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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Se precisar, iremos à guerra", ameaça capitão. Quem ainda tem medo dele?

Colunista do UOL

03/06/2022 16h17

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Depois de dar mais uma voltinha de moto, sem capacete, como agora faz todo dia, levando desta vez na garupa o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), o capitão-presidente Jair Bolsonaro parou nesta sexta-feira na BR-487, em Umuarama, no Paraná, para fazer novamente um discurso em que ameaça virar a mesa nas eleições de outubro. Foi lá, com toda a comitiva, só para inaugurar um trecho da Estrada do Boiadeiro, mais uma realização do seu governo.

"Se precisar, vamos à guerra", anunciou, sem dizer contra quem, apenas se referindo a "inimigos internos" que "querem roubar a nossa liberdade".

Quem quer roubar a "nossa liberdade"?

Inimigos internos, imagino eu, devem ser os eleitores que, segundo todas as pesquisas, votam majoritariamente em Lula, contra a sua vontade. Quem mais poderia ser? Os possíveis eleitores de Ciro Gomes ou Simone Tebet, os dois adversários que sobraram na disputa? Ou os ministros do STF e TSE, que se opõem às suas investidas golpistas?

Sem ter nada para apresentar ao eleitorado em busca de votos para a reeleição, Bolsonaro agora se limita a botar medo no eleitorado. Mas quem ainda tem medo dele?

Como diziam os antigos, cão que muito late não morde e, de tanto ameaçar com um golpe militar em caso de derrota, o capitão já não assusta mais ninguém fora da sua bolha de devotos, cada vez menor.

Cada vez mais distante de Lula nas pesquisas, com o agravamento da crise econômica fora de qualquer controle, Bolsonaro apelou para o patriotismo, dizendo que "todos devemos ter compromisso com o Brasil, e não só os militares, que juraram defender o país".

Os militares, até agora, se mantiveram em obsequioso silêncio, sem apoiar nem contestar suas ameaças golpistas, embora a todo momento sejam convocados a se manifestar pelo presidente. Um ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, levando junto toda a cúpula militar, caiu por causa disso, no ano passado, mas nada mudou.

Fora os generais de pijama do Palácio do Planalto, nenhum comandante militar da ativa até o momento deu qualquer sinal de não respeitar o resultado das urnas eletrônicas, que continuam sendo contestadas todo dia por Bolsonaro, como se o problema fosse o sistema de votação, e não a falta de votos.

Bolsonaro ainda não percebeu que não adianta culpar a pandemia, os governadores e a guerra na Ucrânia pela crise institucional, social e econômica que ele mesmo cevou em seus três anos e meio de desgoverno.

De tanto repetir que em seu governo não tem corrupção, Bolsonaro está caindo no ridículo, pois a cada dia é desmentido pelos fatos, com novas denúncias sobre a bandalheira do orçamento secreto, o instrumento adotado para comprar o Centrão e o silêncio dos militares, com centenas de denúncias de superfaturamento no uso de recursos públicos para atender aliados. Tudo isso sem falar na mansão de R$ 6 milhões do filho 01, o rico advogado sem causa.

Assim como durante a ditadura militar se dizia que não havia corrupção no país, porque tinha censura prévia à imprensa, agora os escândalos são abafados com a cooptação dos órgãos de controle, aparelhados de cima abaixo, da PGR à PF, chegando agora até o STF, com dois ministros amestrados.

Mesmo assim, Bolsonaro teve a coragem de dizer em seu discurso que "nos afastamos da corrupção. Estamos há três anos e meio sem falar nisso. Sempre digo, se aparecer corrupção em nosso governo, que pode acontecer, nós ajudaremos a esclarecer os fatos". Beleza. Repita sempre a mesma mentira que um dia vão acreditar em você, já ensinava Goebbels.

Quem ainda acredita nisso? Com a blindagem do trio de ferro formado por Augusto Aras, na PGR, Arthur Lira, na Câmara, e Nunes Marques, no STF, nenhuma investigação irá para a frente.

Ao defender mais uma vez a posse e o porte de armas, criticar o aborto, que ninguém em sã consciência defende, e a "ideologia de gênero", que ninguém sabe exatamente o que é, Bolsonaro parece ter desistido de disputar a reeleição e agora só fala para o "cercadinho" do Alvorada, à espera da "guerra, se precisar".

Se acontecer, deve ser a primeira vez que um presidente declara guerra ao próprio país, para se manter no poder, como está parecendo.

Como sou um inveterado otimista, acho que nada disso vai acontecer, e Bolsonaro passará a faixa presidencial bonitinho, de cara amarrada, no dia marcado, para quem for eleito em primeiro turno, no dia 2 outubro, como indicam as pesquisas. Não vai ter invasão do Capitólio aqui.

Agora falta pouco. Não adianta mais tugir nem mugir. O Brasil se libertará desse encosto no dia 1º de janeiro de 2023. Espero estar vivo até lá para poder conferir e comemorar.

Vida que segue.