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OPINIÃO

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Ladeira abaixo: aprovação a Bolsonaro cai abaixo de 20%, diz pesquisa Atlas

Colunista do UOL

29/11/2021 16h40

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Pesquisa da consultoria Atlas divulgada hoje, em parceira com os jornais El País e Valor Econômico, mostra que a avaliação positiva do governo Bolsonaro continua ladeira abaixo desde que o capitão assumiu, em janeiro de 2019.

No início do governo, o presidente tinha 39% de aprovação. Há um ano, caiu para 31%; agora, pela primeira vez na série de levantamentos, apenas 19% ainda o aprovam. Só um em cada cinco brasileiros.

Para 60% dos 4.921 eleitores entrevistados, o governo é classificado como ruim ou péssimo, enquanto 20% o consideram regular.

Sobre o desempenho pessoal de Bolsonaro, 65% o desaprovaram. A aprovação do seu modo de governar atingiu o patamar mais baixo da série histórica: 29%.

A pesquisa também não traz boas notícias para o ex-ministro Sergio Moro. Segurança pública e corrupção, as duas principais bandeiras de Bolsonaro na eleição de 2018, fazendo arminha com os dedos, que são também as únicas de Moro, neste principio de campanha para 2022, não são mais as principais preocupações dos brasileiros. Ao contrário, são alvos de críticas.

Para 65,2% a criminalidade está aumentando e outros 59,2% enxergam que a corrupção também está crescendo.

Hoje, a principal preocupação do eleitorado é com a economia, que está ruim para 72,3%, enquanto apenas 9,7% consideram positiva a atuação do governo nesta área.

A previsão do instituto Atlas para os próximos meses também não é nada animadora para Bolsonaro e Moro, que disputam a mesma faixa do eleitorado de direita e extrema-direita.

Em lugar do combate à corrupção, que não aconteceu no governo Bolsonaro-Moro, os eleitores agora priorizam a economia abalada pela inflação em alta. Querem empregos, poder colocar comida na mesa, gás a preço acessível para para poder cozinhar, ter acesso à saúde, à educação e à moradia, exatamente as áreas negligenciadas pelo atual governo, como já demonstraram diferentes pesquisas nos últimos meses.

O cientista político Andrei Roman, diretor da Atlas, constata que há um cansaço estrutural do bolsonarismo.

"Antes, a popularidade de Bolsonaro caía quando ele criava uma crise ou surgia uma notícia ruim, mas sempre se recuperava rapidamente após a fase de maior turbulência. Agora, ele parece ter perdido esta capacidade de pronta recuperação. Sugere um desgaste que veio para ficar", disse Roman ao repórter Ricardo Mendonça, do Valor Econômico, o jornal que é mais lido pela elite empresarial e pela turma da Faria Lima. .

O cenário para 2022 é completamente diferente daquele que levou à vitória de Bolsonaro, na onda conservadora do antipetismo justiceiro de 2018, promovido pela Lava Jato.

O que mais tem crescido agora é o antibolsonarismo, embalado no fracasso do combate à pandemia, que levou a mais de 600 mil mortes, e o antimorismo, na esteira das revelações da Vaza Jato e do julgamento de Moro, considerado pelo Supremo Tribunal Federal incompetente e suspeito no processo que levou Lula à prisão e o tirou da disputa de 2018.

Isso explica também porque Bolsonaro e Moro são os campeões de rejeição em todas as pesquisas, com índices em torno de 60%.

Quem ficar olhando o cenário pelo retrovisor pode quebrar a cara, porque a ameaça do "comunismo" também não cola mais, não assusta ninguém com mais de dois neurônios.

Quais são, afinal, as propostas do atual presidente e do seu ex-ministro da Justiça, que se uniram em 2018, para combater a "velha política", e enfiaram o país do buraco?

Bolsonaro e Moro são, ao mesmo tempo, criadores e criaturas do bolsonarismo e do lavajatismo, que destruíram a economia brasileira, aquela que já foi a 6ª maior do mundo, nem faz tanto tempo.

As coisas precisam ser ditas como de fato são, não como a gente gostaria que fossem. Não se deve confundir cara feia com seriedade, muito menos vagas promessas com compromissos de vida, programas de governo com slogans de ocasião e truques marqueteiros.

O que está em jogo não são as pessoas dos candidatos, mas o que eles representam para conduzir os destinos do país, de acordo com a trajetória de cada um. Raios não costumam cair duas vezes no mesmo lugar.

A cada pesquisa divulgada, o cenário vai ficando cada vez mais claro, faltando 10 meses para a eleição presidencial.

Pode parecer muito tempo, mas é pouco para inventar e construir uma candidatura a partir do nada. O pessoal da terceira via, agora congestionada de pré-candidatos de todos os matizes, que o diga. Nem todos juntos, o que é improvável, conseguem apresentar uma candidatura competitiva, de acordo com todas as pesquisas mais recentes. Antigamente, no tempo do onça, costumava-se dizer que urna não é penico, embora muitos se confundam.

Por falar nisso, gostaria até de saber o que está pensando desse furdunço todo o foragido astrólogo Olavo de Carvalho, aquele guru da grande pantomina de um governo improvável, incapaz e irresponsável, que não consegue sequer organizar uma prova do Enem, quanto mais cuidar de nossas fronteiras, diante de mais uma ameaça sanitária.

A vida não pode ser só política, escrevi aqui ainda outro dia, mas é nela que teremos de decidir nosso futuro: se queremos ser cavalcantis ou cavalgados, a velha máxima nordestina dos senhores do Centrão, que se aboletaram no Palácio do Planalto, e agora dão as cartas marcadas do retrocesso galopante. Eles são todos cavalcantis que hoje nos cavalgam. Até quando?

Vida que recomeça.