Carla Araújo

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Reportagem

Carreira de Cid no Exército é bloqueada; cúpula militar lamenta desgaste

A carreira do tenente-coronel Mauro Cid passa a ser oficialmente bloqueada com a decisão da Primeira Turma do STF em tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados, incluindo Cid, por tentativa de golpe.

Cid já estava afastado e não havia sido promovido por decisão da Comissão de Promoção de Oficiais, que julgou que ele tinha méritos insuficientes por conta das investigações em curso.

Agora, no entanto, Cid passa a condição sub judice e, com isso, não pode ser promovido, movimentado e também não pode passar para a reserva.

Segundo fontes da caserna, esse processo acontece praticamente de forma automática, já que a sessão do STF foi pública e a informação é de conhecimento geral. Há a possibilidade de o Exército solicitar algum documento ao STF, mas isso não impacta no procedimento administrativo interno, que deve ser oficialmente aberto em breve.

Cid será comunicado da etapa interna do Exército. A avaliação de militares ouvidos pela coluna é que, mesmo tendo fechado acordo de delação premiada, dificilmente Cid deve escapar de uma condenação e ainda deve ter que responder futuramente na Justiça Militar.

Ao fechar o acordo de delação, Cid pediu perdão judicial ou máximo de dois anos de prisão, justamente para tentar escapar de uma decisão na corte militar, que prevê avaliar casos de condenações acima de dois anos.

Apesar disso, a avaliação de integrantes da Cúpula das Forças Armadas é que não há mais condições para que o ex-auxiliar de Jair Bolsonaro siga na vida militar depois de finalizado o processo.

O atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, assumiu o posto em janeiro de 2023, depois de o presidente Lula demitir o general Júlio César de Arruda do comando da Força. Uma das razões de insatisfação de Lula era justamente a situação de Cid, que assumiria o 1º Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia.

Com a chegada de Tomás, Cid foi colocado "na geladeira", e a nomeação para que ele comandasse o batalhão foi suspensa.

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Cúpula lamenta desgaste para imagem militar

O Comandante do Exército manteve agendas internas em Brasília ontem e hoje, e assistiu apenas a alguns trechos das sessões do STF. A aliados, Tomás lamentou a situação que leva agora ao banco dos réus militares de alta patente como general Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio.

Apesar disso, nas conversas, o comandante destaca que todos —com exceção de Cid— exerciam cargos políticos e não militares durante o período que está sendo investigado.

Tomás, porém, não esconde que é "muito ruim" para a imagem militar ter membros do Exército denunciados e réus. E tem feito a avaliação de que o trabalho de resgaste de imagem perante a opinião pública ainda demora e que esses danos ainda não estão completamente precificados.

A colegas de patente, Tomás também tem lamentado a situação, dito que não deseja para ninguém responder um processo dessa gravidade e que torce para que "as pessoas se expliquem".

Na caserna também houve a avaliação de que as defesas que foram feitas ontem não negaram a existência de um plano de golpe e que cada um está tentando defender o seu cliente. Ou seja, ficou explícito, segundo fontes ouvidas pela coluna, que os militares irão abandonar qualquer espírito de corpo e tentarão salvar cada um a si mesmo.

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