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OPINIÃO

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Desfile em carro aberto? Os bolsonaristas estão querendo comemorar o quê?

 Na véspera da viagem, ainda não se sabia o que o ex-presidente Jair Bolsonaro fará ao chegar a Brasília, depois de uma temporada de três meses nos Estados Unidos. -  O Antagonista
Na véspera da viagem, ainda não se sabia o que o ex-presidente Jair Bolsonaro fará ao chegar a Brasília, depois de uma temporada de três meses nos Estados Unidos. Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

29/03/2023 12h38

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Desfiles em carros abertos são eventos programados para datas comemorativas como a conquista de uma Copa do Mundo, a chegada de campeões olímpicos ou do brasileiro vencedor do Premio Nobel, que jamais ganhamos, para celebrar a escola de samba campeã do Carnaval, a Marcha para Jesus ou a Parada Gay.

Era isso que os bolsonaristas mais fiéis da seita imaginavam para recepcionar o Mito, na sua programada volta ao Brasil nesta quinta-feira, dia 30 de março de 2023, depois de três meses de auto-exílio nos Estados Unidos, véspera do 59º aniversário do Golpe Militar de 1964.

A confusão já começou hoje, bem antes da sua chegada, como informa minha colega Thaís Oyama aqui no UOL.

"Foi com uma cascata de palavrões que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu a informação dos preparativos do governo do Distrito Federal para a sua chegada. O que mais irritou Bolsonaro foi a informação de que ele não poderia desembarcar pela saída principal do aeroporto, o que considerou uma tentativa de humilhá-lo". Por motivos de segurança, e para evitar transtornos no embarque e desembarque de passageiros, o ex-presidente terá que deixar o aeroporto por uma saída lateral.

A ideia dele e dos seus apoiadores era Bolsonaro subir na caçamba de uma caminhonete, falar à multidão que o estaria esperando e seguir em carreata e motociata até o condomínio de luxo onde vai morar em Brasília. Agora, o mais provável é que siga num carro comum até a sede do PL, sem fazer barulho. Nem Michelle queria que ele fosse direto para casa para não incomodar os novos vizinhos com possíveis tumultos à sua chegada.

Mas, afinal, o que os bolsonaristas queriam comemorar, depois de quatro anos de destruição sistemática do país e de suas instituições, culminando com a tentativa fracassada de golpe no dia 8 de janeiro?

Em tempos normais, derrotas não costumam ser comemoradas. Passaria por acaso o desfile pelos presídios da Papuda e da Colmeia, para saudar os autores dos atentados à sede dos poderes em Brasília?

Seria para lembrar a marca de 700 mil mortos na pandemia da covid, registrada na véspera, para a qual o antigo governo muito contribuiu, por ação ou omissão, como mostrou a CPI do Senado?

Ou o objetivo era apenas fazer uma provocação ao Poder Judiciário, onde o ex-presidente é investigado em diferentes instâncias, e prejudicar os atuais governantes, que receberam a massa falida das contas públicas com os juros nas alturas?

Haveria também um desfile do relicário de joias generosamente oferecidas pelos soberanos das arábias - muito ouro e pencas de diamantes, em troca de quê, exatamente? -, que estavam guardadas na fazenda de Nelson Piquet, o amigo piloto que poderia assumir o volante da caminhonete, como já fez no Rolls-Royce presidencial num desfile de 7 de Setembro.

A volta do Mito não poderia ocorrer em momento mais impróprio. Coincide com a descoberta, quando ele já estava arrumando as malas, de uma terceira caixa de joias, revelada pelo Estadão. Quantas outras haveria nas três malas da bagagem com excesso de peso trazidas pela comitiva do contra-almirante Bento de Albuquerque?

Com ou sem desfile em carro aberto, a Secretaria de Segurança do Distrito Federal calcula que entre 5.000 e 10 mil pessoas podem comparecer na recepção a Bolsonaro no aeroporto de Brasília, às 7 da manhã de sexta-feira, com base no monitoramento das redes sociais que vem sendo feito nos últimos dias para evitar surpresas.

Qual seria o custo e o número de policiais empregados nos esquemas de segurança necessários para proteger o ex-presidente, caso essa multidão se deslocasse pela cidade para seguir o seu Mito?

Para quem já consumiu quase R$ 700 mil reais dos cofres públicos, com a manutenção do estafe de segurança em sua temporada nos Estados Unidos, não faria muita diferença.

Vida que segue.