Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'NÃO, NÃO E NÃO': Veja erra ao colocar Lula, Bolsonaro e Moro num balaio só

 Lula, Moro e Bolsonaro: qual deles é o menos rejeitado e com maior intenção de votos? Eles não estão no mesmo patamar nas pesquisas - Reprodução, Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e Reprodução/Jovem Pan
Lula, Moro e Bolsonaro: qual deles é o menos rejeitado e com maior intenção de votos? Eles não estão no mesmo patamar nas pesquisas Imagem: Reprodução, Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e Reprodução/Jovem Pan

Colunista do UOL

19/11/2021 15h32

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

"Quer fazer política? Larga a toga, se filia a um partido e vá disputar eleições."

Este desafio de Lula a Moro foi feito pelo ex-presidente no seu último discurso em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos, antes de ser preso pela Polícia Federal, em São Bernardo do Campo, no dia 7 de abril de 2018, por ordem do ex-juiz, e levado para Curitiba, onde passou 580 dias numa cela solitária, impedido de disputar as eleições daquele ano.

Moro não se fez de rogado. Trinta meses depois, ele voltou semana passada da temporada de um ano trabalhando como consultor nos Estados Unidos, para aceitar o desafio de Lula e lançar sua candidatura a presidente, e já entrou em campanha, sem nunca ter disputado antes uma eleição, nem para vereador.

Mal chegou, e já está na capa de Veja, ao lado de Lula e Bolsonaro, que colocou os três com o mesmo tamanho acima de um botão escrito "rejeição", acompanhado do título em letras garrafais: "NÃO, NÃO E NÃO".

O que isso quer dizer? Que não se deve votar em nenhum deles ou que seus índices de rejeição são iguais?

A explicação só vai ser encontrada no segundo parágrafo da matéria de abertura, uma obra-prima de manipulação de números das últimas pesquisas eleitorais para justificar a tese levantada na capa:

"A pouco menos de um ano da votação, o ambiente não é favorável aos postulantes ao Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro tem índices de rejeição acima dos 60%. Seu ex-ministro Sergio Moro, que acaba de se filiar ao Podemos, lida com números parecidos. Os porcentuais de Lula são menores, na casa dos 40%, mas até agora ele não foi submetido à artilharia pesada dos concorrentes, o que certamente ocorrerá".

Se depender de Veja, e de boa parte da mídia nacional, isso vai ocorrer, com certeza. Os adversários nem precisam se preocupar.

Foi o jeito que encontraram de esconder o fato de Lula liderar todas as pesquisas por larga margem, podendo vencer já no primeiro turno, com o dobro de intenções de voto de Bolsonaro, o segundo colocado, e várias vezes mais do que Moro, que não passa de um dígito em nenhum levantamento.

E o principal: além de atingir 56% dos votos válidos do primeiro turno na pesquisa Genial/Quaest, em que se baseou a reportagem, Lula tem o menor índice de rejeição entre os principais candidatos (39%)

Na verdade, o ex-presidente tem uma rejeição quase 30 pontos porcentuais menor do que Bolsonaro, o campeão, com 67%, seguido de perto por Moro, com 61%.

Detalhe: com mais de 50% de rejeição, sabem todos os analistas de pesquisa, nenhum candidato se elege porque para isso precisa ter 50% mais um dos votos válidos.

A reportagem toda faz uma ginástica olímpica para colocar esses três candidatos no mesmo patamar, já dando de barato que Sergio Moro vai ser o candidato da terceira via.

E faz isso na semana em que foi divulgada a pesquisa Genial/Quaest, no momento em que Lula era recebido, com honras de chefe de Estado, em sua turnê pela Europa, pelas principais lideranças políticas do continente, aplaudido longamente de pé no Parlamento Europeu e em universidades, um gritante contraste com o isolamento de Bolsonaro nos fóruns internacionais.

Se Lula não mereceu uma capa positiva de Veja esta semana, pode esquecer,: isso nunca mais acontecerá.

A última de que me lembro foi na campanha de 1994, quando Elio Gaspari, que era um dos diretores da revista, acompanhou uma semana na caravana de ônibus com Lula pelo sul do país, e deu este título na capa: " Lula sozinho na estrada".

Naquela fase da campanha, como agora, Lula estava disparado à frente nas pesquisas, com o dobro de intenções de voto de FHC, que acabou vencendo a eleição no primeiro turno, a bordo do sucesso do Plano Real.

Não dá para comparar, nem de longe, Bolsonaro e Moro com FHC, e não tem nenhum novo Plano Real à vista nas mágicas de Paulo Guedes, agora com seu teto solar aberto.

Aconteça o que acontecer até outubro de 2022, eu gostaria muito de ver um debate presidencial com a participação de Lula, Bolsonaro e Moro, agora sem toga.

Será a oportunidade que os eleitores terão para não votarem no escuro em salvadores da pátria, e se arrependerem depois.

Como diria o Ratinho, cada um terá de mostrar se tem café no bule.

Vida que recomeça.

***

Em tempo: antes que a furiosa milícia digital venha de novo invadir este Balaio, para dizer que sou suspeito para falar, porque fui assessor do ex-presidente Lula, nas campanhas e no governo, como consta do meu perfil no UOL, lembro mais uma vez que deixei esta função há exatos 17 anos, e faz mais de seis meses que não converso com o ex-presidente.

Em vez de me xingar, quero que desmintam, com fatos e argumentos, o que escrevi aqui, e se tem alguma mentira no meu texto.

Bom final de semana a todos.