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OPINIÃO

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Vamos parar de falar em ameaças de golpe? Isso só interessa aos golpistas

Presidente Jair Bolsonaro passeia de jet ski durante "lanchaciata" promovida por seus apoiadores no Lago Paranoá, em Brasília - ADRIANO MACHADO/REUTERS
Presidente Jair Bolsonaro passeia de jet ski durante "lanchaciata" promovida por seus apoiadores no Lago Paranoá, em Brasília Imagem: ADRIANO MACHADO/REUTERS

Colunista do UOL

16/05/2022 13h52

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"Se você tem vivido dias de angústia com relação ao futuro da democracia, o golpe como fraude está funcionando. O medo que nos leva a esperar, temer ou tomar providências para evitar o golpe é parte do golpe".

Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia e autor de "Crônica de uma Tragédia Anunciada", domingo, na Folha).

"Ameaça de golpe é bravata de bandidinho".

(Deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), no Brasil 247)

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Dizem que cão que ladra, não morde, mas é bom tomar cuidado. Demonstrar medo pode atiçar o animal.

Em seu artigo "O Golpe de Bolsonaro", publicado na Ilustríssima, Wilson Gomes ensina os dois significados da palavra, um estimulando o outro.

Tem o mais comum, que é sinônimo de tramoia, farsa, embuste, logro, fraude.

O outro, muito conhecido dos brasileiros desde a Proclamação da República, significa tomada violenta do poder pelos militares.

"O governo Bolsonaro e os generais seus acólitos jogam com os dois sentidos do termo", constata Gomes. "Mas, afinal, o golpe virá, ou é só mais uma das enganações de um movimento político que não existe sem fraude ou engodo?".

Na dúvida, acho melhor parar de falar esta palavra porque é isso que os golpistas querem: disseminar o medo e a insegurança na população que irá às urnas em outubro, para desviar a atenção do que realmente interessa, a grave crise econômica que assola as famílias brasileiras.

Dar corda ao capitão e seus generais nos ataques aos tribunais e às urnas eletrônicas para melar as eleições é fazer o jogo deles para pautar o noticiário e não falarmos mais em orçamento secreto, pastores da grana no MEC, cocaína em avião da FAB, verbas desviadas para garantir mordomias e privilégios de militares, inflação fora de controle, destruição da Amazônia, o estouro da boiada de garimpeiros e pecuaristas em terras indígenas, o colapso na saúde e na educação, os discursos armamentistas e as bazófias da falida equipe econômica.

Quando Bolsonaro repete a todo instante que só Deus pode tirá-lo da cadeira de presidente, usurpando esse poder de sua excelência, o eleitor, ele não quer apenas agradar os devotos dos "cercadinhos", das motociatas e agora das lanchaciatas.

Essa devoção revela, na verdade, os medos que ele sente das garras da Justiça, que estão fechando o cerco nas investigações da Polícia Federal no inquérito agora unificado pelo STF sobre a disseminação de notícias falsas e a promoção de atos antidemocráticos por uma suposta organização criminosa instalada no centro do poder.

"Os Bolsonaros estão apavorados ante a possibilidade de, uma vez fora do regime de privilégios que a Presidência da República dá ao chefe do clã, terem de encarar as consequências legais dos seus atos. Consequentemente, farão de tudo para que nem sequer as eleições tenham o poder de tirá-los de lá", adverte o professor Wilson Gomes em seu artigo.

Enquanto isso, o governo aperta cada vez mais a corda no pescoço dos trabalhadores, dilapidando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e autorizando aumentos abusivos nos preços de remédios e planos de saúde.

Parece até que desistiu de buscar a reeleição pelo voto. Quer ganhar no grito, chamando seus críticos de "psicopatas" e "imbecis", como Bolsonaro fez no domingo, entre passeios de moto e de jet ski. Logo quem...

Vida que segue.