Carla Araújo

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Reportagem

Os dois desejos de Alcolumbre para selar a paz com Lula

Romper o diálogo definitivamente não interessa para o presidente Lula e nem para o Congresso Nacional. A avaliação é feita por diversos ministros e parlamentares e compartilhada por Davi Alcolumbre. O presidente do Senado tem ao menos dois desejos que podem ajudar na relação: quer que governo pare os ataques ao Congresso e que Lula demita o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Alcolumbre tem feito coro ao presidente da Câmara, Hugo Motta, e dito a aliados que o governo vai precisar parar com os ataques que visam, segundo ele, a transformar o Congresso em inimigo do povo.

A avaliação do entorno de Alcolumbre é que Lula demorou para fazer um gesto e ainda tem dados sinais antagônicos sobre a sua disposição em "selar a paz". Nas palavras de um aliado de Alcolumbre, o presidente Lula "tem que fazer o gesto de verdade".

"Não adianta falar que vai conversar e segurar cartaz chamando o Congresso de inimigo do povo", disse uma fonte, em referência ao cartaz que Lula levantou durante uma agenda em Salvador ontem que dizia "taxação dos super-ricos".

O dado concreto é que os interesses de poucos prevaleceram dentro da Câmara e do Senado, o que eu acho um absurdo.
Presidente Lula em entrevista à TV Globo da Bahia

Lula segurou um cartaz pedindo 'taxação dos super-ricos' em agenda na Bahia
Lula segurou um cartaz pedindo 'taxação dos super-ricos' em agenda na Bahia Imagem: Ricardo Stuckert / PR

O governo está apostando no mote da "justiça tributária e social", que tem sido visto como um estímulo ao "nós contra eles".

Além disso, o PT iniciou uma ofensiva nas redes sociais com uso de vídeos produzidos por Inteligência Artificial que destaca ações do governo chamadas de "BBB", com propostas para taxar bilionários, bancos e bets, e acusando os parlamentares de defender só uma camada privilegiada da população.

A cabeça de um ministro

Uma informação circula com relativa naturalidade no Congresso e no Planalto: Alcolumbre não fala e não gosta do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia). Conforme mostrou reportagem da Folha de S.Paulo, o presidente do Senado já insinuou que há suspeitas de corrupção envolvendo Silveira, sem citar especificamente quais seriam.

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A suspeita chegou ao Planalto. Auxiliares de Lula avisaram ao presidente que Silveira estaria com "cheiro de problema". Segundo apurou a coluna, em uma dessas tentativas de fritura de Silveira, após a crise do IOF, Lula se irritou.

Disse estar cansado de escutar acusações "sem provas" e defendeu o ministro, mas disse também que o demitiria se algo concreto aparecer. No Planalto, o assunto foi dado como encerrado por ora. No Congresso, não.

Alcolumbre, segundo aliados, já "externou diversas vezes nos últimos meses" que é ruim para o governo manter um ministro de Minas e Energia que não se relaciona com o Congresso. E já sugeriu que uma troca no posto poderia ajudar no andamento de pautas de interesse do governo em uma área tão importante como Minas e Energia. "Se ele fizer o gesto de tirar [o Silveira], com certeza isso agradaria muito [o Alcolumbre]", afirmou uma fonte.

Lula falou que vai chamar Alcolumbre e Motta para conversarem na semana que vem, depois da Cúpula do Brics, no Rio.

Alcolumbre, que desde a deflagração da crise não falou nem com Lula e nem com ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, avisou que "obviamente atenderá ao convite do presidente".

E repete que seu legado da gestão passada era ser "um pacificador". "Ele quer pacificar essa crise", afirmou um aliado do presidente do Senado.

Reportagem

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