Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nasce o PB, Partido do Bolsonaro: baixo clero no poder unido pela reeleição

O presidente do PP, Ciro Nogueira, presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto: todos juntos no novo PB -  Agência Brasil .
O presidente do PP, Ciro Nogueira, presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto: todos juntos no novo PB Imagem: Agência Brasil .

Colunista do UOL

12/11/2021 13h47

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Pouco importam as letras das siglas abrigadas no Centrão. Estão todas se diluindo no novo partido-ônibus, o PB, que está sendo montado por Bolsonaro para disputar a reeleição em 2022.

Depois de sair do PSL, o presidente ficou dois anos sem partido, com o fracasso da sua tentativa de criar um partido só para a família e aliados, a natimorta Aliança para o Brasil.

Nesse período, ele "namorou" com várias siglas, mas achou melhor juntar todas as que já existiam no Centrão, com bancadas e fundo partidário e eleitoral, que é o que lhe interessava para o seu projeto de permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto, seu único projeto de governo até agora. .

Mas qual delas seria a escolhida para a sua filiação?

Tudo indicava que seria o PP, sigla do Partido Progressista (!), criado por Paulo Maluf, com as sobras da Arena do regime militar, onde o capitão já tinha passado boa parte da sua carreira de parlamentar do baixo clero.

Só que surgiu um problema de última hora: a outra sigla que ele namorava era o PL, o Partido Liberal do mensaleiro Valdemar da Costa Neto.

Ao se sentir preterido, Costa Neto ameaçou pular do barco bolsonarista, diretamente para o de Lula, de quem já tinha sido aliado em 2002, indicando o vice-presidente José Alencar.

"Em evento partidário há dois meses, aliados dizem que Valdemar da Costa Neto descascou o governo e fez duras críticas à competência dos ministros _ deixando claro que Flávia Arruda, ministra-chefe da Secretaria de Governo, estava por conta própria no barco furado. Quem esteve na reunião comentou que o clima era de "certeza" que Valdemar fecharia com Lula", informa a coluna Radar da Veja, que começou a circular hoje.

Por via das dúvidas, sabendo bem com quem estava lidando, o presidente achou melhor entrar logo no PL, e até já marcou a data para a filiação: dia 22 de novembro, o número da sigla de Valdemar na urna.

No final das negociações da divisão do butim, o PP ficaria com o vice na chapa, que será escolhido por Bolsonaro entre os estadistas do partido, com direito também a apoiar Arthur Lira para um novo mandato na presidência da Câmara.

A nova configuração do Partido do Bolsonaro pode implodir outra vertente do Centrão, antes de ser formalizada, a União Brasil, que fundirá o DEM com o PSL, de onde o presidente havia saído com os filhos, por divergências sobre a divisão do fundo partidário e do poder, com o dono da sigla, Luciano Bivar, um cartola de Pernambuco, que lhe emprestou a legenda em 2018.

Já é certo que boa parte dos parlamentares do PSL voltarão para os braços do presidente, agora candidato à reeleição, assim como também nomes do DEM e do MDB governista, além de outros partidos menores, o Republicanos e o Patriotas, e outras siglas de aluguel.

Até de partidos que se dizem de oposição, como o PDT, o PSB e o PSDB, o PB poderá angariar os dissidentes que votaram a favor da PEC dos Precatórios, contra a orientação partidária.

O tratoraço passado pelo governo na Câmara para aprovar a PEC, ao custo de caminhões de dinheiro de verbas das emendas do Orçamento secreto (ninguém sabe até agora exatamente quantos bilhões foram empregados na operação), consolidou a nova e ampliada base governista, não só para evitar qualquer risco de impeachment, mas também para enfrentar a dura campanha de 2022.

Daqui para a frente, com esse casamento de interesses, tudo vai depender das próximas pesquisas. Não estão em questão fidelidades partidárias e programáticas, apenas o poder.

Se o novo Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, com os R$ 400 mensais oferecidos pelo governo até o final do ano eleitoral, for capaz de recuperar a popularidade perdida por Bolsonaro, tudo bem. O novato PB seguirá unido até as eleições. Caso contrário, tchau, querido.

Segundo as pesquisas desta semana, não será fácil, porque a inflação não para de subir e esse bolsa-voto, que já é pouco, terá vida efêmera, valendo todo mês cada vez menos.

O novo PoderData, divulgado hoje, informa que a rejeição a Bolsonaro bateu novo recorde, chegando a 58%, próximo dos 56% apontados pela pesquisa Genial/Quest, na qual 69% acreditam que Bolsonaro não merece ser reeleito.

Em todos os últimos levantamentos, Lula aumenta sua vantagem sobre Bolsonaro, que amplia sua rejeição, e os pré-candidatos da terceira via, estão cada vez mais comendo poeira na faixa do um dígito.

A entrada em cena do camaleão Sergio Moro, o ex-juiz e ex-ministro que prendeu Lula e se aliou a Bolsonaro, em 2018, de quem foi ministro da Justiça e depois rompeu, movimentou esta semana a milícia digital do presidente, que apontou sua artilharia para o "traidor".

Segundo a consultoria Arquimedes, citada por Ancelmo Gois em sua coluna no Globo, 49% das menções sobre o assunto no Twitter partiram de simpatizantes de Bolsonaro, enquanto 28% vieram de apoiadores do próprio ex-juiz e apenas 22% de internautas de esquerda.

Com Bolsonaro e Moro disputando a mesma faixa no eleitorado de direita e extrema-direita, para ver qual vai ao segundo turno, quem sai ganhando é Lula, e perdem todos os outros nomes da terceira via, que não encontram espaço para crescer.

Mas nem todos concordam que Bolsonaro já é carta fora do baralho, um presidente que vai entrar na disputa para perder.

O cientista político Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral e fundador da consultoria política Dharma, em entrevista à BBC Brasil, avalia que Bolsonaro se mantém um candidato competitivo com chances de permanecer no Palácio do Planalto em 2023.

Apesar de todas as pesquisas, ele alerta que o cenário de 2018 está se repetindo agora, com uma ampla subestimação do potencial do presidente, que tem a "chave do cofre":

"Todo mundo subestima o Bolsonaro. O Lula subestima o Bolsonaro. Quem está com o Bolsonaro subestima o Bolsonaro. Quem quer fazer terceira via subestima o Bolsonaro. E uma característica bem importante do Bolsonaro como persona política é o fato de que ele chegou onde está com todo o mundo o subestimando. Assim ele chegou à Presidência da República. Assim ele vai finalizar provavelmente o mandato sem impeachment, e assim ele pode inclusive ser reeleito".

Creomar só se esquece de um detalhe: Bolsonaro agora é o presidente, com um passivo enorme no governo, ao contrário de 2018, quando ele era um franco-atirador contra tudo e contra todos, surfando na onda do combate à corrupção e do antipetismo.

Entre uma eleição e outra, com o desastre ferroviário da sua gestão, cresceu também o antibolsonarismo, a nova onda que Sergio Moro quer surfar agora.

Sem a toga para protegê-lo, Moro agora também vai virar vidraça para explicar o que andou fazendo de pouco republicano na Operação Lava Jato, depois da desconstrução da sua imagem pelo Supremo Tribunal Federal, que o acusou de parcialidade no processo contra o ex-presidente Lula.

Ao final desta agitada semana pré-eleitoral, avalio que o destino do Brasil será decidido mesmo, gostemos ou não, entre o presidente Bolsonaro, que tem a caneta, o ex-presidente Lula, que tem a memória dos seus governos, e o ex-herói Sergio Moro, que ainda está tentando criar novo personagem e achar um novo discurso, com o auxílio de uma fonoaudióloga da Globo. Tem candidato para todo gosto.

Façam suas apostas. Ainda temos bastante tempo até a abertura das urnas eletrônicas, que podem confirmar ou desmentir as pesquisas eleitorais. Não deixa de ser bastante curioso este cenário, convenhamos, já pegando fogo nas redes antissociais. Até rimou...

E vida que segue.