Carlos Madeiro

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Reportagem

Ponte de R$ 204 milhões fica pronta, mas segue fechada por falta de acessos

Construída sobre o rio Araguaia, a ponte que liga os estados de Tocantins e do Pará está com a estrutura pronta desde o ano passado, mas não está em uso porque somente agora os acessos serão feitos. Para isso, está sendo finalizado o processo de desapropriação dos terrenos necessários.

Segundo o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), a ponte custou R$ 204,2 milhões. Já o investimento previsto para fazer os acessos é de R$ 28,6 milhões. A previsão para finalização da obra, que inicialmente era em setembro de 2022, pulou para o segundo semestre deste ano, sem mês especificado.

A ponte de 1,7 km liga Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA) com acesso pela BR-153 e, quando liberada, vai facilitar, por exemplo, a escoação da produção do agronegócio da região. A expectativa é que a obra funcionando beneficie cerca de 1,5 milhão de pessoas.

"Cada dia que passa, aumenta o prejuízo de comerciantes, trabalhadores e estudantes, que precisam fazer a travessia de balsa. Isso nos gera grande frustação", diz o prefeito de Xambioá, Mayck Câmara (Republicanos).

Fila de caminhões para pegar balsa no rio Araguaia entre Tocantins e Pará
Fila de caminhões para pegar balsa no rio Araguaia entre Tocantins e Pará Imagem: Roni Moreira/Agência Pará

Empresas diferentes

O Dnit explicou que a ponte foi erguida por um consórcio, e os acessos estão sendo feitos por outra. Atualmente, informou o DNIT à coluna que a ponte "está com 95% dos serviços concluídos",

Ainda em agosto de 2024, o Dnit divulgou nota informando que a estrutura da ponte estava concluída, faltando apenas detalhes como pavimentação, sinalização e iluminação. "Ela ganhará trafegabilidade já em novembro de 2024", disse o órgão, em mais uma previsão descumprida.

Os acessos à ponte, diz o Dnit, terão 2,1 km. Desses, 310 metros estão no lado paraense, e 1,7 km no Tocantins. "A obra está com os projetos hidrológico e geoecológico em fase de aprovação. A previsão de entrega é o segundo semestre de 2025", informou o órgão.

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Segundo o prefeito de Xambioá, a desapropriação das áreas já foi negociada entre as partes envolvidas nas duas cidades, faltando apenas um pagamento por parte da União dos valores das indenizações.

Balsa faz travessia entre Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA)
Balsa faz travessia entre Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA) Imagem: Roni Moreira/Agência Pará

Ele afirma que a travessia de balsa demora em torno de 30 a 45 minutos cortando o rio, a depender do nível e correntezas do rio e do fluxo de embarcações. "É uma espera de hora", diz.

Hoje, a travessia na balsa custa de R$ 5,50, para uma bicicleta, a R$ 294 cobrados por uma carreta de 10 eixos carregada. Um automóvel de passeio custa R$ 25.

A nossa região tem um agronegócio, uma parte de mineração muito forte. A falta da ponte atrapalha o desenvolvimento. A maioria dos trabalhadores da Masterboi, por exemplo, é de cidades vizinhas. Muitas pessoas deixam de vir trabalhar porque não querem atravessar todo dia. Com a ponte, ganha a nossa economia, e o país vai ganhar muito também com a ligação.
Mayck Câmara

Cronograma e promessas

O projeto da ponte é de 2017, lançado ainda na gestão do então presidente Michel Temer (MDB), que assinou o contrato da obra em visita a Xambioá em setembro daquele ano. "De todas as pontes que eu construí, eu levo daqui a sensação que a ponte mais importante que eu vou construir", disse.

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A ordem de serviço da obra foi assinada com festa pelo Dnit em abril de 2020, com previsão de entrega para setembro de 2022. A obra, porém, atrasou no governo do presidente Jair Bolsonaro, que terminou sem concluir.

Com a chegada do presidente Lula, a obra entrou no novo PAC. A ponte tem uma plataforma de 12 metros de largura de pista e acostamento e calçadas com 1,5m de largura de cada lado.

Com a ponte, o DNIT afirma que haverá uma integração multimodal com a ferrovia Norte-Sul e com a hidrovia Tocantins-Araguaia, "reduzindo custos e contribuindo para o desenvolvimento dos dois estados."

14.set.2017 - Autoridades, entre elas Michel Temer, assinam projeto de ponte sobre o rio Araguaia
14.set.2017 - Autoridades, entre elas Michel Temer, assinam projeto de ponte sobre o rio Araguaia Imagem: Beto Barata/Presidência da República

Erro de projeto, diz especialista

Para o perito Marcelo Daniel Melo, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias em Engenharia em Alagoas, o projeto dessa ponte "começou de uma forma errada."

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Quando você vai realizar uma obra pública, a primeira coisa a fazer é o levantamento da região topográfica, definir as áreas que vão ser ocupadas, com as margens de segurança. Em cima disso, se faz o processo de desapropriação."

Ele diz que a desapropriação deve uma ação inicial porque há uma tramitação jurídica que pode demorar, já que os proprietários das áreas podem contestar.

Com a desapropriação e avaliação realizadas, e o depósito do valor feito, mesmo com uma contestação o juiz já dá imissão de posse, e aí as obras podem ser iniciadas. Fizeram a parte da ponte, mas 'esqueceram' dos acessos. Foi um erro original que terminou gerando esse problema. Acredito que não souberam conduzir a coisa.
Marcelo Daniel Melo

O UOL também questionou o Dnit sobre o porquê de a obra da ponte ter começado separada dos acessos, mas o órgão não respondeu.

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