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OPINIÃO

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Jair Bolsonaro desafia o Supremo: será o capitão um paraquedista kamikaze?

Bolsonaro recorre contra depoimento presencial determinado pelo STF - Foto: Marcos Côrrea/PR
Bolsonaro recorre contra depoimento presencial determinado pelo STF Imagem: Foto: Marcos Côrrea/PR

Colunista do UOL

28/01/2022 17h06

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Do alto da sua certeza de impunidade, desde os tempos no Exército e, depois, no baixo clero da Câmara, o capitão-presidente Jair Bolsonaro mais uma vez desafiou a Constituição e o Supremo Tribunal Federal, ao descumprir ordem do ministro Alexandre de Moraes de se apresentar, às 14 horas desta sexta-feira, para prestar depoimento à Polícia Federal no inquérito sobre as fake news, um dos crimes em que é investigado.

Onze minutos antes do horário estipulado, simplesmente mandou a Advocacia Geral da União entrar com um recurso para que o plenário do STF julgasse a ordem de Moraes, que negou o pedido por considerá-lo intempestivo.

O ministro tinha dado um prazo de 60 dias (dois meses!), que venceu ontem, para que Bolsonaro marcasse dia, local e horário de sua conveniência para prestar o depoimento, mas ele nem se deu ao trabalho de responder. Como todos sabemos, o presidente é um homem muito ocupado, cheio de compromissos na agenda, sem tempo para essas miudezas.

E ainda marcou para as 15 horas uma audiência de rotina, com o subchefe de Assuntos Jurídicos da Presidência,.no Palácio do Planalto, no mesmo horário em que deveria estar na Polícia Federal, num claro desafio à Justiça.

O subchefe Pedro Cesar Sousa é o assessor que todo dia leva ao presidente os documentos que deve despachar, e não haveria nenhum problema em deixar essa audiência burocrática para mais cedo ou mais tarde. Não havia outros compromissos na agenda do presidente, mas Bolsonaro é Bolsonaro, e ele não perderia essa chance de valorizar sua ausência no depoimento na Polícia Federal.

Desde cedo, Bolsonaro já tinha avisado aos seus assessores que não iria cumprir a ordem de Alexandre de Moraes, por considerar um desaforo ter que prestar contas dos seus atos a uma delegada da Polícia Federal de forma presencial.

E agora, o que pode acontecer? Ficará tudo por isso mesmo? Vai convocar de novo Michel Temer para escrever mais uma cartinha de amor ao STF?

No 7 de Setembro do golpe que flopou no ano passado, o presidente já tinha anunciado ao país que não cumpriria mais as ordens de Alexandre de Moraes, mas depois o machão amarelou, como acontece sempre em que estica demais a corda para ver até onde as instituições resistem.

Até o momento em que escrevo, o STF ainda não tinha decidido o que fazer com o presidente. O que falta ainda para obrigá-lo a cumprir as leis do país como qualquer cidadão?

Se toda vez em que Bolsonaro afrontou as leis e os regimentos, em sua curta carreira militar e longa como deputado, planejando atentados terroristas contra quartéis e tripudiando sobre o decoro parlamentar, ele tivesse sido devidamente enquadrado e punido, talvez o país hoje não estivesse enfrentando essa tragédia civilizatória e humanitária inédita na nossa história, por suas dimensões e consequências nas vidas dos brasileiros.

"E ninguém vai fazer nada?", perguntam-se os cidadãos indefesos e perplexos que sobreviveram à pandemia, cada vez que o presidente comete novos crimes contra a saúde pública, atropela a Constituição, ameaça chamar as tropas, derrama bilhões em emendas secretas do centrão, corta verbas da educação, da ciência e da saúde, debocha das medidas sanitárias para conter a pandemia, estimula a invasão de garimpeiros nas terras indígenas e a derrubada do que sobrou da floresta amazônica.

O episódio de hoje é apenas mais um no conjunto da obra do projeto de destruição do país e das instituições, o único que move Bolsonaro e seus fiéis devotos, sempre em busca de mais uma confusão para provocar o caos que eles vêm procurando desde seu primeiro dia de desgoverno.

Só não consegui entender ainda aonde ele quer chegar, já que todas as pesquisas mostram o fracasso do seu desgoverno e o aumento da sua impopularidade.

Será Bolsonaro um paraquedista kamikaze?

Em tempo: kamikazes eram os pilotos suicidas do Japão na Segunda Guerra.

Vida que recomeça.