Topo

Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

'Lula já nos ouviu mais que Bolsonaro em 4 anos', diz líder do Consórcio NE

Governador João Azevedo, da Paraíba, será o presidente do consórcio a partir de janeiro  - Governo da PB/Divulgação
Governador João Azevedo, da Paraíba, será o presidente do consórcio a partir de janeiro Imagem: Governo da PB/Divulgação

Colunista do UOL

25/12/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Eleito no último dia 8 como novo presidente do Consórcio Nordeste, o governador da Paraíba, João Azevedo (PSB), afirma que espera uma retomada das "relações republicanas" entre governo federal e estados, com a posse de Lula.

Nesse curto período, já tivemos mais oportunidades de conversar com o presidente Lula. Ele nos ouviu [mais que Jair Bolsonaro em quatro anos]."
João Azevedo

O consórcio do Nordeste se posicionou como adversário de Bolsonaro, principalmente durante a pandemia. "O Nordeste não teve a devida atenção exatamente pela posição política que adotou em 2018", diz Azevedo.

Do mesmo partido do vice Geraldo Alckmin e aliado de Lula, Azevedo fala que espera mais avanços do Nordeste a partir de 2023 e cita o turismo e a produção de energias renováveis.

O Nordeste não pode ser visto hoje como aquele de 50 anos atrás. Somos uma região que gera riqueza muito grande.

Confira trechos da entrevista exclusiva à coluna:

Importância do consórcio

O consórcio teve função importante enquanto órgão colegiado, que permite uma troca de experiências muito grande. A cada momento ele atuou de forma diferente. Na pandemia, foi fundamental para nortear as ações: criamos o comitê científico com pessoas de alto nível, auxílio de todas as universidades, que deu suporte técnico aos estados e isso nos levou a ter a menor taxa de mortalidade de covid-19.

Sem contar a criação do escritório de negócios, os projetos em conjunto, as riquezas e potencialidades apresentadas lá fora.

Em janeiro deve haver uma reunião com todos os governadores reeleitos e novos para a gente definir, de forma colegiada e consensual, os caminhos que o consórcio precisa trilhar em 2023, dentro dessa relação nova que se estabelece.

Foto tirada por governadores no dia da criação do consórcio, em Salvador, em julho de 2019  - Fernando Vivas/Governo da Bahia - Fernando Vivas/Governo da Bahia
Foto tirada por governadores no dia da criação do consórcio, em Salvador, em julho de 2019
Imagem: Fernando Vivas/Governo da Bahia

Tratamento do governo federal ao Nordeste

O Nordeste não teve a devida atenção exatamente pela posição política que adotou em 2018 —e ratificou em 2022. O Nordeste teve dificuldades. A Paraíba, por exemplo, mesmo com a nota "A" do Tesouro Nacional, com uma gestão fiscal e financeira estável, não conseguiu empréstimos com entidades financeiras nacionais. Não conseguimos uma assinatura a Caixa Econômica. Ao mesmo tempo, conseguimos com o Banco Mundial, com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que têm até nível de exigência maior.

Assinamos quatro empréstimos internacionais, e nem um único com a Caixa porque sempre se criavam dificuldades. Definitivamente não houve, por parte do governo federal, interesse em uma relação minimamente republicana com o Nordeste.

Ministérios sem verbas

Com o orçamento secreto, os ministérios praticamente ficaram sem investimentos. A gente procurava e sempre perguntavam se tínhamos emenda para colocar e fazer o projeto. A capacidade do governo federal ficou limitada. Tanto que você não teve nenhum grande programa de investimento, de habitação, de infraestrutura, de desenvolvimento social. Por isso, nossas idas a Brasília diminuíram significativamente porque não havia apoio para os projetos.

Encontro com Lula pós-eleição

Tivemos uma reunião com o presidente Lula, e ele já agendou outra para janeiro com todos os governadores do Brasil. Especialmente no Nordeste, tivemos uma reunião na qual colocamos expectativas que temos da gestão dos próprios órgãos regionais: Banco do Nordeste, Chesf, Codevasf, Sudene. Eles precisam estar definitivamente afinados com os estados nordestinos.

Mais contato com Lula do que com Bolsonaro?

Sem dúvida, nesse curto período já tivemos mais oportunidades de conversar com o presidente Lula, ele nos ouviu [mais que Bolsonaro em quatro anos]. Até durante o período de campanha tivemos reuniões por duas vezes. E já agora depois das eleições essa audiência. Isso ocorre porque sabemos da necessidade de se ter investimentos que mantenham a geração de emprego e renda.

Falta de recursos

Sabemos que o governo terá dificuldade pela insuficiência do orçamento da União, e sugerimos o uso de linhas de financiamento com os bancos estatais, que têm um rito de aprovação muito mais rápido. Assim os estados poderiam, dentro das limitações, acessar a créditos em 2023. E levar em consideração usar o banco do BRICS [grupo econômico composto por cinco países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], que é coordenado por um brasileiro.

Eu defendo também que o Banco do Nordeste use parte do seu fundo institucional de desenvolvimento para empréstimos aos estados, já que hoje só financia empresas privadas ou no máximo empresas públicas. Demos a proposta de que pelo menos 30% seja destinado aos estados para investimentos, o que daria em torno de R$ 15 bilhões.

Que Nordeste Lula encontrará?

Existem logicamente avanços significativos da região. Ela não pode ser vista hoje como aquela de 50 anos atrás. Geramos uma riqueza muito grande. Temos capacidade de energias renováveis, tanto solar como eólica, que poderão ser 75% geradas aqui. E temos uma perspectiva muito grande do novo combustível, o hidrogênio verde; e o Nordeste estará credenciado a produzir. E precisamos explorar mais a localização privilegiada. No dia que Europa e EUA entenderem que é mais perto entrar pelo Brasil pelo Nordeste, vamos ter condição de mais avanços, mais turismo.

Expectativa para o país em 2023

São as melhores possíveis para que a gente possa restabelecer relações republicanas entre estados e governo federal; que a visão sobre políticas públicas de inclusão retomem e levem em conta a insegurança alimentar que ainda reina: são 33 milhões de pessoas que passam fome, que precisam ter atenção de todos os governos, mas especialmente federal.