AL: Líderes presos do PCC mandavam cartas por mulheres com ordem para matar

A Polícia Civil de Alagoas identificou dois líderes ligados ao PCC que estavam enviando cartas por meio das mulheres que faziam visitas íntimas para dar ordens a membros do grupo, como para praticar assassinatos na disputa por territórios do tráfico de drogas na Grande Maceió.
Nesta terça-feira (21), a operação Hermes tentou cumprir 84 mandados expedidos pela 17ª Vara Criminal da Capital, sendo 43 de prisão e 41 de busca e apreensão. Ao todo, 25 pessoas foram presas até 21h30 desta terça, todos contra suspeitos de integrarem o grupo.
Toda a apuração começou após cartas serem interceptadas pela polícia penal em dois presídios: um em Girau do Ponciano (AL), outro em Palmares (PE). A partir daí, a polícia foi mapeando a ação da organização em uma investigação que durou seis meses, até chegar aos nomes e a deflagração da operação foi batizada como Hermes em referência ao Deus mensageiro da mitologia grega.
A coluna teve acesso a algumas dessas cartas enviadas por mulheres de um dos líderes. Foi com a ajuda delas que a polícia conseguiu apontar a autoria de dois assassinatos recentes na cidade de Rio Largo, vizinha a Maceió. Outros casos ainda estão sendo investigados e têm participantes da organização como suspeitos.
Em uma das cartas, segundo a polícia, há um recado claro para um integrante matar um desafeto em Rio Largo, cidade em que o grupo estaria tentando expandir suas ações criminosas.
Manda um salve no "BABU" [membro do grupo com atuação em Rio Largo) e vê se pega o "BEIRA RIO". Ele tá ligado quem é.
Trecho de carta
As cartas trazem vários tipos de recados e orientações a integrantes do grupo. Em um trecho de uma outra carta, o líder preso em Alagoas envia uma ordem para a compra de armas e munição com o dinheiro arrecadado.
Referente vocês aí, compra confeito [munição de arma de fogo] com força e se pegou a 380 [pistola] com o DUDU, pergunta a ele se vai chegar algum dinheiro do que ele me deve.
Trecho de carta
Outro trecho de uma carta indica o pagamento de uma ajuda mensal a familiares de pessoas do grupo que são presas.
Referente aos caras que tá rodando [sendo presos], tem que dá uma força aos caras e tem que dá continuidade aquela visão que eu passei, pra tá pegando 20 ou 25 reais por semana pra tá ajudando os caras que estão guardados. Mande aquele confirma de 150 reais que eu mandei. Você guarda a data e o nome de quem fez o PIX.
Trecho de carta

Estrutura identificada
Segundo o delegado Igor Diego Costa, chefe da Draco (Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), as cartas foram decisivas na investigação e identificação dos integrantes do grupo.
Através delas identificamos diversas pessoas e demonstramos [na Justiça] toda estrutura através dos líderes, que são tidos como os mais perigosos do grupo. E eles tinham diversos gerentes, que realizavam toda a cadeia do tráfico de drogas, com cuidado desde a logística aos pagamentos.
Igor Diego
Segundo as investigações, o grupo conseguia movimentar pelo menos R$ 150 mil por mês, mas o valor pode ser maior pelas operações não mapeadas.
"Esse é o valor que a gente conseguiu identificar e comprovar com transações financeiras. Eles recebiam os valores em espécie, em decorrência da venda da droga, e procuravam uma casa lotérica para fazer depósitos sem nome. Esses valores caíam nas contas das pessoas que fazem a arrecadação do tráfico", explica.
O próximo passo é descapitalizar a organização criminosa. Na operação, alguns celulares foram apreendidos dentro das celas de presos, e serão materiais importantes para darmos continuidade às investigações.
Igor Diego

Grupo tentava expandir
O grupo desarticulado atuava no bairro do Bom Parto, periferia de Maceió, e lutava para expandir sua atuação para a cidade vizinha de Rio Largo.
Eles também mantinham rivalidade com integrantes do bairro vizinho do Vergel do Lago, onde o tráfico é comandado pelo grupo rival, o CV (Comando Vermelho).
"Alguns homicídios nessa área estão relacionados a essa disputa no bairro por territórios. A gente espera, com essa operação, que essas localidades tenham alguma paz com as prisões", cita o delegado Gustavo Henrique Barros, chefe da Inteligência da SSP (Secretaria de Segurança Pública) de Alagoas.
Além disso, ele diz que o grupo tinha ramificações em outros municípios do interior, onde estariam fornecedores de drogas.
Gustavo conta que, entre os 43 alvos desta terça-feira, 14 eram mulheres, o que demonstra uma maior atuação delas na cadeia do crime organizado.
A participação de mulheres nessas organizações cada vez mais aumenta, justificado principalmente pelo sujeito masculino [chefe da organização] ser preso. Ele precisa de pessoas de sua confiança para articular e gerenciar as operações criminosas, e normalmente isso recai sobre esposas, companheiras e irmãs.
Gustavo Henrique
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