Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Virou zorra total: bolsonarista quer submeter decisões do STF ao Congresso

Com Bolsonaro, militares voltaram ao poder sem ruptura institucional: projeto vai até 1935 - Getty Images
Com Bolsonaro, militares voltaram ao poder sem ruptura institucional: projeto vai até 1935 Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

14/06/2022 17h37

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

De onde menos se espera, surgem novas ameaças à Constituição, todos os dias, na zorra total em que o país foi transformado.

Desta vez, a iniciativa partiu de um obscuro deputado mineiro, Domingos Sávio, até outro dia tucano aliado a Aécio Neves, e agora no PL de Bolsonaro, para propor uma emenda constitucional em que deputados e senadores poderão contestar decisões do Supremo Tribunal Federal que não lhes agradem.

No mesmo dia, começou a circular nas redes sociais um vídeo convocando manifestações pró-Bolsonaro no dia 31 de julho, propondo submeter ministros do STF e do TSE a julgamento num certo "tribunal militar".

Os tribunais superiores, como sabemos, são a ultima barreira para a ofensiva golpista do governo Bolsonaro, que quer ganhar as eleições no grito e na marra, diante da sua posição desfavorável nas pesquisas.

Por mais absurdo que pareça, a iniciativa do deputado Sávio corre o risco de ganhar apoios no Congresso Nacional, hoje dominado pelo Centrão, desde que Bolsonaro lhe entregou a chave do cofre do Tesouro Nacional e o orçamento secreto.

Com os demais órgãos de controle já totalmente submetidos ao bolsonarismo, o governo avança sobre o Supremo Tribunal Federal, onde já pode contar também com a simpatia do presidente lavajatista Luiz Fux, além dos dois fiéis ministros aliados que nomeou.

Aos poucos, vai-se montando todo o cenário para mais um golpe nas instituições democráticas, sem precisar de tanques nas ruas, com o apoio do mercado, de amplos setores empresariais, da mídia e de igrejas evangélicas neopentecostais, sem falar nas polícias, nas milícias e nos clubes de tiro, de tal forma que um dia o país poderá acordar sob uma nova ditadura, sem nem perceber.

Com ou sem Bolsonaro, os militares já anunciaram um plano de ação, sob a supervisão do general Villas-Bôas, aquele que enquadrou o STF na última eleição, para impedir Lula de ser candidato, com o apoio de herdeiros do coronel Brilhante Ustra, o torturador-mor do regime militar, com o objetivo de permanecerem no poder até 2035, para concluir a obra de destruir os direitos sociais e trabalhistas, iniciada no governo de Michel Temer, a serviço do grande capital nacional e internacional.

Se alguém ainda tem alguma dúvida sobre os propósitos dessa turma de patriotas, assista ao vídeo do "31 de julho", a data marcada par dar início ao ataque à democracia porque não dá mais para esperar até o "putsch" do 7 de Setembro programado por Bolsonaro, às vésperas das eleições.

Não tem mais segredo, pode tudo ser pesquisado no Google. Depois das últimas pesquisas, parece que eles desistiram de disputar a reeleição do capitão nas urnas, tão contestadas pelos militares, e já se preparam para se manter no poder por outros meios, não propriamente republicanos.

O importante para essa casta fardada é garantir os salários dobrados com os soldos, as aposentadorias especiais, as toneladas de picanha, camarão e salmão, os caminhões de viagra e as próteses penianas, tinturas para o cabelo e outras mordomias da caserna.

As Forças Armadas hoje estão divididas entre os que apoiam cegamente Bolsonaro e os omissos, que a tudo assistem sem dar um pio. Não tem terceira via nos quartéis.

Bolsonaro nem era o candidato dos militares no início da campanha de 2018, mas no governo soube como cooptar com benesses a tropa, a mesma que o prendeu e processou quando era tenente, por atos de insubordinação, definido pelo general Ernesto Geisel como um "mau militar".

No calendário, faltam apenas 200 dias, a partir de hoje, para esse desgoverno acabar, se não acontecer nenhum imprevisto.

Para reconstruir o país, pode levar 200 anos.

Vida que segue.