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OPINIÃO

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Multa de R$ 22,9 milhões saiu barato para os golpistas do terceiro turno

O presidente Jair Bolsonaro com o ministro do STF e presidente do TSE Alexandre de Moraes, que enterrou mais uma tentativa golpista - Gabriela Biló/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro com o ministro do STF e presidente do TSE Alexandre de Moraes, que enterrou mais uma tentativa golpista Imagem: Gabriela Biló/Folhapress

Colunista do UOL

24/11/2022 12h25

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Depois de passar três semanas retirado no Palácio da Alvorada, lambendo as feridas e planejando um hipotético terceiro turno da eleição, Jair Bolsonaro reapareceu no Palácio do Planalto com o rabo entre as pernas nesta quarta-feira para receber os pêsames dos aliados que lhe sobraram neste fim de feira.

Lá, ele recebeu a notícia da derrota de mais uma tentativa golpista para contestar o resultado da eleição, enterrada em 24 horas pelo ministro Alexandre de Moraes, do TSE, que aplicou multa de R$ 22,9 milhões por "litigância de má fé" à coligação governista liderada pelo PL de Valdemar Costa Neto, o pistoleiro de aluguel que queria impugnar 279 mil urnas para proclamar a vitória de Jair Bolsonaro.

Pensando bem, até que saiu barato, diante dos enormes prejuízos causados à economia do país pelos terroristas que, com seus caminhões atravessados nas pistas, bloquearam e atearam fogo em rodovias por todo o país, de onde até hoje não saíram.

Quem vai indenizar os cidadãos e as empresas prejudicados durante a paralisação das estradas na ação golpista para pedir intervenção militar e impedir a posse do presidente eleito Lula no dia 1º de janeiro?

Há várias formas de reagir à derrota numa eleição, com honra ou com desonra. Lula, por exemplo, perdeu 3 vezes antes de ganhar a primeira, e saiu de cada uma das derrotas maior do que entrou, reconhecendo imediatamente a vitória dos adversários, coisa que o capitão até hoje não fez.

Bolsonaro, por sua vez, vai sair desta eleição ainda menor do que entrou, com a desonra dos cafajestes incorrigíveis, um presidente vingativo e irresponsável, do começo ao fim do seu único mandato.

"Em sua inépcia, a ação do PL reitera uma vez mais a lisura das urnas eletrônicas. Não há rigorosamente nada a contestar. O que falta a alguns é a honradez de aceitar a vitória do adversário _ mas isso não é um problema técnico, e sim de caráter", concluiu o principal editorial do Estadão desta quinta-feira.

Além da multa, o presidente do TSE mandou a Corregedoria-Geral Eleitoral instaurar um procedimento administrativo de eventual desvio de finalidade, para apurar "possível cometimento de crimes comuns e eleitorais", e determinou o bloqueio das verbas dos fundos partidários do PL, do PP e do Republicanos.

Em sua decisão, escreveu Alexandre de Moraes:

"Houve total má-fé da requerente em seu esdrúxulo e ilícito pedido, ostensivamente atentatório ao Estado democrático de Direito e realizado de maneira inconsequente com a finalidade de incentivar movimentos criminosos e antidemocráticos".

Os devotos golpistas que cercam instalações militares na esperança de atrair as Forças Armadas para um golpe contra a posse de Lula ficaram pendurados nas escadas com a brocha na mão, mais uma vez enganados pelo seu líder, que só pensa em se safar da Justiça depois de perder o foro privilegiado.

Diante dos sucessivos fracassos, os revoltosos que fizeram do bolsonarismo uma religião, podem agora criar alguma nova seita para recuperar o tempo e os recursos investidos numa conspiração de fancaria.

"Uma coisa é a fé nos princípios de uma religião, outra a crença irresponsável em ideologias que não têm fundamentos na realidade, que pregam e defendem conceitos vazios contrariando leis, tumultuando o processo democrático e ameaçando a segurança da sociedade", escreve no artigo "A seita que não aceita", publicado hoje na Folha, o jornalista e escritor Ricardo Viveiros, meu velho amigo dos tempos mais tenebrosos da ditadura militar, que inspiram ainda hoje os herdeiros do torturador-mor Brilhante Ustra, o herói de Bolsonaro e do general Mourão.

Nosso herói era o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, que denunciava e combatia corajosamente as torturas nos porões do regime, relatadas no livro "Brasil Nunca Mais", do qual participei. Quem hoje assume esse papel de guardião das instituições democráticas é o ministro Alexandre de Moraes, a quem muito ficaremos devendo por ainda vivermos numa democracia, apesar de tudo.

Acabou, Bolsonaro. Agora chega! Não haverá terceiro turno. Ponto.

Vida que segue.