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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

2021 termina como começou: em meio às tragédias, a omissão do desgoverno

Colunista do UOL

28/12/2021 17h13Atualizada em 28/12/2021 17h33

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Em janeiro de 2021, brasileiros morriam asfixiados por falta de oxigênio nos hospitais de Manaus, enquanto o desgoverno protelava a compra de vacinas e receitava cloroquina.

Agora, em dezembro, com o ano chegando ao fim, o desgoverno ainda boicota a compra de vacinas para crianças, e brasileiros morrem nas enchentes, com a Bahia debaixo d´água, sem comida e sem remédios, clamando por socorro, que não chega.

Entre uma tragédia e outra, o Brasil viveu os piores dias de sua história recente, assolado pela pandemia e por um desgoverno incapaz de levantar o traseiro da cadeira para acudir uma população abandonada à sua própria sorte.

É chocante a imagem das pessoas formando uma corrente para carregar nas costas as doações de mantimentos, depois que um trecho da BA-561 se rompeu na segunda-feira e impediu a passagem de um caminhão que seguia para Itapitanga. Centenas de pessoas se reuniram para fazer o transporte de mão em mão até que chegasse ao outro lado da rodovia, onde um outro veículo aguardava para seguir viagem com as doações.

Vemos o povo solidário se mobilizando por conta própria para minorar o sofrimento dos seus conterrâneos, enquanto o comandante supremo das Forças Armadas continua pescando e passeando numa praia de Santa Catarina como se nada estivesse acontecendo.

É brutal o contraste entre as imagens da corrente humana formada na Bahia para levar doações aos desabrigados e as da pescaria do presidente em meio à tragédia. Chega a ser desumano, um deboche, um acinte.

Não seria o caso de o ex-capitão utilizar sua propalada autoridade para convocar uma reunião ministerial de emergência em Brasília e acionar servidores civis e militares para ajudar as operações de socorro na Bahia? Ou todos saíram de férias junto com o presidente?

Para que servem, afinal, as Forças Armadas?, perguntou uma leitora da Folha citada na minha coluna de ontem. Não obtive resposta até agora.

Já fiz a cobertura de algumas dezenas de tragédias provocadas por grandes inundações nestes últimos 50 anos, em diferentes regiões do país, e sempre que chegava a esses locais lá já estavam tropas de militares auxiliando no socorro às vítimas, com aviões e helicópteros enviados pelo governo central..

Os temporais na Bahia já causaram a morte de 20 pessoas e afetaram a vida de 470 mil moradores que tiveram suas casas e comércios atingidos pelas águas. Há mais de 60 mil desabrigados.

Mais de 100 cidades estão em estado de calamidade pública, estradas foram destruídas, cidades ficaram isoladas, os postos de saúde perderam remédios e vacinas.

"A extensão da destruição é o que impressiona. Parece que houve uma guerra", constata o governador baiano, Rui Costa, que viu muita gente ficar só com a roupa do corpo e reclama da ajuda federal, que chega a conta-gotas, insuficiente para sequer iniciar as obras de reconstrução das estradas federais.

Não adianta torcer para que 2021 acabe logo porque, em 2022, vai ser tudo igual, diante da inércia de um desgoverno moribundo, que teima em atazanar a vida dos brasileiros e se finge de morto quando mais se precisa dele.

Vida que recomeça.