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Basta! Dois militares colocam limites nos delírios e agressões de Bolsonaro
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De volta ao serviço esta semana, sem ter muito o que fazer, o capitão-presidente Jair Bolsonaro conseguiu arrumar uma encrenca de bom tamanho com dois oficiais- generais, que não cederam às suas ofensivas autoritárias e irresponsáveis, e o enquadraram como nenhuma autoridade civil já havia feito.
O motivo é o mesmo de sempre: a campanha alucinada do governo contra a vacinação dos brasileiros, civis e militares, e agora também das nossas crianças.
Bolsonaro queria humilhar o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o contra-almirante Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa. E tomou um contravapor pela proa que o fez recuar e silenciar.
Primeiro, negou que tivesse exigido uma "nota de esclarecimento" sobre as diretrizes estabelecidas pelo Exército para orientar o retorno dos militares ao trabalho presencial, o que tinha levado o ministro da Defesa, general Braga Netto, a convocar uma reunião de emergência com os comandantes das três Forças para evitar uma nova crise militar.
"Não tem exigência nenhuma. Não tem mudança. Pode esclarecer. Hoje tomei café com o comandante do Exército. Se ele quiser esclarecer, tudo bem, se ele não quiser, tá resolvido, não tenho que dar satisfação para ninguém de um ato como isso daí. É uma questão de interpretação", desconversou o presidente no sábado.
Na diretriz de número 23 das 52 estabelecidas por Oliveira, o texto do comandante do Exército orientou o retorno às atividades presenciais dos militares e dos servidores, "desde que respeitado o período de 15 dias após imunização contra Covid-19".
Como é contra a vacinação em geral, Bolsonaro mandou Braga Netto reclamar com o comandante do Exército e se criou um mal-estar entre os militares. Mas, desta vez, Oliveira não recuou, como tinha acontecido com a grave infração disciplinar do general da ativa Eduardo Pazuello, naquele episódio em que subiu no palanque do presidente após uma motociata no Rio de Janeiro
No caso da Anvisa, o embate foi bem mais grave: na noite de sábado, o contra-almirante Barra Torres exigiu uma retratação do presidente da República sobre as declarações que fez na sua live semanal e em entrevistas à imprensa, colocando sob suspeita a decisão dos técnicos da instituição de autorizar o início da imunização infantil com a vacina da Pfizer.
"Se o senhor dispõe de informações que levantem oi menor indício de corrupção sobre esse brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa (...) Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate".
Num duro texto de 300 palavras, o presidente da Anvisa reagiu aos ataques que o presidente tinha feito contra os técnicos da instituição ao perguntar: "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse daquelas pessoas taradas por vacina?". Em entrevista à rádio Nordeste, de Pernambuco, Bolsonaro duvidou que alguma criança tenha morrido de Covid, mas dados do próprio Ministério da Saúde mostram que foram registradas 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos, desde o início da pandemia.
"Vou morrer sem conhecer riqueza, senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso à frente da Anvisa", escreveu Barra Torres na carta.
Até o meio-dia deste domingo, o presidente Bolsonaro não havia respondido à carta, muito menos feito qualquer retratação.
Quem se manifestou em defesa da nota de Barra Torres foi o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), que publicou no Twitter: " Esse documento integra a história do Brasil por dois motivos: trata-se de um oficial general reagindo às múltiplas agressões daquele que deveria honrar as Forças Armadas, e não o faz. E é o registro de um tempo em que a coação e a mentira são métodos de governo".
Em tempo: o mandato de Barra Torres na Anvisa vai até 2024, e ele é indemissível.
Vida que recomeça.
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