Lula foi avisado que relação China-América Latina é mais dura do que parece
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Antes de entrar na reunião entre países da América Latina e do Caribe com a China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o aviso de que a relação dos chineses com a região é mais difícil do que parece —e do que Lula fez parecer durante sua passagem por Pequim.
Os auxiliares do presidente Lula entregaram a ele um documento que descrevia o que ele deveria esperar da reunião e citava os principais obstáculos no trato diplomático entre a Celac, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, e Pequim.
O primeiro obstáculo, na visão da diplomacia brasileira expressa no documento entregue a Lula, é o viés sinocêntrico dos textos apresentados pelos chineses quando negociam politicamente com o bloco. Isto é, há pouca margem de negociação por parte de Pequim para abrir mão de seus próprios interesses.
O presidente foi avisado que o trato de Pequim com a Celac costuma ser assimétrico. Segundo documento que chegou a Lula, o diálogo "não tem sido equilibrado e reflete, sobretudo, interesses da China".
O segundo ponto problemático para a relação entre China e a Celac é a polarização política dentro da América Latina, que dificulta a chegada de consensos mesmo regionalmente.
No mês passado, Argentina e Paraguai, governados por presidentes de direita, se opuseram a uma declaração comum em reunião da Celac, em Honduras. Há, por parte dos mesmos países, resistência em mostrar algum alinhamento político com a China. A Nicarágua, governada por um ditador de esquerda, também se opôs.
Lula celebrou, em discurso nesta terça-feira, em Pequim, a reunião entre o grupo dos latinos e caribenhos com Xi Jinping. Lembrou que a China é o segundo maior parceiro comercial da Celac, e que o dinheiro de instituições chinesas que investem na região supera os empréstimos do Banco Mundial ou do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
A intenção do Brasil na reunião dos países latinos com a China era mostrar que a Celac tem uma agenda externa forte "em momento especialmente sensível", segundo a diplomacia brasileira. Há interesse, por parte da Celac, em "reafirmar autonomia" frente à disputa por hegemonia global travada entre Estados Unidos e China. Por isso Lula falou em seu discurso que a América Latina não deseja encenar uma nova Guerra Fria.
Para isso serviu o encontro da cúpula em Pequim, tentar fazer da região algodão entre cristais ao mesmo tempo que atrai o interesse --e o dinheiro-- dos chineses. A leitura dentro do governo é a de que essa relação, entre América Latina e China, ganha força diante de um mundo governado por Donald Trump, mas ainda é mais complexa do que os discursos fazem parecer.
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