 pontos: 56% a 15% para cada um.

No segundo turno, Lula bateria Bolsonaro por 56% a 33%, e ganharia de todos os outros por larga margem.

Mas Doria, Leite e Ciro Gomes, que corre em faixa própria, ganhariam de Bolsonaro no segundo turno, também com grande vantagem.

Isso explica por que os três, e os demais que ficam abaixo deles na pesquisa, escolheram Lula como alvo principal, para evitar que ele possa decidir a eleição já no primeiro turno, enquanto poupam Bolsonaro nas críticas.

No primeiro turno, Ciro teria 5%, Leite ficaria com 4% e Doria não passa de 3%, abaixo de José Luiz Datena e empatado com Luiz Henrique Mandetta, bem abaixo dos brancos e nulos (9%).

A estratégia dos nanicos não deu certo, por enquanto, porque tanto Lula como Bolsonaro oscilaram para cima no primeiro turno.

Lula ganhou 3 pontos e foi para 40% das intenções de voto, ao passo que Bolsonaro subiu 2 pontos, passando de 28% para 30%.

Ou seja, os eleitores de Bolsonaro ainda preferem o original aos que disputam seu lugar no campo da direita.

Chama também a atenção que o pedetista Ciro Gomes, tanto nos cenários com Doria como com Leite, fica com apenas 5%, bem abaixo dos 12% que alcançou em 2018 na sua terceira campanha presidencial, quando foi para Paris e se absteve na campanha do segundo turno.

Ao contrário do que aconteceu em suas três campanhas anteriores, desta vez Ciro centrou desde o início a sua artilharia em Lula e no PT, para colher votos no antipetismo, que antes votava no PSDB e, depois, em Bolsonaro.

Em 2022, Ciro, que seria o candidato natural e mais competitivo da terceira via, sem saber se vai mais para a esquerda ou para a direita, está embolado com outros seis pré-candidatos. Entre eles, a disputa na terceira via deverá ficar entre Ciro e um dos tucanos, a não ser que se aliem já no primeiro turno. O resto não conta.

A pesquisa foi feita por telefone pelo PoderData, divisão de estudos do site Poder 360, dirigido pelo jornalista Fernando Rodrigues, que por muitos anos trabalhou na Folha. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

O PoderData não incluiu o nome do ex-juiz Sergio Moro, que reapareceu esta semana no Brasil e conversou com o Podemos sobre uma possível candidatura presidencial, mas adiou para novembro uma decisão, caso vislumbre alguma possibilidade de furar a polarização entre Lula e Bolsonaro, o que não parece provável até agora.

Na nova manifestação da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, marcada para o próximo sábado, entre os pré-candidatos só Ciro Gomes confirmou presença até agora. Lula não participou de nenhum ato anterior e deixou em aberto a possibilidade de subir ao palanque desta vez, caso outros concorrentes compareçam.

Será a primeira vez que haverá um palanque unificado, em frente ao Masp, na avenida Paulista, um dos 214 atos já confirmados no Brasil e no exterior.

Depois das grandes manifestações antidemocráticas de Jair Bolsonaro no 7 de Setembro, estes serão os primeiros atos da oposição de esquerda. Os próximos já foram marcados para o dia 15 de novembro.

Com o avanço da vacinação e o fim das restrições à circulação de pessoas, os organizadores ligados aos movimentos sociais e sindicais esperam que estas se tornem as maiores manifestações da campanha, que pede o impeachment do presidente Bolsonaro pelo conjunto da obra.

A um ano da eleição, a disputa de 2022 está aos poucos saindo das redes sociais para as ruas, o que pode mudar o cenário retratado pela pesquisa do PoderData.

Mas como esta confirma os números de pesquisas anteriores de outros institutos feitas ao longo do ano, não se vê ainda quem na terceira via poderia enfrentar a atual polarização entre o ex-presidente Lula e o atual presidente Bolsonaro, por maiores que sejam os esforços de setores da mídia e do mercado.

2022 apenas repete o cenário de 2018, antes de Lula ser retirado da disputa.

Vida que segue.

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