Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O voo emancipatório de Rebeca Andrade
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O voo de Rebeca não foi apenas ouro. Foi um voo emancipatório em muitos aspectos, em muitas nuances. Eu, que não manjo nada de ginástica ou de jogos olímpicos, descubro navegando pelos portais de notícia que, ao conquistar uma medalha de prata e uma de ouro, Rebeca se tornou a brasileira com melhor desempenho individual numa mesma edição. A melhor entre as mulheres? Não: a melhor entre homens e mulheres!
Rebeca é a primeira pessoa, no Brasil, a voltar para casa com um ouro e uma prata, sem considerar as modalidades coletivas. Isso é fantástico. E é fantástico porque o esporte, no Brasil, nunca esteve tão abandonado (como todo o resto, para sermos sinceros). É fantástico porque Rebeca soube ousar na escolha da trilha sonora de sua apresentação, também vitoriosa, três dias atrás. É fantástico porque a ginástica foi por muito tempo considerada uma modalidade de brancos e brancas, no Brasil. O recorde de Rebeca se reveste de uma potência inédita e superlativa.
Uma semana atrás, domingo, 25 de julho, pouco se falou sobre isso, mas a data celebrava o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, instituída em homenagem à líder quilombola Tereza de Benguela. Os passos da mulher negra vêm de longe. Sua força e sua resiliência são olímpicas, desde sempre. Fora dos ginásios e das pistas, ninguém faz ginástica como a mulher negra, dia após dia, em qualquer área de atividade, profissional ou familiar.
Assumindo o risco de parecer piegas ou raso, acredito que o ouro de Rebeca vem coroar uma luta e uma construção simbólica que ultrapassam em muito os limites do pódio. Que nós, homens brancos, saibamos respeitar e reverenciar essa jornada. E não apenas aplaudir, mas nos tornarmos parte dessa caminhada, dessa construção. Não somente no esporte, é lógico. É da construção de um país, de uma sociedade, de uma comunidade, de uma nação que estamos falando. Para ontem. E para o amanhã.
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