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OPINIÃO

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Depois do novo Datafolha, só resta uma dúvida: Lula vai ganhar no 1º turno?

 Lula tem vantagem sobre Bolsonaro no Sul, Sudeste e Nordeste, diz Datafolha  -  O Antagonista
Lula tem vantagem sobre Bolsonaro no Sul, Sudeste e Nordeste, diz Datafolha Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

24/06/2022 16h20

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Passando a régua: sem mudanças fora da margem de erro em relação à pesquisa anterior, o novo Datafolha confirma um cenário praticamente congelado faz seis meses, a 100 dias da eleição.

A única dúvida que resta é se Lula terá condições de conquistar o terceiro mandato já no primeiro turno, como indicam todas as últimas pesquisas. Na mais recente, divulgada nesta quinta-feira, o ex-presidente tem 53% dos votos válidos contra 32% de Bolsonaro.

É uma vantagem de 21 pontos, jamais alcançada em suas vitoriosas campanhas anteriores a esta altura do campeonato, sem que o seu único adversário ainda na disputa demonstre qualquer sinal de reação para diminuir a diferença e levar a eleição a um improvável segundo turno.

Mas, acreditem se quiser, depois de ser divulgada esta pesquisa, ainda apareceram setores da grande imprensa especulando sobre as possibilidades da "terceira via" reverter esses números, com a senadora Simone Tebet, que registrou uma queda de 50% nas intenções de voto em relação ao levantamento anterior, caindo de 2% para 1%.

Em meio a esse debate surreal na GloboNews, o correspondente Guga Chacra perdeu a paciência e criticou ao vivo seus colegas da mídia corporativa, que ainda perdem tempo com uma candidata de 1%, com tantas chances de chegar ao segundo turno quanto o astronauta brasileiro de pisar na Lua, assim como Ciro Gomes (8%) e os demais candidatos nanicos.

A vantagem de mais de 20 pontos em votos válidos de Lula sobre Bolsonaro, tanto no primeiro quanto num improvável segundo turno, ficou em plano secundário.

O mais incrível nesta pesquisa é que, apesar do desmanche acelerado do governo, da Amazônia conflagrada ao ataque à Petrobras, sem conseguir conter a inflação e a fome que grassa no país, é o índice de ótimo e bom ainda alcançado pelo governo: 26%.

Ou seja, quase um em cada três brasileiros ainda defende Bolsonaro e sua política homicida de destruição do país, em todas as áreas, e não vai se conformar com uma possível vitória do ex-presidente. É o caldo de cultura sonhado pelo presidente ainda em exercício para melar o resultado da eleição.

"Bolsonaro só perde se houver fraude", dizem os devotos da seita bolsonarista nas redes sociais, impulsionados pelos ataques do capitão à Justiça Eleitoral e às urnas eletrônicas, que aumentam a cada nova pesquisa divulgada.

Reduzir o ICMs dos combustíveis, oferecer um "pix-caminhoneiro", aumentar o valor do vale gás e do Auxílio Brasil, promover motociatas todo dia, comparecer a todas as Marchas para Jesus fora de época, com farta distribuição do orçamento secreto a fundo perdido: foi o que sobrou do arsenal de munição para Bolsonaro, atirando agora para todos os lados, na tentativa desesperada de sair do prejuízo.

Isso o ajuda a ainda a manter seu eleitorado fiel, mas assusta quem poderia trazer novos votos da maior parcela da população, que não vê a hora de tirar o bode do gabinete presidencial do Palácio do Planalto: 47% consideram seu governo ruim ou péssimo e 55% dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum (35% rejeitam Lula).

Como são necessários 50% dos votos válidos e mais um para a vitória, de que jeito como Bolsonaro pretende se reeleger com esses números?

A essa altura, só um terremoto ou alguma força extraterrestre será capaz de transferir votos de Lula para Bolsonaro, a única forma de reverter a humilhante derrota anunciada dentro das leis vigentes.

Com a candidatura carbonizada do ex-juiz Sergio Moro, agora "de volta para casa", tentando uma vaga de deputado federal pelo Paraná para ter foro privilegiado, e a candidatura de Simone Tebet, a última esperança de "terceira via", reduzida a 1%, acabaram-se todas as ilusões de uma alternativa para a polarização entre Lula e Bolsonaro.

Fim de papo: agora terão que escolher um ou outro. Nem se trata mais de discutir virtudes ou defeitos dos candidatos que continuam no páreo. É uma questão de sobrevivência democrática e humanitária.

Para evitar a tragédia da reeleição, eu votaria até em mim mesmo.

Vida que segue.