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OPINIÃO

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Para ir à "guerra" contra as eleições, Bolsonaro já tem seu próprio arsenal

Bolsonaro faz mira com arma de fogo em Israel: "povo armado jamais será escravizado". É o projeto "armas para todos" -  Reprodução/Instagram
Bolsonaro faz mira com arma de fogo em Israel: "povo armado jamais será escravizado". É o projeto "armas para todos" Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

04/06/2022 14h52

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À beira do precipício institucional, Bolsonaro, já em modo desespero, deu mais um passo à frente esta semana.

Na sexta-feira, em Umuarama (PR), como relato na coluna anterior, o capitão disse com todas as letras que "se precisar, iremos à guerra" contra os "inimigos internos", e convocou seus devotos para segui-lo:

"Mas eu quero o povo a meu lado, consciente do que está fazendo e de por que está lutando. Todos nós temos compromisso com o Brasil, e não só os militares, que juraram defender o país. Todos nós temos que nos informar e se preparar porque não podemos deixar que o Brasil siga o caminho de outros países aqui na América do Sul como a Venezuela, a Argentina e o Chile", países onde a esquerda está no governo.

Hoje, em reportagem de Eduardo Militão, aqui no UOL, ficamos sabendo o que há por trás dessa ameaça:

"Desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência, em 2019, foram registradas mais de 1 milhão de novas armas particulares no Brasil, segundo dados da Polícia Federal e do Exército obtidos pelos institutos Sou da Paz e Igarapé por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação)".

Ou seja, se os militares não o apoiarem em seu projeto golpista, o presidente já pode contar com seus próprio exército de civis, sem falar nas Polícias Militares e nas milícias amigas, que contam com um contingente muito maior do que o Exército.

Até novembro de 2021, segundo a reportagem, já havia no país um total de 2,3 milhões de armas registradas, um aumento de 78% em relação ao último ano do governo de Michel Temer. Nem as Forças Armadas contam com tamanho arsenal.

Bolsonaro não se cansa de repetir que "povo armado jamais será escravizado", um velho jargão nazifascista.

Ao liberar o porte e o uso de armas e munições quase sem limite, em sucessivos decretos e portarias durante os três anos e meio de governo, como havia prometido na campanha de 2018 _ uma das poucas promessas cumpridas _ o ex-militar que foi defenestrado do Exército por planejar atentados terroristas, ameaça agora se vingar não só dos seus antigos superiores, mas de todos os que se recusam a votar nele em sua campanha pela reeleição.

Ainda na sexta-feira, em Foz do Iguaçu (PR), o capitão desafiou o Supremo Tribunal Federal a cassar sua candidatura, depois de reiteradas advertências dos seus ministros contra o uso de fake news na campanha eleitoral.

De discurso em discurso, de desafio em desafio, o presidente avança contra as instituições democráticas, testando seus limites, para gáudio dos seus seguidores que alimentam as milícias digitais cada vez mais beligerantes.

Até agora, nenhuma providência foi tomada por essas instituições contra o uso indiscriminado de recursos humanos, equipamentos e cartões corporativos para bancar a campanha presidencial, que cruza os céus do país toda semana, levando grandes comitivas de parlamentares, para inaugurar trechos de estradas ou distribuir títulos fundiários e inspecionar obras de reformas em hospitais e aeroportos.

Em tempo: semana que vem, durante a viagem aos Estados Unidos, para o encontro com Joe Biden na Cúpula das Américas, em Los Angeles, Bolsonaro aproveitará para dar um pulinho de 3,5 mil quilômetros até Orlando, a cidade da Disney, onde vai inaugurar um subconsulado para a comunidade brasileira, que lhe deu 90% dos votos na última eleição.

Vai ser um festão. O deputado Daniel Silveira, aquele mesmo, já confirmou presença.

E vida que segue.

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