Francisco e Leão 14 renovam esperanças no futuro da Igreja

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"Quem é esse novo papa?", foi a pergunta que todos se fizeram na praça de São Pedro e no resto do mundo quando ele apareceu na sacada do Vaticano e foi anunciado como Leão 14.
Sem saber também quem ele era, gostei de cara da cara dele. Achei que tem jeito de papa bondoso, boa gente.
O cardeal americano-peruano Robert Prevost não tinha aparecido em nenhuma daquelas listas de favoritos a suceder Francisco. Tanto ele como a multidão à sua frente pareciam surpresos com a novidade.
Com os dois braços erguidos, só olhando para aquele mar de gente que o aplaudia, ficou um bom tempo em silêncio, um sorriso tímido, como se quisesse abraçar a todos ao mesmo tempo.
Prevost estava visivelmente comovido e fez força para não chorar antes de dizer as primeiras palavras, agradecendo a Francisco e falando em paz, que é o que o mundo mais precisa nesse momento.
Tenho para mim que, por mais antigas e poderosas que sejam as instituições, tudo depende sempre de quem as comanda em cada época, lugar e circunstâncias. Isso vale para a milenar Igreja Católica, mas também para países, corporações, clubes de futebol, universidades, academias de letras, empresas ou exércitos.
O indivíduo escolhido por um colégio de cardeais sob a inspiração do Espírito Santo é quem vai determinar os rumos daqui para a frente, para o bem ou para o mal, assim como acontece em qualquer eleição presidencial.
Basta pegar o exemplo dos Estados Unidos, o país onde o novo papa nasceu. Era um, sob o comando de Barack Obama, e é outro, completamente diferente, com Donald Trump.
Assim é também com a Igreja Católica: a de Francisco, que abriu as portas dos templos e os olhos do Vaticano para o mundo, nada tinha a ver com a dos antecessores João Paulo 2º e Bento 16. O papa argentino fez muita gente se reconciliar com a Igreja Católica, que enfrentava uma crise existencial.
Num mundo carente de lideranças em todas as latitudes, mergulhado em guerras, com medo do futuro, a chegada de Leão 14, significou uma renovação de esperanças plantadas por Francisco.
A começar pelo nome escolhido, uma referência a Leão 13, que implantou a doutrina social da Igreja e abriu os arquivos secretos do Vaticano num papado que durou 25 anos, com a encíclica "Rerum Novarum", na passagem do século 19 para o 20, o cardeal Prevost ofereceu sinais de que dará continuidade às reformas e prioridades de Francisco.
Costumo dizer que o coração sente e a cabeça pensa de acordo com o chão onde a gente pisa. E Leão 14, o primeiro papa norte-americano, um padre missionário, progressista nas questões sociais e conservador nos costumes, defensor do meio ambiente e dos imigrantes, passou a maior parte da sua vida religiosa na diocese de Chiclayo, uma região pobre do norte do Peru, onde foi nomeado bispo pelo papa Francisco.
Nada acontece por acaso. De lá, o antecessor o chamou para o Vaticano, o promoveu a cardeal e o encarregou de cuidar da prefeitura dos bispos, onde ele conheceu muitos dos eleitores no conclave desta semana.
Quem não gostou nada da eleição de Leão 14, curiosamente, foi o governo de Donald Trump, de quem Prevost sempre foi crítico, desde o primeiro mandato do presidente dos Estados Unidos, como mostrou nosso correspondente Jamil Chade em coluna que vale a pena ler aqui no UOL.
Na Casa Branca, Prevost já foi chamado até de "marxista", coisa de quem não o conhece, e analistas se apressaram em considerar o novo papa como um contraponto à ofensiva imperialista de Trump, que quer governar o mundo.
E quem mais deve ter festejado a vitória de Leão 14, com certeza, foi o papa Francisco lá no céu...
Vida que segue.
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