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OPINIÃO

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CPI chegando ao fim: o governo de Jair Bolsonaro agoniza em praça pública

Paciente da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade, chega ao Senado para prestar depoimento na reta final da CPI da Covid - Edilson Rodrigues/Agência Senado
Paciente da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade, chega ao Senado para prestar depoimento na reta final da CPI da Covid Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Colunista do UOL

07/10/2021 14h59Atualizada em 07/10/2021 16h13

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Abaixo, um breve resumo dos principais fatos deste 7 de outubro de 2021, um dia comum dentro da nova normalidade. São 15 horas, e muita coisa ainda pode acontecer. Como diz nosso comandante supremo das Forças Armadas, nada esta tão ruim que não possa piorar.

O relatório final da CPI da Covid só será divulgado no dia 19, mas os fatos macabros revelados, ao longo de 163 dias e 56 depoimentos sobre ações e omissões, irresponsáveis e criminosas, da administração federal no combate à pandemia, já foram suficientes para deixar o governo de Jair Bolsonaro agonizando em praça pública, exatamente um mês após o autogolpe fracassado de 7 de setembro, que o levou a assinar o armistício com o STF para garantir uma sobrevida.

Nesta quinta-feira, os estarrecedores depoimentos de um paciente que sobreviveu na masmorra hospitalar e de um médico que foi demitido da Prevent Senior não deixam mais nenhuma dúvida sobre o papel de agentes públicos e privados nesta tragédia prestes a completar a marca de 600 mil vítimas.

Ficou provado, ao final, que não precisava ter morrido tanta gente, e milhares de vidas poderiam ter sido salvas se, desde o início, o governo não tivesse atrapalhado o combate à pandemia, com seu negacionismo doentio, o atraso e a corrupção na compra de vacinas, as sucessivas demissões de ministros da Saúde, a falta de uma coordenação nacional, os conflitos com os governadores e as grotescas figuras do "gabinete paralelo" que orientavam o presidente da República.

Nada aconteceu por acaso. Foi uma política deliberada para negar a ciência e provar que o presidente estava certo em receitar cloroquina e defender a imunidade de rebanho, ao pregar para os seus devotos em lives, entrevistas e conversas no "cercadinho" do Alvorada, ao longo destes 19 meses de pandemia. .

Quando mais gente morria, e os hospitais ficavam superlotados de doentes, mais o capitão se apegava às suas certezas, como um napoleão enlouquecido do cerrado que combatia seu próprio país até a morte para salvá-lo dos comunistas.

No mesmo momento em que o cidadão brasileiro Tadeu Frederico de Andrade revelava ao país como suas filhas o salvaram da morte planejada na Prevent Senior, para cortar custos de UTI, desligar aparelhos e ministrar morfina, Bolsonaro fazia a sua última tentativa para salvar a cloroquina, ao intervir, de longe, numa reunião da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), órgão do Ministério da Saúde que orienta o uso de remédios e insumos.

Por "ordens de cima", ou melhor, do topo da hierarquia, o ministro Marcelo Queiroga simplesmente mandou tirar da pauta a discussão sobre o protocolo do "kit covid" implantado pelo general Eduardo Pazuello, logo quando assumiu o cargo de ministro, sob a ordem "um manda e outro obedece", que seria enterrado nesta reunião, por recomendação dos médicos e técnicos da comissão.

E sabem o que aconteceu? O documento sobre a cloroquina vetado por Bolsonaro logo vazou na CPI e o fiel Queiroga foi convocado para depor, pela terceira vez, quando a comissão já estava encerrando os trabalhos de ouvir testemunhas e investigados, e preparando o relatório final. Nasceram para perder, incompetentes que são.

Queiroga pazualinizou-se para não ser demitido, em meio a mais uma crise no Ministério da Saúde, que foi parar numa delegacia de polícia de Brasília, onde a secretária do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, mais conhecida como Capitã Cloroquina, registrou boletim de ocorrência contra o chefe de gabinete, João Lopes de Araújo Junior, por sofrer ameaças, depois de ter sido acusada de agir, em conjunto com o ministro Onyx Lorenzoni, de tramar a queda do ministro da Saúde.

Lopes teria dito a Mayra que "vai ver a mão de Deus" sobre ela. Pobre Deus, em nome de quem se falam e fazem as maiores barbaridades.

Este é o nível do "ministério técnico" nomeado por Bolsonaro para se livrar do "é dando que se recebe", quem diria... Quanto mais fraco o governo, mais forte fica o Centrão. A ex-presidente Dilma e o ex-super Posto Ipiranga do capitão que o digam.

Na esbórnia em que se transformou esse governo, com o ministro Paulo "offshore" Guedes procurando uma boia para se salvar, depois de ser lançado ao mar pelo Centrão, que o convocou a prestar contas no plenário, o presidente Bolsonaro ainda encontrou tempo para vetar o trecho de uma nova lei aprovada no Congresso, que previa a oferta gratuita de absorventes higiênicos e outros cuidados básicos de saúde menstrual a alunas de escolas públicas de ensino médio, mulheres em situação de rua e presidiárias.

É preciso, claro, economizar verba pública para pagar as emendas parlamentares do bilionário orçamento secreto que agora está sendo investigado pela Controladoria-Geral da União e Polícia Federal. Em audiência na Câmara, o ministro da CGU, Wagner Rosário, disse "não ter dúvida" de que há corrupção na compra de tratores pelo governo via orçamento secreto, em que haveria pagamento de propina a parlamentares. Bolsonaro já não controla todos os controles, tem alguma coisa errada na cabine de comando.

Na mesma hora, no mesmo país, numa outra sala do mesmo Congresso Nacional, o sobrevivente Tadeu Frederico de Andrade contava sua saga num digno e pungente depoimento, que fez até senador ficar com lágrimas nos olhos (ver matéria aqui no UOL).

O que falta ainda para enterrar de vez esse desgoverno, sem choro nem vela, sem dó nem piedade?

Vida que segue.