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OPINIÃO

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Economia esculachada: de que adiantaria trocar Guedes, se Bolsonaro ficar?

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes: risco fiscal e crise entre poderes afugentam investidor - ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes: risco fiscal e crise entre poderes afugentam investidor Imagem: ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Colunista do UOL

22/10/2021 16h22

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Qual é o cidadão brasileiro com um mínimo de vergonha na cara que aceitaria o cargo de ministro da Economia nesse momento?

Quem gostaria de ser um novo Marcelo Queiroga para segurar essa bucha, sabendo que o presidente entregou a política econômica aos cuidados da tropa de choque do Centrão de Arthur Lira?

Se Paulo Guedes já está fazendo tudo o que o chefe quer para se reeleger, por que iria trocá-lo?

Depois que o golpe de 7 de setembro fracassou, a dupla mandou o tal de teto de gastos para o espaço e deu uma banana aos rentistas da Faria Lima, para comprar votos dos pobres que estão passando fome e acalmar caminhoneiros que ameaçam entrar em greve. Entramos agora no chamado vale tudo pela reeleição. Até inaugurar uma rede de abastecimento de água no Nordeste, sem água nos canos, está valendo.

E não acontece nada, nenhuma reação das instituições e da adormecida sociedade civil. Vai ficar por isso mesmo, logo estará tudo normalizado.

Por muito, muito menos, multidões saíram às ruas para derrubar Dilma Rousseff, nas ondas da Lava Jato, patrocinadas por aliados da mídia, da Fiesp e do mercado, que acabaram levando Bolsonaro ao poder, tendo o Posto Ipiranga como seu grande fiador.

Havia problemas sérios, sim, na condução da economia, mas nada comparável ao esculacho de agora, com os preços fora de controle, a queima de divisas para segurar o dólar, os juros nas alturas, os desempregados brigando por restos de comida nos caminhões de lixo, o mundo todo rindo de nós.

Se tudo der errado, sempre restarão as Ilhas Virgens, não é, Paulo Guedes?

Cada vez que o Posto Ipiranga sem combustível no tanque abre a boca, para defender as novas pedaladas fiscais, o dólar dispara e a off shore do ex-superministro engorda em reais.

Como um homem tão rico, com o burro na sombra, pode se submeter a ser tão humilhado diariamente pelo seu chefe? Em nome de quê? Juro que não consigo entender. Mistério.

Diz ele que é para continuar "lutando pelas reformas", que estão todas emperradas no Congresso, e não irão resolver nenhum dos nossos problemas, assim como aconteceu com a previdenciária e a trabalhista, que só ferraram os trabalhadores e os futuros aposentados, com exceção dos militares.

Agora que a vaca nacional está indo solenemente para o brejo, cadê os defensores do "governo liberal na economia e conservador nos costumes", que não é uma coisa nem outra, apenas um casamento de interesses de militares saudosos do poder, parlamentares venais, rentistas famintos e a guilda dos superfuncionários federais para manter seus privilégios?

Quem é que ainda vai querer investir neste país, onde o governo não se dá ao respeito e muda as regras do jogo a cada novo surto do presidente, enredado em seu labirinto de crises de todo tipo, que chora no banheiro para a mulher não ver?

Como vocês já devem ter reparado, hoje esta coluna tem mais perguntas do que respostas, até porque o país inteiro está perplexo, diante da catástrofe anunciada, desde a campanha de 2018, quando foi eleito um candidato sem programa de governo que fazia "arminha" com os dedos e prometia metralhar os adversários, dono de um tenebroso prontuário no Exército e no baixo clero da Câmara.

Bastava consultar o Google, mas a maioria preferiu a barbárie à civilização, representada no segundo turno por um respeitado professor universitário, ex-ministro da Educação e ex-prefeito da maior cidade do país.

Na sexta-feira, em mais um comício reeleitoral, Bolsonaro o atacou, ao dizer que, se Fernando Haddad fosse o presidente, teria decretado um lockdown nacional na pandemia e tornaria a vacina obrigatória.

Pois bem, se isso tivesse sido feito, não estaríamos hoje chorando a perda de mais de 600 mil vidas, como denunciou e provou a CPI da Covid, que acusou o presidente de crimes contra a humanidade, em seu relatório final, divulgado esta semana, e que, segundo seu filho primogênito Flávio, provocaria gargalhadas do presidente.

Só para se ter uma ideia da farsa encenada por Bolsonaro & Guedes: o Bolsa Família, agora chamado de Auxílio Brasil, estava sem reajuste há três anos. Os 20% concedidos agora, para chegar a R$ 400, valerão até dezembro de 2022, depois das eleições, é claro. Em pouco tempo, a inflação será bem maior que isso. Hoje, não dá para comprar nem meia cesta básica. É um escárnio, assim como o auxílio de R$ 400 oferecidos aos caminhoneiros, que só darão para encher meio tanque de diesel.

Ou seja, é tudo uma grande enganação, chantagem em busca de votos. Ninguém nesse governo, a começar por Bolsonaro & Guedes, está preocupado com a miséria, a fome, o desespero de milhões de brasileiros. Pensam apenas na reeleição. Para fazer o quê? São todos uns pândegos, incompetentes, insensíveis, completamente fora da realidade.

Mas um dia haverão de pagar na Justiça por todos os sofrimentos impostos ao povo brasileiro.

Vida que segue.