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OPINIÃO

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Fracassam manifestações a favor e contra o governo no Dia do Trabalhador

Manifestante a favor do presidente Jair Bolsonaro segura faixa que chama ministro Luís Roberto Barroso de "ditador", em inglês - José Dacau/UOL
Manifestante a favor do presidente Jair Bolsonaro segura faixa que chama ministro Luís Roberto Barroso de 'ditador', em inglês Imagem: José Dacau/UOL

Colunista do UOL

01/05/2022 15h21

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Em tempo: atualizado às 16h45

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Lula parte para o ataque e Bolsonaro recua

Com bastante atraso, Lula pegou o microfone depois das quatro da tarde, quando o público aumentou, e foi direto para cima de Bolsonaro em seu discurso, culpando o presidente por todos os graves problemas que o país atravessa, pelo descaso no combate à pandemia, o ataque às instituições e pela inflação que assola o país, com fome e desemprego.

No momento mais incisivo do seu discurso, Lula chegou a envolver Bolsonaro com os milicianos responsáveis pelo assassinato de Marielle Franco e disse que, se vencer, vai pegar um país destruído em todas as suas estruturas, e convocou as centrais sindicais presentes na praça Charles Miller, no Pacaembu, a ajudá-lo na reconstrução.

Bolsonaro não foi à manifestação a seu favor na avenida Paulista, no mesmo horário, a poucos quilômetros do ato do 1º de maio das centrais sindicais, mas enviou um brevíssimo vídeo para os apoiadores, em que claramente recuou dos seus últimos ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao processo eleitoral, limitando-se a repetir que estará sempre ao lado do povo na defesa da família e da liberdade. Os ataques ficaram só por conta dos manifestantes que pediram o impeachment de ministros do STF e o fechamento do tribunal.

O que ficou claro ao final do dia é que os atos promovidos a favor e contra o governo nas principais capitais mostraram um país dividido ao meio, em que só restaram dois candidatos na disputa presidencial. Os demais nem apareceram no 1º de Maio. Não dá para calcular quem levou mais povo às ruas, mas é certo que ambos tiveram bem menos apoiadores do que em outras manifestações. Abaixo, um relato dos atos em Brasília e São Paulo:

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Bolsonaro ficou só 5 minutos no ato dos seus apoiadores, no domingo de manhã, em Brasília, e foi embora sem fazer discurso. E, até as duas da tarde, Lula ainda não havia chegado à manifestação das centrais sindicais pelo Dia do Trabalhador, em São Paulo, que começou às 10 horas.

Frustrou-se quem imaginava que o 1º de Maio daria a largada para a campanha eleitoral nas ruas dos principais candidatos à Presidência da República.

Imagens aéreas nas duas cidades mostravam o vazio diante dos palanques.

Lula e Bolsonaro haviam convocado seus seguidores para os atos contra e a favor do governo, mas foram igualmente ignorados.

Nos discursos dos oradores sobre os carros de som, só se ouviam ataques aos adversários, nada que despertasse maior atenção da plateia, mais preocupada em arrumar emprego ou pagar suas contas.

Em campanhas anteriores, nesta época do ano, início de maio, as campanhas já estavam mobilizando legiões de eleitores, com todos os candidatos rodando o país para vender seu peixe, jingles tocando em carros de som nas periferias, muros pichados por toda parte.

Não dá mais para culpar a pandemia pelo desinteresse popular, como mostraram as multidões que foram às ruas no carnaval fora de época da semana passada. Qualquer show de música lota estádios, assim como os jogos dos grandes times no Brasileirão, mas a eleição de outubro ainda está fora do radar da população, a cinco meses da abertura das urnas.

O maior protesto do 1º de Maio, desta vez, foi a ausência de povo nas manifestações, com a maioria preferindo ir para as praias ou ficar em casa.

Pelas imagens que vi na TV, só as torcidas uniformizadas dos sindicatos e do bolsonarismo atenderam ao chamado dos seus líderes.

Que se passa com o bravo povo brasileiro que não foge à luta? Está todo mundo esperando o quê ainda para se manifestar?

Nesta segunda-feira, os coordenadores das duas campanhas e seus marqueteiros deverão buscar respostas para essa singela pergunta.

Em São Paulo, a chegada de Lula ao Pacaembu estava prevista para as 13 horas, quando Bolsonaro já havia se recolhido ao Alvorada, mas neste horário a organização foi avisada que ele só chegaria às 15h30, para falar antes do show de Daniela Mercury, segundo Cátia Seabra, da Folha. Esperava-se a chegada de mais gente.

Por enquanto, é o que temos. Se houver algum fato novo, voltarei para informar.

Vida que segue.