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OPINIÃO

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Duas semanas após eleição, golpistas não desistem e marcam atos para dia 15

Caminhoneiros e populares apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) interditam trecho da BR-101 em Palhoça (SC) - Ricardo Trida/Uai Foto/Estadão Conteúdo
Caminhoneiros e populares apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) interditam trecho da BR-101 em Palhoça (SC) Imagem: Ricardo Trida/Uai Foto/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

13/11/2022 12h38

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Enquanto a equipe de transição de Lula e Alckmin busca dinheiro no orçamento para cobrir o rombo deixado pelo atual governo e poder pagar o Auxílio Brasil, a partir de janeiro, golpistas insuflados por Bolsonaro e setores militares preparam nova ofensiva antidemocrática para o dia 15, em Brasília, com caravanas de ônibus e caminhões que estão sendo organizadas em todo o país por empresários do agronegócio e dos transportes. Eles não aprendem e não desistem.

E o mercado, desta vez, ainda não se manifestou. Ninguém ficou nervoso.

Os protestos contra o resultado da eleição, mais uma vez, irão questionar as urnas eletrônicas e pedir intervenção militar para impedir a posse do presidente eleito Lula no dia 1º de janeiro, como estão fazendo desde a noite do dia 30 de outubro, logo após a proclamação dos resultados, quando começaram a bloquear estradas em todo o território nacional.

Principal foco da sedição é Santa Catarina, o estado mais bolsonarista do país, onde os trabalhadores estão sendo coagidos a participar de atos golpistas. O Ministério Público do Trabalho já recebeu 21 denúncias contra empresários que questionam o resultado das urnas, relata o site Diário do Centro do Mundo.

Em Itapema, os interessados são orientados a buscar passagens gratuitas num posto da Defesa Civil, órgão da prefeitura municipal. Na cidade de Itajaí, a distribuição de bilhetes é feita num carro de som, estacionado bem em frente a uma instalação da Marinha do Brasil.

Depois de desobstruir grande parte das estradas, a pedido do presidente Bolsonaro, os veículos dos revoltosos seguiram em ordem unida para a frente dos principais comandos militares do país, principalmente em Brasília, São Paulo, Rio e Manaus, onde permanecem acampados, com barracas, churrasqueiras e banheiros químicos, tudo muito bem organizado. A comida é grátis.

Embora já tenha divulgado três notas sobre as eleições e as urnas, o que não é da sua competência, o Ministério da Defesa, não tomou nenhuma providência para a retirada dos veículos e dos acampamentos, que atravancam o trânsito na área militar e nas vizinhanças, com carros de som que a todo momento tocam o Hino Nacional e convocam os manifestantes para participar dos atos golpistas do dia 15, como se o Brasil estivesse indo para uma guerra. Só pode ser uma guerra contra a democracia.

Na reportagem "Ataque às urnas e atos antidemocráticos buscam criar uma crise artificial no Brasil", publicada hoje na Folha, Uirá Machado ouviu analistas sobre este desafio às instituições, que vem se prolongando. "Nem os atos em prol da intervenção militar nem os ataques infundados à lisura das eleições devem ser vistos como normais na democracia brasileira, mas eles reconhecem que não há maneira simples de enfrentar essa estratégia bolsonarista".

Pode não ser simples, porque os organizadores são aliados do governo que está de saída e não quer largar o osso, mas se fossem manifestantes do Movimento dos Sem Terra, ligados ao PT, certamente já estariam todos presos e os acampamentos desmontados.

O Ministério Publico do Trabalho de Santa Catarina já denunciou à Justiça empregadores que integram a Câmara de Dirigentes Lojistas de Canoinhas, no interior do estado, mas os nomes não são divulgados. Para a procuradora Ana Roberta Tenório Lins, o objetivo é "subverter a ordem democrática".

Um dos cabeças dos revoltosos é o empresário Emilio Dalçoquio Neto, da área de transportes, já identificado pela Polícia Rodoviária Federal, também um dos líderes da grande greve patronal de 2018, que encurralou o governo de Michel Temer. Hoje, ele é um grande aliado de Jair Bolsonaro, que continua desaparecido no Palácio da Alvorada.

"Em uma sociedade que já sofreu uma ditadura militar, pessoas pedindo golpe é um problema. E o problema se torna maior quando a demanda por um golpe reflete a desconfiança deliberadamente plantada na cabeça de um segmento pelo próprio presidente", constata o cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, que é também coordenador do Observatório da Extrema Direita.

Casarões chama a atenção para o fato de que os atos antidemocráticos pipocaram assim que foi anunciada a vitória de Lula, "sem que fosse preciso esperar evidências de manipulação do resultado, evidências que não surgiram até hoje".

Ou seja, esses atos já estavam sendo organizados bem antes da abertura das urnas, o tal "Plano B" de Bolsonaro, para o caso de derrota. E não têm prazo para acabar. O grande protesto do feriado do dia 15 em Brasília, se nada for feito para barrar a nova ofensiva golpista, pode ser o início do terceiro turno.

Só não se sabe ainda se Bolsonaro vai deixar o exílio palaciano para comparecer à manifestação em seu favor.

Vida que segue.

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