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OPINIÃO

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O idiota que tem orgulho de ser idiota é aplaudido por empresários na Fiesp

Bolsonaro em discurso na Fiesp, em São Paulo - Isac Nóbrega/PR
Bolsonaro em discurso na Fiesp, em São Paulo Imagem: Isac Nóbrega/PR

Colunista do UOL

16/12/2021 14h10

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A cena patética foi registrada na tarde de quarta-feira, na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que reúne a elite do empresariado nacional, e logo viralizou nas redes.

Às gargalhadas, a distinta plateia acompanhou o inacreditável discurso do capitão Bolsonaro, um idiota que tem orgulho de ser idiota.

O pior veio no final, quando o presidente foi entusiasticamente aplaudido pelos empresários, ao revelar que cometeu uma grave infração administrativa para beneficiar a empresa de um amigo. Não é fake news. Leiam o que ele teve coragem de dizer:

"Tomei conhecimento que uma obra... Uma pessoa conhecida, Luciano Hang, estava fazendo mais uma loja e apareceu um pedaço de azulejo durante as escavações. Chegou o Iphan e interditou a obra. Liguei para o ministro da pasta, né? `Que trem é esse?"´porque eu não sou tão inteligente quanto meus ministros. `O que é Iphan?´, com `ph´. Explicaram para mim, tomei conhecimento e ripei todo mundo do Iphan".

A empresa é a Havan, o Iphan, para quem não sabe, é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, responsável por preservar nossa memória e o que restou nos escombros após o tratoraço federal, que ainda está em andamento, para não deixar pedra sobre pedra. .

Na forma e no conteúdo do discurso presidencial e na festiva reação dos ilustríssimos senhores da Fiesp, temos uma perfeita síntese da parceria público-privada formada em 2018 para destruir as instituições democráticas e os direitos trabalhistas, o meio ambiente e a soberania nacional, em nome de um governo conservador nos costumes e liberal na economia.

"Agora o Iphan não dá mais dor de cabeça pra gente", comemorou Bolsonaro, rindo. "Gente", no caso, é o empresariado unido ao presidente, em campanha pela reeleição.

Assim segue a procissão neste final de 2021, o ano que parece nunca acabar.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro voltou ao seu tema predileto para agradar os devotos: a sua cruzada contra a vacinação.

Primeiro, ficou furioso com a Anvisa, como revelou meu colega Josias de Souza, aqui no UOL, por liberar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, como todo o mundo civilizado já está fazendo.

Não contente, publicou em suas redes sociais o vídeo enviado por um mané qualquer que chama as vacinas de "uma porcaria", endossando as críticas que tem feito para justificar por que ainda não se imunizou.

Até hoje, o governo ainda não baixou a portaria para regulamentar o passaporte da vacina, recusando-se a cumprir determinação do Supremo Tribunal Federal, outro alvo da sua ira permanente. Os agentes de saúde estão fazendo às escuras, por amostragem, o controle da entrada de turistas no país, provocando aglomerações nos aeroportos.

É como se o governo federal simplesmente não existisse, a exemplo do que vimos desde o início da pandemia, com a omissão do Ministério da Saúde em assumir a coordenação nacional do combate à covid-19 e suas variantes.

Encarregado de controlar os arroubos do capitão, o general Augusto Heleno, o Heleninho, só ajuda a botar mais lenha na fogueira.

"Eu tenho que tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes do STF", queixou-se numa reunião reservada com agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que foi vazada pelo site Metrópoles.

De ameaça em ameaça, pergunta-se: quem vai agora controlar o general Heleno, que anda muito nervoso. Será outro general?

Vida que recomeça.