Governador do AP defende petróleo na Amazônia e abandono do 'romantismo'
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A riqueza natural contrasta com a pobreza das pessoas no Amapá. Essa é a visão do governador Clécio Luis (Solidariedade), que defende os estudos e a exploração de petróleo da Foz do Amazonas e prega uma COP30 sem demagogia e romantismo.
Em entrevista ao UOL, o governador rebate as críticas de ambientalistas, diz que vê falta de vontade política do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente e exalta a atuação de Davi Alcolumbre, do presidente Lula e da Petrobras para que os projetos de exploração do petróleo possam ir adiante.
Segundo ele, a COP30, que acontecerá em Belém, em novembro, é uma oportunidade para "botar o dedo na ferida".
Quem for para a COP para vender uma Amazônia romântica está mal-intencionado. Nós não podemos permitir que a COP se transforme numa espécie de Rock in Rio (...). Se a gente só romantizar, no final das contas todo mundo vai bater uma foto com indígena, com caboclo, com ribeirinho, vai dizer esse aqui é um exemplar da espécie caboclo, da espécie ribeirinha. Vai se referenciar dessa forma, igual nos livros antigos. Vai bater uma foto e vai dizer: 'Eu fui'.
Governador do Amapá, Clécio Luis
Para o governador, é preciso elevar a qualidade do debate e também não ceder a pressões internacionais que querem a preservação da floresta, sem permitir o desenvolvimento regional.
"Romantizar é muito ruim. Outro extremo é nos ajoelharmos a todo esse discurso que desconhece a Amazônia, mas quer impor aqui que nós não façamos nada, que a gente fique nessa história de santuário intocável, de pulmão do mundo, coisas totalmente ultrapassadas", afirmou o governador.
"Nós somos, sim, responsáveis pelo equilíbrio climático do planeta. Nós somos, sim, queremos ser mais ainda responsáveis pelo não aquecimento global, pelo não efeito negativo das mudanças climáticas. Mas até para preservar a Amazônia a gente precisa de recursos. População pobre com fome não preserva, não protege, ao contrário, vende a árvore para poder comer."

Governador conta com Alcolumbre e Lula
Clécio Luis lembrou a fala do presidente Lula —que acusou o Ibama de fazer "lenga-lenga" ao travar licenciamentos ambientais— e disse que vê falta de vontade política no órgão ambiental.
"Eu acho que estão empurrando com a barriga. Daqui a pouquinho tem a COP. Quem é que vai querer licenciar poços de petróleo na Amazônia em plena COP?", questiona.
Aliado político do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Clécio diz que é preciso aproveitar a presidência do amapaense no Congresso para fazer avançar leis que agilizem o andamento das obras com impacto ambiental.
"Ele já ajuda de todas as formas, porque é a primeira vez que a gente tem um presidente do Senado de verdade da Amazônia, sabe? E ele tem um perfil que consegue aglutinar muito, articular bem, juntar e criar consenso", diz
Em maio, o Senado aprovou um projeto que torna mais fácil a emissão de licenças ambientais. A lei permite obras com licenças autodeclaradas, mesmo que tenham médio impacto ambiental. Para citar um exemplo, a barragem de Brumadinho (MG) tem médio impacto ambiental e causou 270 mortes ao se romper em 2019.
Uma das maiores tarefas que eu, que o Davi, que os líderes políticos do Amapá e do Brasil têm hoje é sair dessa pauta de um país dividido, de um país conflagrado, de pautas morais, de pautas de costume para o que realmente interessa. E para fazer isso não é fácil, porque é difícil construir consenso em torno dessas pautas. Ele [Alcolumbre] tem uma habilidade gigante, incrível, de construir esse consenso, sem imposição. É construção mesmo, não é unanimidade, mas construir consensos é possível em favor, por exemplo, do petróleo.
Clécio Luis, governador do Amapá
Assim que assumiu a presidência do Senado pela segunda vez, em fevereiro, Alcolumbre levou o presidente Lula ao Amapá. Os dois têm tido uma relação bastante próxima. Lula avalia a aliança de Alcolumbre como estratégica, inclusive para a eleição de 2026.
"Eu vejo o presidente Lula com um posicionamento muito claro e é assim que tem que agir um líder. Ele é absolutamente claro em relação à pesquisa e depois à decisão de produzir ou não petróleo na costa da Amapá."
'Lenga-lenga' e sucateamento do Ibama
O governador reclama da dificuldade de realizar uma simulação de acidente na costa do estado, que poderia prever os danos e organizar planos de contenção de derramamento de óleo, por exemplo.
"Vai se simular uma perfuração, não vai ter perfuração, é simulação. Lá embaixo vai se simular um derramamento de óleo a partir de um produto à base de milho, ou seja, é orgânico, e vai se simular como se o óleo estivesse vazando", diz.
Segundo o governador, o estado já realiza estudos de possíveis impactos há mais de uma década. "Tem todo o estudo das correntes, para onde vão as correntes, se essas correntes têm ponto de retorno, enfim, se elas levam para costa ou para fora. Todas levam pra fora, tá?", afirma.
Sobre os novos leilões e as expectativas de exploração da Foz do Amazonas, o governador disse que ainda não é possível prever quanto de royalties o estado poderia arrecadar, mas ele defende que o valor extraído seja revertido para a população local e promete que fará uma consulta pública para ouvir a comunidade.
O governador faz elogios à atuação da Petrobras, cita o ex-presidente Jean Paul Prates e a atual, Magda Chambriard, para dizer que quem acompanha o tema "sem paixões" sabe que ainda não é possível abrir mão do petróleo, mesmo sendo um combustível fóssil e finito.
"O comportamento da Petrobras, para mim, tem sido exemplar. Tudo o que é pedido, eles fazem. Tudo, absolutamente tudo. Agora, me falta ver um diálogo melhor, mais franco, entre os demais entes, Ministério do Meio Ambiente e Ibama, com a própria Petrobras."
O governador diz que conversa com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e que concorda com o argumento dela de que é preciso tomar as decisões com respaldo técnico.
"Eu ouvi, por exemplo, da própria ministra Marina, o seguinte depoimento: 'Olha, nós vamos fazer tudo certo, vamos fazer de acordo com a técnica, não vamos aceitar pressa'. Todo mundo concorda com isso, isso é o básico. Nós não queremos nada atabalhoado, nada aligeirado, nada que ponha em risco a segurança ambiental ou a segurança das pessoas."
Geógrafo de formação, o governador diz que não se trata de colocar o meio ambiente contra o desenvolvimento econômico. "Se trata de utilizar a ciência ao nosso favor pensando de forma estratégica como o país deve pensar", diz, defendendo os novos leilões e novos estudos na região da Foz.
Outro argumento adotado pelo governador é que o Brasil tem que pensar na "soberania nacional", que ainda será dependente do petróleo e dos demais combustíveis fósseis por anos. "Se o Brasil não fizer essa nova exploração, daqui a alguns anos vai voltar a ser importador de petróleo e de outros combustíveis fósseis. Simples assim."
"Não podemos relegar o meio ambiente ao segundo plano, não é isso que eu estou propondo. Aliás, é o contrário. Os recursos da Petrobras, os recursos do petróleo, podem inclusive ajudar a reestruturar o Ibama, o ICMBio, que estão sucateados."
O governador diz ainda que esteve na Noruega —vista como referência na exploração de petróleo, e diz que vai intensificar a produção porque sabe que "o mundo vai precisar desse tipo de material durante muito tempo". "Nós estamos começando a engatinhar em termos de transição energética", diz.
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