Carla Araújo

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Reportagem

Chefe do Exército prepara visita a militares presos, incluindo Braga Netto

Um general quatro estrelas preso não é algo usual para o comando das Forças Armadas. Mas não é tão incomum que militares fiquem detidos. Atualmente, há 15 oficiais e 82 praças cumprindo prisões preventivas e de sentença condenatória nas Organizações Militares (OM) do Exército Brasileiro.

Faz parte da rotina do comandante do Exército, general Tomás Paiva, desde que assumiu o posto, em fevereiro de 2023, visitar essas instalações e conversar com os militares detidos.

A expectativa agora é quando acontecerá e como será o encontro entre ele e o general Walter Braga Netto, preso desde 14 de dezembro, após ser acusado de participar de uma trama golpista e por supostamente tentar obstruir as investigações.

A intenção de visitar Braga Netto foi revelada pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo, e confirmada pela coluna.

Ainda não há data para o encontro, mas o comandante já avisou a subordinados que pretende ir ao Rio de Janeiro, onde Braga Netto está detido, em breve.

Braga Netto coordenou ataques ao atual comandante

As investigações da Polícia Federal que implicam o ex-presidente e alguns auxiliares militares mostraram que Braga Netto deu orientações para que ataques ao comandante do Exército fossem disseminados por mensagens.

Segundo o relatório da PF, Braga Netto teria dado ordens para que o ex-major Ailton Gonçalves Barros disparasse mensagens "com o objetivo de atingir a reputação do general Tomás Miguel Miné Ribeiro de Paiva, atual comandante do Exército, integrante do Alto-Comando do Exército (ACE), que também adotou uma posição legalista".

Nas mensagens, diz que o comandante "nunca valeu nada" e tentou vinculá-lo ao PT. "Parece até que ele é PT desde pequeninho", escreveu, para acrescentar, ao final: "É verdade. Pode viralizar."

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A visita aos militares presos

No ano passado, o chefe do Exército realizou viagens institucionais a todos os Comandos Militares de Área da Força, como as guarnições de Rio, São Paulo e Brasília.

Segundo o Centro do Comunicação Social do Exército, nessas ocasiões, "quando a agenda de atividades possibilitou, foram realizadas visitas aos presos nas OM, conforme preceitos estabelecidos nas normas em vigor, no que se refere às condições de custódia dos presos, incluindo infraestrutura local, apoio de advogado, condições psicológicas, bem como situação familiar".

Conforme mostrou a coluna, o ex-ministro e ex-candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022 está detido no Comando da 1ª Divisão de Exército, na zona oeste do Rio. Ele tem um quarto adaptado para ser uma cela, sem grades na janela, mas com cadeado.

Segundo o Exército, Braga Netto "se encontra isolado, com direito a banho de sol, e está em um alojamento destinado a oficiais do Estado-Maior com banheiro reservado, conforme preconiza o Estatuto dos Militares".

O Exército disse ainda que "assim como ocorre nos casos dos presos, o comandante do Exército também realiza visitas aos hospitais da Força situados nas diversas guarnições militares, de acordo com a legislação em vigor".

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O relatório da PF

Braga Netto é apontado pela Polícia Federal como uma figura central na trama golpista. Segundo as investigações, o general da reserva teria entregado dinheiro em uma sacola de vinho para oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos", para financiar o plano de assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ainda de acordo com o relatório da PF, Braga Netto organizou em sua casa uma reunião para discutir planos do golpe, pressionou militares de alta patente a aderir à empreitada e tentou ter acesso à delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, para interferir na investigação.

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