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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Governo rejeitado, 'eduardismo' rachado: PSB empaca até com Lula em PE

Lula e Danilo Cabral durante ato em Garanhuns (PE), em julho - Reprodução/Twitter
Lula e Danilo Cabral durante ato em Garanhuns (PE), em julho Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

18/08/2022 04h00

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A visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pernambuco, em julho, era vista como um divisor de águas para que o candidato apoiado por ele ao governo do estado, o deputado federal Danilo Cabral (PSB), subisse nas pesquisas.

Não funcionou. Com desconforto, Lula ouviu ecoar nos atos os gritos por Marília Arraes (Solidariedade) e viu seu aliado cair ainda mais nas pesquisas, impregnado pela onda de rejeição de seu padrinho local, o governador Paulo Câmara (PSB).

A avaliação de seu governo está muito baixa. Segundo dados do Ipec divulgados na última segunda-feira, 53% dos pernambucanos apontaram a gestão do governo estadual como ruim ou péssima. Só 15% disseram ser boa ou ótima. Outros 29% a veem como regular.

"O fato é que Danilo é identificado com o governo do PSB, com o governador Paulo Câmara", diz o cientista político Arthur Leandro, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

A disputa ao governo de Pernambuco tem 12 candidatos, com cinco nomes vistos como mais competitivos. Entre esses cinco, segundo o último Ipec, Danilo é o que aparece em pior situação, com apenas 6% das intenções de voto.

Veja os cenários de 1º turno

Cenário estimulado (com lista prévia de nomes):

  • Marília Arraes (Solidariedade): 33%
  • Raquel Lyra (PSDB): 11%
  • Anderson Ferreira (PL): 10%
  • Miguel Coelho (União Brasil): 9%
  • Danilo Cabral (PSB): 6%
  • Claudia Ribeiro (PSTU): 1%
  • Jadilson Bombeiro (PMB): 1%
  • João Arnaldo (PSOL): 1%
  • Jones Manoel (PCB): 1%
  • Ubiracy Olímpio (PCO): 0%
  • Pastor Wellington (PTB): 0%
  • Brancos e nulos: 17%
  • Não souberam: 9%

Para Arthur Leandro, apesar da visita de Lula, a associação de Danilo com a figura do ex-presidente não parece convencer o eleitorado. "Essa vinculação de imagem não é um processo de hoje. Danilo está no mesmo rol de políticos como Paulo, como Geraldo Júlio [ex-prefeito do Recife]. Já Marília trabalhou para ser candidata ao governo em 2018, quando ainda era do PT. Ela foi a candidata de Lula em 2020", diz.

Logo, Marília é identificada a Lula mais naturalmente, mesmo não estando no PT. Já para Danilo Cabral, esse é um esforço digamos simbólico e indireto da aliança de PT e PSB."
Arthur Leandro, cientista político

O cientista político afirma ainda que, nesse cenário de "palanque duplo", Lula não está investindo na campanha de Danilo. "Ele cumpriu o seu papel, mas não disse que Marília é sua adversária. Grande parte do eleitorado de Lula vota em Marília", diz.

Marília faz o L de Lula na comunidade de Roda de Fogo, no Recife - Léo Caldas/Divulgação - Léo Caldas/Divulgação
Marília faz o L de Lula na comunidade de Roda de Fogo, no Recife
Imagem: Léo Caldas/Divulgação

'Eduardismo' rachado

Há 15 anos e oito meses no poder em Pernambuco, o PSB convive hoje com um cenário de racha da base construída por Eduardo Campos (ex-governador morto em acidente aéreo em 2014). Os cinco candidatos mais bem colocados na disputa eram aliados ou integraram o governo de Campos no estado.

A primeira colocada, Marília Arraes, é prima de Eduardo e foi secretária de Juventude e Emprego de Pernambuco entre 2007 e 2008.

Após a morte de Eduardo, porém, passou a ter divergências com o PSB pelo apoio do partido a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição de 2014. Em 2016, com o apoio da sigla ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), deixou o partido.

Segunda colocada na pesquisa Ipec, a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSB) é filha do ex-vice-governador de Campos, João Lyra Neto, que chegou a assumir o posto em abril de 2014, após a renúncia de Campos para disputar a Presidência. Nesse mesmo segundo mandato de Eduardo, Raquel foi secretária da Criança e da Juventude.

Já Miguel Coelho (União Brasil) é filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), que foi braço direito de Campos. Ele foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape entre 2007 e 2010. Em 2011, assumiu o Ministério da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff (PT) por indicação de Campos.

Até mesmo o candidato de Jair Bolsonaro (PL) em Pernambuco tem ligações com Eduardo Campos. Anderson Ferreira (PL) ganhou sua primeira eleição na Frente Popular, apoiando o ex-governador em 2010.

Eduardo Campos, morreu em um acidente com um avião no dia 13 de agosto de 2014, em Santos (SP) - Luiz Claudio Barbosa/Futura Press/Folhapress - Luiz Claudio Barbosa/Futura Press/Folhapress
Eduardo Campos morreu em um acidente de avião no dia 13 de agosto de 2014, em Santos (SP)
Imagem: Luiz Claudio Barbosa/Futura Press/Folhapress

Para o cientista político Adriano Oliveira, o grande desafio de Danilo Cabral não é o racha do "eduardismo", mas a imagem desgastada do PSB no estado. "A dificuldade de Danilo é apenas justificar por que o PSB merece seguir no poder", diz.

Ele explica que o movimento chamado "eduardismo" guarda semelhanças com o lulismo, tanto pela força que alcançou como por unir em torno de seu nome uma aliança gigante de políticos e partidos.

Eduardo Campos foi um consenso, por isso que ele criou um movimento muito semelhante ao lulismo, que é um movimento nacional, em particular no Nordeste. Já o 'eduardismo' era um fenômeno local."
Adriano Oliveira, cientista político

Sobre os demais candidatos que orbitavam em volta de Campos, ele afirma que é normal que eles busquem caminhos diferentes após sua morte.

"Os outros candidatos se afastaram do PSB simplesmente por disputa de espaço de poder, o que é absolutamente normal em qualquer atividade, em qualquer dinâmica política", cita.